O cenário para Fairgame$, um dos projetos mais ambiciosos da Sony no segmento de jogos como serviço, tornou-se consideravelmente mais sombrio nos últimos dias. Após a saída de Jade Raymond, fundadora do estúdio Haven, agora é o diretor do jogo, Daniel Drapeau, que anuncia sua partida para novos horizontes. Essas movimentações levantaram sérias dúvidas sobre o futuro do título, que já enfrentava silêncio prolongado desde seu anúncio inicial.

Mudanças na liderança do projeto
Daniel Drapeau, que dirigia Fairgame$ desde o início do desenvolvimento, confirmou através do LinkedIn sua nova posição como diretor criativo na Warner Bros. Montréal. A desenvolvedora canadense é conhecida por títulos como Arkham Knights e Batman: Arkham Origins, e rumores indicam que estaria trabalhando em seu próprio jogo como serviço.
Curiosamente, a experiência de Drapeau com Fairgame$ pode se mostrar extremamente valiosa para a Warner Bros. Dado que a Sony tem enfrentado desafios significativos neste segmento, a perda de um diretor com conhecimento íntimo do projeto representa mais um revés para a estratégia de live services da empresa.
O silêncio preocupante sobre Fairgame$
Desde seu trailer de revelação em 2023, Fairgame$ praticamente desapareceu do radar. Suas redes sociais permanecem inativas e o jogo esteve conspicuamente ausente dos recentes eventos e anúncios da PlayStation. Esse vácuo de informações sempre foi um mau sinal na indústria de games, mas a situação parece ter se agravado com as saídas de key figures do projeto.

Em defesa do projeto, o jornalista Jeff Grubb, da Giant Bomb, afirmou no início deste ano que Fairgame$ ainda estava em desenvolvimento, mas passava por significativas reformulações. Segundo suas informações, o jogo dificilmente chegaria ao mercado antes de 2026 – e isso se a Sony ainda considerasse o projeto viável após todos os contratempos.
Os desafios da Sony com jogos como serviço
O contexto mais amplo não é particularmente favorável para a Sony. Em agosto, o CFO da companhia, Lin Tao, reconheceu publicamente os problemas que a empresa enfrentava para entregar os jogos como serviço prometidos. No entanto, ele manteve o compromisso com essa estratégia, destacando o potencial de receita recorrente que esses títulos representam.
Mas será que a Sony está disposta a continuar investindo em um projeto que perdeu tanto sua fundadora quanto seu diretor? A experiência recente com Concord – outro jogo como serviço da PlayStation que teve performance abaixo do esperado – certamente deixou a empresa mais cautelosa com novos investimentos nesse segmento.
Fairgame$ se propunha a ser um jogo futurista em terceira pessoa onde jogadores participariam de assaltos elaborados, precisando não apenas enfrentar os desafios ambientais, mas também competir com outras equipes pelos tesouros de milionários excêntricos. A premissa era interessante, mas o caminho desde a concepção até a realização parece ter sido mais tortuoso do que o esperado.
Fontes: Eurogamer | Adrenaline
O impacto das saídas no desenvolvimento
A perda simultânea de Jade Raymond e Daniel Drapeau não é apenas uma questão de substituir nomes em um organograma. Estamos falando de duas figuras centrais na visão criativa e na execução técnica do projeto. Raymond, com sua vasta experiência em franquias como Assassin's Creed, trouxe não apenas credibilidade, mas também uma compreensão profunda do que funciona (e o que não funciona) em jogos de grande escala.
Drapeau, por sua vez, estava imerso nos detalhes do dia a dia do desenvolvimento. Sua partida significa que alguém terá que assumir o comando sem o mesmo nível de familiaridade com as complexidades específicas do jogo. Na minha experiência acompanhando estúdios, essa transição nunca é simples – especialmente quando o projeto já enfrenta desafios internos.
O que sabemos sobre o estado atual do desenvolvimento
Fontes próximas ao estúdio Haven sugerem que Fairgame$ passou por pelo menos duas grandes reformulações desde seu anúncio inicial. A primeira teria ocorrido em meados de 2024, quando a equipe percebeu que a mecânica central de competição entre equipes não estava tão envolvente quanto esperado.
A segunda – e mais significativa – reformulação teria começado no início de 2025, coincidindo com a saída de Raymond. Nesta fase, o jogo teria sido basicamente reconstruído do zero, com uma nova direção artística e mecânicas de jogo revisadas. O problema? Essas mudanças radicais consumiram tempo e recursos preciosos, justamente quando a Sony começava a apertar o cerco em relação aos prazos e orçamentos.
É frustrante observar como projetos ambiciosos podem se perder em ciclos de redesign. Muitas vezes, a busca pela perfeição acaba sabotando a entrega do produto final. Será que esse foi o caso com Fairgame$?
O contexto dos cancelamentos na Sony
Para entender o risco real que Fairgame$ enfrenta, precisamos olhar para o histórico recente da Sony. A empresa cancelou pelo menos 12 jogos como serviço nos últimos dois anos, incluindo projetos de estúdios renomados como Naughty Dog e Insomniac Games.
O padrão é preocupantemente familiar: anúncio entusiasmado, silêncio prolongado, vazamentos sobre problemas de desenvolvimento e, finalmente, o cancelamento discreto. Concord conseguiu escapar desse destino, mas seu desempenho comercial abaixo do esperado certamente tornou a Sony ainda mais cautelosa com investimentos similares.
O que diferencia Fairgame$ nesse cenário? A premissa de assaltos cooperativos competitivos ainda é relativamente única no mercado, mas será que isso basta para justificar o investimento contínuo? A Sony deve estar se fazendo exatamente essa pergunta neste momento.
As possibilidades que restam para Fairgame$
Apesar do cenário sombrio, ainda existem caminhos possíveis para o jogo. A Sony poderia optar por reduzir drasticamente o escopo do projeto, transformando-o em uma experiência mais contida e focada. Em vez de um jogo como serviço ambicioso, talvez uma campanha cooperativa mais tradicional com elementos de live service.
Outra possibilidade – embora remota – seria o reposicionamento completo do jogo. E se, em vez de um título premium, Fairgame$ se tornasse um jogo free-to-play? Essa estratégia funcionou para títulos como Warframe e Destiny 2, mas exigiria uma reformulação completa do modelo de negócios.
O que me surpreende é que, apesar de todos os problemas, a Sony ainda não oficializou o cancelamento. Isso pode significar que ainda há esperança – ou simplesmente que a empresa está avaliando as opções com cuidado antes de tomar uma decisão final.
Fontes adicionais: Giant Bomb | Bloomberg
Com informações do: Adrenaline