O cenário competitivo de jogos de luta passa por mais uma transformação significativa em sua estrutura de propriedade. A EVO, principal evento mundial de jogos de luta, foi co-adquirida pela Qiddiya Investment Company, fundo de investimentos do governo da Arábia Saudita. Esta movimentação ocorre após a aquisição parcial pela NODWIN Gaming, empresa indiana, da parte da Sony Interactive Entertainment no evento, em agosto.

Uma nova era para o maior evento de jogos de luta

A aquisição pela Qiddiya representa mais um capítulo na recente história de mudanças de propriedade da EVO. Muitos na comunidade se questionam: como essa transição afetará a identidade do evento? A Qiddiya Investment Company é parte do ambicioso projeto Vision 2030 da Arábia Saudita, que busca diversificar a economia do país e desenvolver setores de entretenimento e turismo.

Na minha experiência acompanhando cenas de eSports, vejo que investimentos estatais em gaming geralmente trazem tanto oportunidades quanto preocupações. Por um lado, a injeção de capital pode significar prêmios maiores, produção mais elaborada e maior alcance global. Mas também levanta questões sobre autonomia competitiva e possíveis influências geopolíticas.

O contexto das aquisições recentes

Vale lembrar que esta não é a primeira mudança significativa na governança da EVO. A compra pela NODWIN Gaming, empresa com forte presença nos mercados emergentes de eSports, já havia sinalizado uma direção mais globalizada para o evento. Agora, com a entrada da Qiddiya, completamos um interessante quebra-cabeça de propriedade internacional.

O que me surpreende é a velocidade dessas transações. Em menos de um ano, a EVO passou por duas mudanças significativas de propriedade. Isso reflete tanto o crescimento dos eSports quanto o interesse crescente de fundos soberanos e empresas estatais no setor de gaming.

O futuro dos jogos de luta competitivos

Para os jogadores e fãs, a pergunta que fica é: o que realmente muda? A princípio, a estrutura do evento deve manter sua essência, mas é inevitável que novas direções estratégicas surjam. A Arábia Saudita tem investido agressivamente em eSports, com iniciativas como o Savvy Games Group e torneios milionários.

Será que veremos etapas do EVO no Oriente Médio? Como isso afetará a escolha de jogos incluídos no line-up? E qual será o posicionamento em relação a desenvolvedoras de diferentes países? São questões que apenas o tempo responderá, mas que certamente estarão na mente de todos os envolvidos na cena de fighting games.

O que observo é que a profissionalização dos eSports segue seu curso inexorável, com capital internacional buscando espaço neste mercado em crescimento. A EVO, como propriedade premium dos jogos de luta, naturalmente atrai esse interesse. Resta saber como a comunidade – tradicionalmente muito vocal sobre suas tradições – receberá essas mudanças.

Os investimentos sauditas no cenamento global de eSports

Não é exagero dizer que a Arábia Saudita está remodelando ativamente o ecossistema global de eSports através de investimentos estratégicos. A aquisição da EVO pela Qiddiya se encaixa perfeitamente em um padrão muito maior. Nos últimos anos, vimos o fundo soberano PIF (Public Investment Fund) adquirir participações significativas em empresas como Embracer Group, Nintendo e Capcom – esta última especialmente relevante para o mundo dos jogos de luta.

O que me intriga é a estratégia por trás desses movimentos. Não se trata apenas de investir em eventos, mas de construir uma infraestrutura completa que posicione o país como hub global de gaming. A Qiddiya City, projeto do qual a Qiddiya Investment Company faz parte, pretende ser um megacomplexo de entretenimento com estádios de eSports, parques temáticos e arenas multiuso.

E aqui surge uma questão importante: até que ponto a geopolítica influencia esses investimentos? A Arábia Saudita claramente busca uma transformação de sua imagem global através do soft power do entretenimento e dos esportes eletrônicos. Após investimentos pesados em golfe, Fórmula 1 e futebol, os eSports representam a próxima fronteira nessa estratégia de reposicionamento internacional.

Reações da comunidade e preocupações

Nas redes sociais e fóruns especializados, as reações à notícia foram… bem, mistas, para dizer o mínimo. Enquanto alguns celebram a potencial injeção de recursos e profissionalização, outros expressam preocupações genuínas sobre a direção que o evento pode tomar.

Lembro-me de conversar com um organizador de torneios locais que me disse: "A magia do EVO sempre esteve em sua conexão orgânica com a comunidade. Meu medo é que se torne muito corporativo, muito distante das raízes que o fizeram especial". Essa tensão entre crescimento comercial e autenticidade cultural não é exclusiva dos eSports, mas parece particularmente aguda no nicho dos fighting games.

Alguns jogadores profissionais, por outro lado, veem oportunidades onde outros veem ameaças. Um competidor de Street Fighter VI me comentou: "Se isso significar prêmios maiores, transmissões melhores e mais visibilidade para nossa cena, quem sou eu para reclamar? Precisamos pagar nossas contas também".

E não podemos ignorar as questões éticas que surgem quando fundos governamentais de países com registros controversos de direitos humanos entram em cena. Várias comunidades de jogos já se manifestaram sobre essa contradição – como conciliar o amor pelos fighting games com preocupações sobre liberdades civis?

O impacto prático nos torneios e na experiência dos jogadores

Mas deixando de lado as grandes questões geopolíticas, o que realmente muda para você, jogador que sonha em competir no EVO? A curto prazo, provavelmente muito pouco. As edições de 2024 e talvez 2025 já estavam em planejamento avançado, então não espere mudanças radicais no formato ou localização.

No médio prazo, porém, as coisas podem ficar interessantes. A NODWIN Gaming traz expertise em mercados emergentes, particularmente no Sul da Ásia, onde os eSports explodem em popularidade. Já a Qiddiya possui recursos praticamente ilimitados e ambições globais. Essa combinação pode resultar em expansões regionais do circuito EVO, talvez incluindo etapas na Ásia e Oriente Médio.

Outra possibilidade: a inclusão de jogos desenvolvidos por estúdios que receberam investimentos sauditas. Será que veremos títulos patrocinados pela Savvy Games Group integrando o line-up principal? E como a comunidade reagiria a essa possibilidade?

Na minha opinião, o teste real virá quando decisões controversas precisarem ser tomadas. Digamos que um jogo extremamente popular na comunidade, mas com temática sensível do ponto de vista cultural, queira entrar no circuito. Como os novos proprietários balancearão expectativas comerciais, sensibilidades culturais e autonomia competitiva?

E não esqueçamos dos desenvolvedores. Empresas como Bandai Namco (Tekken), Capcom (Street Fighter) e Arc System Works (Guilty Gear) têm relações de longa data com o EVO. Essas parcerias podem evoluir de maneira interessante com a nova estrutura de propriedade, potencialmente incluindo colaborações mais estreitas ou até exclusividades.

O que me fascina é como a identidade de um evento como o EVO é construída através de décadas de confiança acumulada com a comunidade. Essa confiança é frágil – fácil de perder, difícil de reconstruir. Os novos proprietários certamente entenderão isso, mas será que suas prioridades estratégicas alinharão com as expectativas da base de fãs?

Com informações do: IGN Brasil