Em meio às tensões geopolíticas entre Estados Unidos e China, a NVIDIA enfrenta um cenário complexo no mercado chinês. O relatório financeiro mais recente da empresa revela uma situação preocupante: nenhuma nova venda de seus aceleradores de IA H20 para o país no último trimestre fiscal, apesar da autorização obtida em julho para retomar as exportações.

O que revelam os números da NVIDIA

O relatório do segundo trimestre fiscal de 2025 da NVIDIA traz dados que surpreenderam muitos analistas. A empresa apenas completou uma encomenda antiga de US$ 650 milhões em aceleradores H20 para um comprador não identificado, mas não registrou novas vendas do produto para o mercado chinês.

Isso é particularmente significativo considerando que, em meados de julho, a NVIDIA havia celebrado a autorização dos EUA para voltar a vender suas GPUs H20 na China. A expectativa era de que as vendas retomassem imediatamente, mas a realidade mostrou-se diferente.

As tensões geopolíticas e a desconfiança chinesa

As razões para essa ausência de novas vendas parecem estar diretamente ligadas ao clima de desconfiança entre os dois países. Em agosto, as autoridades chinesas já questionavam publicamente a segurança das GPUs da NVIDIA, levando a empresa a se defender publicamente.

A NVIDIA precisou declarar que seus componentes H20 não contam com backdoors ou "killswitches" que poderiam representar riscos de segurança. Mas o estrago já estava feito - a desconfiança havia se instalado.

O governo chinês, por sua vez, intensificou sua campanha por tecnologias domésticas, pressionando empresas locais a evitar importações de GPUs americanas. Essa postura não é nova, mas parece estar ganhando força neste momento particularmente tenso das relações sino-americanas.

Mudança de estratégia e o futuro B30A

Rumores no mercado sugerem que a NVIDIA pode estar reconsiderando toda sua estratégia para a China. O nome dos aceleradores H20 pode ter sido "manchado" após todo o imbróglio geopolítico, levando a empresa a considerar encerrar sua produção e partir para um novo modelo: o B30A.

Analistas projetam que os componentes H20 podem continuar ausentes nos relatórios financeiros da NVIDIA no próximo trimestre também. Se esses rumores se confirmarem, representaria uma mudança significativa na abordagem da empresa para um dos seus mercados mais importantes.

Mas a grande questão que permanece é: como as autoridades chinesas receberão uma nova Blackwell modificada? A postura do governo em relação às tecnologias americanas parece estar se tornando cada vez mais cautelosa, senão diretamente resistente.

Enquanto isso, empresas chinesas continuam desenvolvendo alternativas domésticas, e o governo mantém seu discurso de autossuficiência tecnológica. A NVIDIA, por outro lado, precisa encontrar uma maneira de navegar essas águas turbulentas sem perder completamente o acesso a um mercado que representa bilhões em potencial revenue.

O silêncio das vendas no trimestre levanta questões sobre a real eficácia das licenças obtidas pela NVIDIA. Afinal, ter permissão para vender é uma coisa - conseguir que os clientes efetivamente comprem é completamente diferente. As empresas chinesas parecem estar adotando uma postura de "esperar para ver" antes de fazer novos investimentos em tecnologia americana.

Fontes próximas ao mercado de semicondutores na China relatam que muitas empresas estão reconsiderando seus planos de aquisição de GPUs. Em conversas com executivos de tecnologia em Pequim e Xangai, percebe-se um clima de cautela extrema. "Ninguém quer ser pego em uma situação onde investe milhões em hardware que pode se tornar obsoleto ou problemático por decisões políticas", comentou um diretor de TI que preferiu não se identificado.

Reunião entre executivos da NVIDIA e autoridades chinesas

O impacto nas cadeias de suprimentos globais

Esta situação está criando efeitos em cascata além das fronteiras chinesas. Fabricantes que dependiam das vendas para a China estão reavaliando suas projeções de produção, enquanto os preços no mercado secundário de GPUs dispararam. Componentes que antes eram relativamente acessíveis agora estão sendo vendidos com ágio significativo.

O que mais preocupa analistas é o timing dessa crise. A demanda global por capacidade de processamento de IA continua crescendo exponencialmente, e a interrupção no fluxo para um dos maiores mercados do mundo pode criar gargalos significativos. Startups chinesas de IA já relatam dificuldades em expandir suas operações devido à escassez de hardware adequado.

Algumas empresas estão buscando soluções criativas, como aluguel de capacidade de computação em nuvem ou aquisição através de intermediários em outros países asiáticos. Mas essas alternativas trazem custos adicionais e complexidades logísticas que muitas organizações prefeririam evitar.

As respostas técnicas da NVIDIA

Internamente, a NVIDIA não está parada. Engenheiros da empresa trabalham em adaptações mais profundas dos produtos Blackwell para atender tanto às restrições americanas quanto às demandas chinesas. O desafio técnico é considerável: criar chips poderosos o suficiente para competir no mercado, mas dentro dos limites de exportação.

Rumores sugerem que o B30A pode incorporar arquiteturas radicalmente diferentes das atuais, possivelmente usando técnicas de computação heterogênea que combinam diferentes tipos de processadores. Essa abordagem permitiria maximizar o desempenho dentro dos limites de transferência de dados permitidos.

Linha de produção de chips na China

O que poucos discutem é o custo de desenvolvimento dessas soluções customizadas. Cada variação arquitetural requer investimentos massivos em pesquisa e desenvolvimento - recursos que poderiam estar sendo direcionados para inovação em vez de adaptação regulatória. Essa realidade levanta questões sobre como a geopolítica está moldando não apenas o comércio, mas a própria direção da inovação tecnológica.

O cenário competitivo se transforma

Enquanto a NVIDIA navega essas complexidades, empresas chinesas como Huawei, Alibaba e Biren estão acelerando agressivamente o desenvolvimento de suas alternativas. Dados recentes mostram que o investimento em semicondutores domésticos na China cresceu 40% no último ano, com foco específico em GPUs para IA.

Os produtos chineses ainda não alcançaram a paridade técnica com os da NVIDIA, mas a gap está diminuindo rapidamente. A Huawei, em particular, fez progressos significativos com sua linha Ascend, e relatórios internos sugerem que a próxima geração pode chegar a 80% do desempenho das soluções ocidentais equivalentes.

O governo chinês está facilitando enormemente essa transição. Subsídios generosos, acesso preferencial a fundos de pesquisa e pressão regulatória sobre empresas estatais para adotar soluções domésticas estão criando um ecossistema favorável aos fabricantes locais. Para muitas empresas chinesas, comprar nacional está se tornando não apenas uma questão patriótica, mas pragmaticamente vantajoso.

O paradoxo é que essas mesmas empresas ainda prefeririam ter acesso às soluções da NVIDIA, reconhecendo sua superioridade técnica. Um executivo resumiu bem o dilema: "Sabemos que as GPUs chinesas são boas, mas as da NVIDIA são melhores. Preferiríamos comprar deles se pudéssemos confiar que o acesso não será cortado amanhã".

Esta falta de confiança pode ser o maior obstáculo para a NVIDIA recuperar sua posição no mercado chinês. Como construir confiança quando as regras do jogo mudam constantemente e quando ambos os lados veem a tecnologia através das lentes da segurança nacional? A resposta pode definir não apenas o futuro da NVIDIA na China, mas o próprio formato da indústria global de semicondutores.

Com informações do: Adrenaline