A Larian Studios, estúdio por trás do aclamado Baldur's Gate 3, está de volta aos seus próprios domínios. E para quem já estava se perguntando qual seria a fórmula do próximo capítulo da série Divinity, a resposta chegou de forma clara e direta: será um RPG de turnos, seguindo a tradição que consagrou a desenvolvedora.
Isso mesmo. Após o sucesso estrondoso de Baldur's Gate 3, que levou a mecânica de turnos baseada em D&D a um novo patamar de popularidade, era natural que alguns fãs ficassem curiosos. A Larian iria mudar de rumo? Exploraria um gênero diferente? A confirmação veio para acabar com qualquer especulação. O próximo jogo da franquia Divinity manterá o combate estratégico por turnos que é, hoje, uma verdadeira assinatura do estúdio.
Uma Herança que Deu Certo
Para entender a decisão, basta olhar para o histórico. Divinity: Original Sin (2014) e sua sequência, Divinity: Original Sin 2 (2017), foram jogos que praticamente redefiniram o que era possível em um RPG tático moderno. Eles ofereciam uma liberdade absurda, sistemas de combate profundos onde o ambiente era uma arma, e histórias que se adaptavam às escolhas do jogador de maneiras impressionantes.
Foi essa expertise, refinada ao longo de anos na série Divinity, que deu à Larian a base sólida para assumir a gigantesca responsabilidade de reviver Baldur's Gate. O sucesso não foi um acidente; foi a aplicação de uma fórmula já testada e aprovada em um universo ainda mais vasto. Agora, parece que o estúdio quer voltar para casa, mas trazendo consigo todas as lições aprendidas nessa jornada épica.
O que Podemos Esperar do Novo Divinity?
A confirmação do combate por turnos é o primeiro grande pilar, mas abre mais perguntas do que respostas. Que tipo de mundo a Larian vai construir desta vez? O sistema de Original Sin 2, com sua interação elemental entre fogo, água, veneno e eletricidade, é considerado por muitos um dos melhores já feitos. Será que veremos uma evolução ainda maior desse sistema?
E a narrativa? Uma das maiores forças de Baldur's Gate 3 foi sua capacidade de criar personagens companheiros inesquecíveis e tramas com ramificações genuínas. É quase certo que a Larian aplicará essa sensibilidade narrativa aprimorada ao seu próprio universo. O tom de Divinity sempre teve um humor peculiar e uma certa leveza, mesmo em meio a temas sérios. Será que manterão essa identidade?
Em minha opinião, o maior desafio será superar as expectativas astronômicas. Baldur's Gate 3 não foi apenas um sucesso; foi um fenômeno cultural que elevou o padrão para todo o gênero. Os fãs vão comparar, é inevitável. A boa notícia é que a Larian não está começando do zero. Eles estão voltando para um universo que eles mesmos criaram, com uma equipe que agora tem a experiência de ter feito um dos RPGs mais premiados da história.
O Futuro dos RPGs da Larian
Essa movimentação também nos faz pensar no panorama mais amplo. A Larian claramente encontrou sua vocação nos RPGs profundos e táticos. A decisão de manter o modelo por turnos no próximo Divinity é um sinal de confiança. É como se dissessem: "Esta é a nossa linguagem, e é com ela que contamos as melhores histórias".
É um alívio, sinceramente. Em uma indústria que às vezes corre atrás de tendências, ver um estúdio abraçar sua identidade é refrescante. Eles poderiam ter tentado um action-RPG para atrair um público mais amplo, mas escolheram dobrar a aposta no que fazem de melhor. Isso promete.
Enquanto aguardamos mais detalhes – e acredite, a espera vai ser longa –, resta especular e revisitar os jogos antigos. A jornada de Divinity, desde os primeiros títulos em tempo real até a maestria tática de Original Sin 2, mostra uma evolução constante. O próximo passo, com o peso da experiência de Baldur's Gate 3 nas costas, tem tudo para ser algo verdadeiramente especial. O que você acha? O que mais gostaria de ver no retorno da série?
Mas vamos além da confirmação óbvia. O que realmente significa, na prática, a Larian voltar ao universo de Divinity com a bagagem de Baldur's Gate 3? Não se trata apenas de "manter o combate por turnos". É sobre a maturação de uma filosofia de design. Em Baldur's Gate 3, a Larian dominou a arte da narrativa ambiental – cada canto de um mapa contava uma história, cada objeto insignificante podia ser a chave para um quebra-cabeça ou o gatilho para um diálogo único. É quase certo que veremos esse nível de densidade e cuidado aplicado ao mundo de Divinity, que sempre foi rico em lore, mas talvez não com essa precisão cirúrgica na integração entre espaço e história.
Lembro-me de, em Original Sin 2, passar horas combinando habilidades elementais de forma quase experimental, descobrindo sinergias que nem os próprios desenvolvedores pareciam ter previsto. Era glorioso. Com a engine e as ferramentas ampliadas para suportar a complexidade de Baldur's Gate, imagine o potencial para um sistema de interação ambiental ainda mais caótico, mais reativo, mais... vivo. Será que poderemos congelar um rio para criar uma ponte, ou usar um raio para eletrocutar uma poça de sangue? A base está lá, e a Larian agora tem o know-how para levá-la ao extremo.
O Dilema da Identidade: Humor Divinity vs. Seriedade de Baldur's Gate
Aqui está um ponto fascinante, e talvez o mais delicado para os escritores da Larian. O tom de Divinity sempre foi distintamente irreverente. Era um mundo onde você podia falar com animais (que tinham personalidades hilárias), onde quests envolviam debates filosóficos entre esqueletos bêbados, e o humor absurdo era tempero constante. Baldur's Gate 3, por outro lado, embora tivesse seus momentos de leveza, navegava em águas narrativas mais sombrias e epicamente sérias.
Qual tom prevalecerá? É um desafio enorme. Simplesmente transplantar a seriedade épica de Faerûn para o mundo de Divinity poderia apagar o que torna a série única. Mas, por outro lado, ignorar as lições de construção de personagens profundos e arcos emocionais complexos aprendidos com Astarion, Shadowheart e Lae'zel seria um desperdício. A aposta mais segura? Um equilíbrio. Manter o humor peculiar e a sensação de aventura despreocupada na superfície, mas permitir que, nas camadas mais profundas da história e dos personagens companheiros, residam dramas e conflitos com o mesmo peso emocional que conquistou milhões em Baldur's Gate 3.
Afinal, quem disse que um jogo com um tom mais leve não pode fazer você chorar ou refletir profundamente? A Larian tem a chance de provar isso.
Além do Combate: A Evolução dos Sistemas de RPG
O combate por turnos é a espinha dorsal, mas um RPG da Larian vive e morre pela sua liberdade sistêmica. Em Baldur's Gate 3, a sensação de que o jogo "improvisava" junto com o jogador era palpável. Se você pensava em uma solução maluca para um problema, há uma grande chance de que ela funcionasse. Isso veio de uma combinação de design de regras robusto (o sistema D&D 5e) e uma ferramenta de desenvolvimento poderosa.
O novo Divinity não terá a licença de D&D como base. Isso é uma limitação? Ou na verdade é uma libertação? Sem a necessidade de se ater às regras de um manual de terceiros, a Larian tem carta branca para inovar radicalmente em seus sistemas de progressão de personagem, habilidades e interação com o mundo. Podemos ver o retorno de um sistema de atributos e perícias mais parecido com o de Original Sin, mas radicalmente expandido. Talvez a divisão clássica entre "Força" e "Inteligência" dê lugar a algo mais orgânico, que influencie não apenas o combate, mas também as soluções narrativas e a exploração.
E os diálogos? O sistema de rolagem de dados para persuasão, intimidação ou percepção em BG3 foi brilhante. Como isso será traduzido para um universo sem dados de 20 faces? A Larian pode criar seu próprio sistema de resolução de conflitos sociais, talvez baseado em recursos, reputação ou nas habilidades específicas que seu personagem desenvolveu. As possibilidades são infinitas, e é aí que mora a verdadeira emoção para os fãs de RPG profundo.
Outro aspecto crucial é o multiplayer. A cooperação em Divinity: Original Sin 2 era revolucionária, com jogadores podendo literalmente seguir caminhos narrativos diferentes e até entrar em conflito entre si. Baldur's Gate 3 suavizou um pouco essa aresta, focando em uma experiência cooperativa mais harmoniosa. Será que o novo título buscará um meio-termo? Ou irá abraçar novamente o caos e a potencial discórdia entre os jogadores como uma feature, e não um bug?
O Legado de Baldur's Gate 3: Uma Espada de Dois Gumes
Não dá para fugir disso. O sucesso de Baldur's Gate 3 criou um tipo de expectativa que poucos estúdios na história enfrentaram. Tudo o que a Larian fizer daqui para frente será comparado àquele jogo. Isso pode ser paralisante. Mas, conversando com outros fãs, tenho uma sensação diferente: a de que há também uma enorme boa vontade.
A comunidade entende que BG3 foi um projeto único, um alinhamento cósmico de licença icônica, estúdio no auge e timing perfeito. Ninguém espera, realisticamente, que o próximo Divinity seja "outro Baldur's Gate 3". O que esperamos é que seja o melhor Divinity possível, com a lição de casa feita. Esperamos a mesma atenção obsessiva aos detalhes, a mesma qualidade de dublagem e performance facial, o mesmo respeito pela inteligência do jogador.
E sabe de uma coisa? A pressão pode ser justamente o combustível para a inovação. Quando você já alcançou o topo da montanha com um projeto, voltar para a base para começar outra escalada permite olhar o caminho com novos olhos. Você conhece os atalhos, sabe onde estão os perigos, e pode se concentrar em explorar rotas nunca antes tentadas. A Larian não está competindo com ninguém agora; está competindo com sua própria legenda. E se há uma equipe que pode usar isso a seu favor, é essa.
Enquanto os anos de desenvolvimento passam – e serão muitos –, a especulação saudável é parte da diversão. Que raças jogáveis teremos? Os Elficos e Anões clássicos, ou criaturas mais únicas do bestiário de Divinity? O sistema de crafting e alquimia, sempre robusto na série, será integrado de forma mais profunda à narrativa? A sensação de exploração em mundo aberto, tão marcante em Fort Joy e Reaper's Coast, será ampliada para algo ainda mais contínuo e sem costuras?
Uma coisa é certa: o cenário dos RPGs está diferente. A Larian, com sua confirmação simples e direta, não está apenas anunciando um jogo. Está reafirmando um compromisso com um tipo específico de experiência – densa, tática, narrativamente rica e, acima de tudo, feita com um cuidado artesanal que se tornou raro. O retorno a Divinity não é um passo para trás; é um movimento estratégico para consolidar um império. E nós, jogadores, seremos os beneficiários dessa jornada de volta às origens, porém com os olhos firmes no futuro.
Com informações do: IGN Brasil










