A Square Enix está enfrentando um dos maiores desafios do desenvolvimento moderno de jogos: criar experiências consistentes em hardware radicalmente diferente. Enquanto Final Fantasy VII Remake chegou como exclusivo do PlayStation 4 em 2020, a estratégia da empresa mudou significativamente desde então. Agora, a desenvolvedora japonesa garante que a abordagem multiplataforma não comprometerá a visão criativa da tão aguardada terceira parte da trilogia.

Adaptação multiplataforma sem comprometer a visão

Em entrevista ao Easy Allies, o diretor Naoki Hamaguchi revelou detalhes interessantes sobre como a Square Enix está lidando com o desenvolvimento simultâneo para diferentes plataformas. "O processo de desenvolvimento da terceira parte continua progredindo conforme o planejado anteriormente", afirmou Hamaguchi, destacando que a empresa possui equipes específicas dedicadas exclusivamente às adaptações do jogo para cada plataforma.

Essa estrutura organizacional parece ser a chave para manter a qualidade consistente. Enquanto o PlayStation e PC já receberam as duas primeiras partes, o Xbox Series X|S e o Nintendo Switch 2 só receberão o primeiro jogo em 22 de janeiro de 2026. A Square Enix já confirmou que ambas as plataformas também receberão Rebirth, embora ainda não tenha divulgado datas específicas.

Final Fantasy VII Remake Parte 3 não vai ser prejudicado por postura multiplataforma

Desafios técnicos entre plataformas

Hamaguchi foi surpreendentemente franco sobre os obstáculos que cada plataforma apresenta. O Xbox Series X|S, em particular, apresentou problemas que não existiram no Nintendo Switch 2. As restrições de memória do Series S emergiram como o principal ponto de preocupação - algo que outros desenvolvedores também têm mencionado publicamente.

Já a versão do Switch 2 está sendo desenvolvida pela equipe principal da franquia, o que me parece uma decisão inteligente. O hardware do console híbrido recebeu elogios da equipe, mas exigiu adaptações significativas, especialmente para o modo portátil. Hamaguchi explicou que elementos como pós-processamento e efeitos de neblina tiveram sua qualidade reduzida, mas a iluminação - considerada essencial para a experiência - permaneceu praticamente intacta.

Evolução do gameplay na Parte 3

Talvez a revelação mais interessante seja que a Parte 3 trará mudanças significativas no gameplay. Hamaguchi expressou seu desejo de não simplesmente repetir a mesma experiência que os jogadores tiveram durante as longas horas de Rebirth. Isso sugere que a equipe está consciente da necessidade de evoluir a fórmula, mesmo enquanto lida com as complexidades do desenvolvimento multiplataforma.

O que me impressiona é como a Square Enix está equilibrando consistência técnica com inovação criativa. Desenvolver para quatro plataformas simultaneamente (PlayStation, Xbox, Switch 2 e PC) representa um desafio monumental, especialmente considerando as disparidades técnicas entre elas. A decisão de manter equipes especializadas para cada plataforma parece ser a abordagem mais sensata, mas ainda assim exige uma coordenação extraordinária.

Fonte: Eurogamer

O que muitos fãs podem não perceber é que essa abordagem multiplataforma representa uma mudança fundamental na filosofia de desenvolvimento da Square Enix. Lembro-me de quando a empresa costumava desenvolver exclusivamente para PlayStation, criando jogos que exploravam ao máximo as capacidades de uma única plataforma. Agora, com o mercado de jogos mais fragmentado do que nunca, essa estratégia não é mais sustentável - e a Square Enix parece ter aprendido essa lição.

O impacto do Series S no desenvolvimento

Hamaguchi foi particularmente específico sobre os desafios do Xbox Series S, que tem apenas 10GB de RAM disponível para jogos - significativamente menos que os 13.5GB do Series X. "O Series S nos forçou a repensar como certos assets são carregados e descarregados durante o gameplay," ele explicou. "Não se trata apenas de reduzir texturas, mas de reestruturar como a memória é alocada durante sequências mais intensas."

Essas limitações técnicas estão moldando decisões criativas de maneiras inesperadas. Por exemplo, a equipe precisou desenvolver sistemas de streaming de assets mais eficientes que beneficiam todas as plataformas, não apenas o Series S. É um daqueles casos em que as restrições técnicas acabam impulsionando inovações que beneficiam todo o projeto.

O papel do Nintendo Switch 2 na estratégia

O que me surpreende é como o Switch 2, apesar de ser tecnicamente menos potente que os consoles da nova geração, está recebendo um tratamento especial. A equipe principal está diretamente envolvida na adaptação, o que sugere que a Square Enix vê o console híbrido como uma peça crucial em sua estratégia de expansão de mercado. Hamaguchi mencionou que o modo portátil do Switch 2 apresentou desafios únicos, especialmente em relação ao consumo de bateria durante sessões prolongadas.

"Tivemos que encontrar um equilíbrio entre performance visual e duração da bateria," ele admitiu. "Alguns efeitos visuais que consideramos secundários foram ajustados ou removidos no modo portátil, mas mantivemos intactos aqueles que são fundamentais para a atmosfera do jogo."

Essa atenção aos detalhes específicos de cada plataforma é impressionante. Enquanto algumas desenvolvedoras optam por simplesmente reduzir a resolução e chamar de "versão adaptada", a Square Enix parece estar genuinamente comprometida em entregar experiências otimizadas para cada hardware.

Inovações técnicas que beneficiam todas as plataformas

O desenvolvimento simultâneo para múltiplas plataformas está gerando benefícios técnicos que talvez não existissem em um cenário de exclusividade. A equipe criou um pipeline de desenvolvimento mais flexível, com sistemas de assets que se adaptam automaticamente às capacidades de cada plataforma. Isso significa que, em vez de criar versões completamente separadas, eles desenvolvem uma base comum que é então refinada para cada sistema.

Hamaguchi deu um exemplo interessante: "Nosso sistema de iluminação foi redesenhado para ser mais escalável. No PlayStation 5 e Series X, usamos ray tracing em tempo real, enquanto nas outras plataformas empregamos soluções baseadas em baking que mantêm a qualidade visual sem comprometer o desempenho."

Essa abordagem escalável pode se tornar um padrão para futuros projetos da Square Enix. A empresa está aprendendo a lidar com a complexidade do desenvolvimento multiplataforma sem sacrificar sua identidade visual característica - um equilíbrio que muitas desenvolvedoras japonesas têm dificuldade em alcançar.

O timing também é crucial aqui. Com a Parte 3 ainda em desenvolvimento ativo, as lições aprendidas com as versões do Xbox e Switch 2 podem ser incorporadas diretamente no jogo principal, em vez de serem aplicadas como correções posteriores. Isso cria uma situação única onde o desenvolvimento das versões para outras plataformas está influenciando positivamente a versão principal.

Fonte: GamesRadar

Com informações do: Adrenaline