A franquia Dead Island tem uma história de altos e baixos que poderia rivalizar com a própria trama de seus zumbis. Após um lançamento inicial promissor em 2011, a sequência, Dead Island 2, passou por um desenvolvimento tão conturbado e cheio de mudanças de estúdio que muitos fãs duvidaram que ela sequer veria a luz do dia. Agora, com o anúncio de uma janela de lançamento para Dead Island 3, a pergunta que paira no ar é inevitável: a história vai se repetir, ou a desenvolvedora finalmente aprendeu com os erros do passado?
Uma janela de esperança (e um pouco de ceticismo)
A Embracer Group, conglomerado que detém a Deep Silver (publicadora da franquia), finalmente deu um sinal de vida sobre o projeto. Em um relatório financeiro recente, eles confirmaram que Dead Island 3 está oficialmente em desenvolvimento e tem uma janela de lançamento prevista para o primeiro semestre de 2028. Isso coloca o jogo a cerca de quatro anos de distância, um horizonte considerável que, em teoria, deveria dar tempo suficiente para um desenvolvimento estável.
Mas é aí que o ceticismo naturalmente surge. Dead Island 2 foi anunciado em 2014 e só chegou às lojas em 2023. Nesse período, o projeto passou pelas mãos de pelo menos três estúdios diferentes (Yager Development, Sumo Digital e, finalmente, a Dambuster Studios) e foi praticamente reiniciado do zero mais de uma vez. A sensação de "déjà vu" é forte. A promessa atual é que a Dambuster Studios, responsável pelo lançamento do segundo jogo, está agora colocando "toda a força" no terceiro capítulo. A questão é: será que essa continuidade de equipe será suficiente para evitar os fantasmas do passado?
O legado de Dead Island 2: Lições aprendidas ou erros esquecidos?
Para entender o desafio que a Dambuster enfrenta, precisamos olhar para a recepção de Dead Island 2. O jogo foi, em muitos aspectos, uma surpresa agradável. Após anos de silêncio e rumores de cancelamento, ele finalmente chegou com um combate visceral e satisfatório, um sistema de mutilação de zumbis (o FLESH) impressionante e um tom mais descontraído e satírico, ambientado em uma Los Angeles apocalíptica e ensolarada.
No entanto, nem tudo foram flores. Críticas apontaram para uma história considerada fraca e personagens pouco cativantes, além de uma progressão de mundo aberto que podia sentir-se repetitiva. Para muitos fãs da narrativa mais sombria e dramática do primeiro jogo (e do spin-off Dying Light), o tom de comédia pastelão de Dead Island 2 foi uma decepção. Foi divertido esmagar zumbis com uma variedade criativa de armas, mas faltou aquele peso emocional que fez a história do primeiro jogo, com seu famoso trailer reverso, ressoar com tanta força.
Então, o que a Dambuster deve fazer? Dobrar a aposta no humor sangrento e no combate tátil que funcionou? Ou tentar recuperar a seriedade narrativa que parte da base de fãs ainda clama? Encontrar esse equilíbrio será crucial.
O que podemos esperar para 2028?
Com uma data tão distante, é claro que detalhes concretos são escassos. O anúncio serve mais como um compromisso público da Embracer com a franquia do que uma revelação propriamente dita. No entanto, algumas coisas podem ser inferidas. O fato de a Dambuster estar liderando o projeto desde o início é um sinal positivo de estabilidade. A equipe já conhece o motor (a versão modificada da Unreal Engine 4 usada no segundo jogo) e a "alma" do que funcionou no título anterior.
Além disso, quatro anos é um ciclo de desenvolvimento robusto para um jogo AAA moderno. Isso deveria permitir não apenas o polimento técnico, mas também um aprofundamento nas mecânicas e, esperançosamente, na narrativa. Será que veremos um mundo verdadeiramente aberto e persistente, algo que Dead Island 2 evitou com seus mapas em "sandbox" separados? A cooperação online, marca registrada da série, será expandida?
O mercado de jogos de zumbis também mudou drasticamente desde 2011. Hoje, concorre com experiências narrativas intensas como The Last of Us, sandboxes de sobrevivência complexas como Project Zomboid, e os próprios títulos da irmã Dying Light. Dead Island 3 precisará encontrar seu próprio espaço nesse cenário lotado. Talvez a resposta esteja justamente em abraçar completamente sua identidade única: o combate brutal e físico, o humor negro e a fantasia de sobreviver a um apocalipse em um cenário paradisíaco (ou o que restou dele).
Enquanto isso, os fãs ficam na expectativa. A espera por Dead Island 2 foi longa e dolorosa, mas no final, resultou em um jogo competente e divertido, se não revolucionário. A promessa de um terceiro capítulo, com uma equipe consolidada e um cronograma (aparentemente) mais claro, acende uma chama de otimismo. Resta saber se essa chama vai se tornar um farol de esperança ou se será apagada pelos ventos turbulentos do desenvolvimento de jogos. A única certeza é que, em Los Angeles ou em qualquer novo local que escolherem, os zumbis estarão esperando.
E falando em cenário, essa é uma das grandes interrogações. Dead Island 2 apostou em uma Los Angeles colorida e ensolarada, um contraste deliberado com a escuridão típica do gênero. Mas será que a fórmula "apocalipse em paraíso" ainda tem gás para um terceiro ato? Alguns fãs especulam nas redes sociais sobre locais como o Havaí, o Caribe ou até uma cidade costeira brasileira. A verdade é que o ambiente precisa ser mais do que um pano de fundo bonito; ele deve integrar-se organicamente ao combate e à progressão, oferecendo oportunidades únicas para a carnificina criativa que é a marca da série.
Aliás, sobre carnificina criativa, o sistema FLESH foi, sem dúvida, a estrela do jogo anterior. Ver um zumbi ser desmembrado com precisão cirúrgica de acordo com o tipo de arma e o local do golpe nunca deixou de ser satisfatório. Mas depois de dezenas de horas, até a novidade mais impressionante pode perder um pouco do brilho. A pergunta que fica é: para onde evoluir? A Dambuster poderia explorar interações mais complexas com o ambiente. Imagine usar cabos de alta tensão caídos para eletrocutar hordas em poças d'água, ou derrubar um poste sobre uma fila de infectados, esmagando-os de formas únicas e horripilantes. A física precisa ser uma aliada da criatividade do jogador, não apenas um visual bacana.
A narrativa: o calcanhar de Aquiles que precisa ser fortalecido
É quase um consenso entre os jogadores: a história de Dead Island 2 foi... bem, meio esquecível, não é mesmo? Os personagens eram caricatos, os motivos para ir do ponto A ao ponto B eram fracos, e a trama principal parecia mais uma desculpa para justificar a próxima área cheia de zumbis para bater. E isso é uma pena, porque o primeiro Dead Island, com todas as suas imperfeições, conseguiu criar momentos de genuína tensão e drama humano em meio ao caos.
Para o terceiro jogo, a equipe de narrativa tem um desafio hercúleo. Como criar uma campanha que respeite o tom mais leve e autoirônico que encontraram no segundo jogo, mas que também entregue personagens com os quais nos importamos e uma trama que nos faça querer descobrir o que vem a seguir? Talvez a resposta esteja em um equilíbrio mais maduro. O humor pode (e deve) permanecer, mas ele pode coexistir com momentos de seriedade. Um companheiro de sobrevivência que faz piadas constantemente pode ter um colapso emocional ao encontrar um ente querido transformado, por exemplo. Esses contrastes dão peso ao mundo.
Outro ponto crucial é a progressão narrativa ligada ao mundo aberto. Em Dead Island 2, muitas missões laterais eram genéricas ("traga 5 itens de tal lugar"). Para 2028, os desenvolvedores têm a chance de criar missões secundárias com mini-narrativas cativantes, que contem histórias menores sobre os sobreviventes daquele mundo, suas perdas e suas pequenas esperanças. São essas histórias que transformam um mapa de jogo em um lugar que sentimos que existe.
A sombra da concorrência e a identidade própria
Não dá para falar do futuro de Dead Island sem olhar para os lados. A Techland, que criou o primeiro jogo, seguiu em frente com a franquia Dying Light, focada em parkour, sobrevivência noturna aterrorizante e uma narrativa mais séria. De certa forma, eles capturaram o espírito narrativo que parte dos fãs sentiu falta em Dead Island 2. Tentar copiar essa fórmula seria um erro fatal. A força de Dead Island sempre foi a sua abordagem direta, visceral e quase "cartunesca" da violência contra zumbis.
O caminho, na minha opinião, é abraçar essa identidade com ainda mais confiança e refiná-la. Em vez de tentar ser um The Last of Us ou um Dying Light, que Dead Island 3 seja o melhor Dead Island possível. Isso significa dobrar a aposta na personalização de armas malucas, na física de combate gratificante e na sensação de poder que vem de dominar uma horda com pura habilidade e ferramentas improvisadas. O jogo não precisa fazer o jogador chorar; ele precisa fazer o jogador dar risada maníaca enquanto espalha o caos de forma criativa.
E a cooperação? Essa é uma peça fundamental. Dead Island 2 tinha um modo cooperativo funcional, mas que poderia ser muito mais integrado. Missões projetadas especificamente para o trabalho em equipe, combos de habilidades entre os personagens jogáveis e um mundo que reage de forma mais dinâmica à presença de múltiplos sobreviventes são evoluições naturais. A sensação de "nós contra o apocalipse" precisa ser fortalecida.
Enfim, a janela de 2028 parece distante, mas no ritmo do desenvolvimento de jogos AAA, ela passa num piscar de olhos. Os próximos anos serão de silêncio, vazamentos controlados e, esperamos, um desenvolvimento estável. A Dambuster Studios carrega nas costas não apenas a expectativa por um novo jogo, mas a missão de provar que a franquia tem um futuro longo e próspero, livre dos traumas de seu passado conturbado. Eles têm a base, têm a experiência e, agora, parecem ter o tempo. O que vão construir com isso é uma das histórias mais interessantes para acompanhar nos próximos anos.
Com informações do: IGN Brasil











