O mercado de portáteis para emulação de jogos clássicos está mais movimentado do que nunca, com novas opções surgindo quase toda semana. É um cenário onde se destacar exige mais do que apenas um bom hardware. Foi pensando nisso que a Abxylute apresentou o E1, um dispositivo que traz uma proposta interessante para os entusiastas: a possibilidade de rodar dois sistemas operacionais diferentes, Android e Linux, no mesmo aparelho. Essa flexibilidade promete abrir um leque maior de opções para quem quer reviver os clássicos dos videogames.

Portátil na mão de uma pessoa jogando

Enquanto a maioria dos concorrentes opta por um único sistema, geralmente o Android pela sua leveza e vasta biblioteca de aplicativos, a Abxylute decidiu apostar na dualidade. A ideia, segundo a fabricante, é oferecer uma experiência "plug-and-play" com o Linux, ideal para quem quer ligar e jogar sem muitas configurações, enquanto mantém o Android para quem prefere a flexibilidade e a familiaridade do ecossistema Google. Mas como essa troca entre sistemas funciona na prática? A empresa promete que é feita "instantaneamente", embora não tenha detalhado o processo técnico por trás disso. Será um simples reboot ou algo mais sofisticado?

Hardware Focado no Clássico Game Boy Advance

O design e as especificações do Abxylute E1 deixam claro qual é o seu público-alvo: os fãs dos portáteis da era 2000, especialmente o Game Boy Advance. A tela de 3,5 polegadas com resolução 640 x 480 mantém a proporção 4:3, que é a mais adequada para a grande maioria dos jogos retrô, evitando aqueles esticamentos ou barras pretas laterais que podem incomodar. É uma escolha sensata, focada na experiência de jogo autêntica.

Mais ângulos do E1

No coração do dispositivo, temos o processador Rockchip RK3566, com seus quatro núcleos Cortex-A55 e GPU Mali-G52 MP2. É um chipset conhecido nesse nicho, capaz de emular consoles até a geração do PlayStation Portable (PSP) e, claro, o Game Boy Advance com sobra. A memória RAM de 2GB LPDDR4 é suficiente para a tarefa, mas chama a atenção a aparente ausência de armazenamento interno. O site oficial menciona suporte a cartões microSD de até 512GB, o que sugere que o usuário precisará providenciar seu próprio meio de armazenamento desde o primeiro momento. Uma bateria de 3.000mAh promete até 5 horas de jogo, uma autonomia razoável para sessões casuais.

O Diferencial da Dualidade e o Mercado Competitivo

A grande jogada de marketing do E1 é, sem dúvida, o dual-OS. Em teoria, isso é um grande atrativo. No Linux, o usuário pode usar frontends de emulação consagrados e altamente customizáveis, como o RetroArch ou distribuições específicas como Batocera, que transformam o portátil em uma verdadeira máquina de arcade. Já no Android, abre-se um mundo de possibilidades: além dos emuladores da Play Store, é possível acessar serviços de streaming de jogos, como o Xbox Cloud Gaming ou o GeForce Now, e até mesmo jogar títulos mobile nativos.

Mas será que o usuário comum vai realmente aproveitar os dois sistemas? Ou essa é uma feature voltada para o entusiasta que gosta de fuçar e configurar cada detalhe? A praticidade de trocar entre um e outro será o fator decisivo. Enquanto isso, a concorrência não para. Marcas como Anbernic e outras oferecem dispositivos robustos, alguns até com suporte a cartuchos originais, como o GameMT E3.

O preço é outro ponto interessante. Listado por US$ 89 (cerca de R$ 483), mas com um desconto de lançamento para US$ 69 (aproximadamente R$ 374), o Abxylute E1 se posiciona na faixa de entrada do mercado. É um valor competitivo, especialmente se a promessa de dois sistemas operacionais funcionais se concretizar. O dispositivo já está disponível para compra no site oficial da Abxylute.

Via: NotebookCheck

Falando em experiência prática, a escolha do sistema operacional pode mudar completamente a sensação de uso. No Linux, especialmente com uma distribuição como Batocera ou JelOS, você tem aquela interface limpa, focada nos jogos, que lembra muito um console moderno. É tudo muito visual: você escolhe o jogo pela capa, e ele simplesmente roda. Não há notificações, atualizações do sistema no meio da jogatina ou a tentação de abrir um aplicativo de mensagens. É um ambiente imersivo, feito para quem quer apenas sentar e jogar.

Já o Android oferece uma liberdade diferente. É o reino da personalização extrema. Você pode instalar o emulador que preferir, ajustar cada configuração gráfica, usar shaders para dar aquele efeito de tela de TV antiga, e ainda ter acesso a toda a Play Store. Quer jogar um RPG clássico do SNES enquanto escuta um podcast no Spotify em segundo plano? No Android, isso é perfeitamente possível. A questão é: essa liberdade vem com um custo em termos de simplicidade. Configurar um emulador como o RetroArch no Android para ficar perfeito pode ser um projeto para uma tarde inteira.

E sobre a promessa da troca "instantânea" entre os sistemas? Bom, na prática, é quase certo que se trata de um processo de reinicialização (reboot). Dificilmente um hardware com essas especificações rodaria dois sistemas simultaneamente em máquinas virtuais. Portanto, o usuário provavelmente precisará escolher qual sistema bootar na inicialização, talvez segurando uma combinação de botões. Ainda assim, se for um processo rápido – digamos, 20 ou 30 segundos –, já é uma conveniencia e tanto comparado a ter que flashear o cartão SD toda vez que quiser mudar de ambiente.

Para Quem o E1 Faz Sentido?

É aqui que a análise fica interessante. O Abxylute E1 não é um dispositivo para todo mundo. Se você é um jogador casual que só quer reviver alguns títulos do Super Nintendo ou do Game Boy Color sem complicação, um portátil com Linux pré-configurado, como muitos da Anbernic, pode ser uma opção mais direta. Plugou o cartão, ligou e jogou.

Mas se você é daquele tipo de pessoa que curte fuçar, testar emuladores diferentes, quer a opção de usar streaming ou até mesmo alguns jogos mobile, e talvez já tenha uma biblioteca de ROMs organizada no Android, então a dualidade do E1 começa a brilhar. Ele é como ter dois dispositivos em um. Você pode configurar o Linux para ser sua "máquina de jogar" dedicada e limpa, e usar o Android como o "laboratório" para experimentos e multitarefa. Para o entusiasta, essa possibilidade tem um valor imenso.

Outro ponto que merece atenção é a comunidade. Dispositivos que rodam Linux, especialmente com chipsets conhecidos como o RK3566, costumam ter um suporte fantástico de comunidades online. Fóruns e subreddits dedicados estão cheios de tutoriais, temas customizados, otimizações e até sistemas operacionais alternativos desenvolvidos por fãs. O Android, por ser um sistema mais fechado em certos aspectos, também tem sua base, mas a cultura do "faça você mesmo" é um pouco mais forte no lado do Linux. Ter acesso a ambos os ecossistemas praticamente dobra o potencial de vida útil e personalização do aparelho.

No entanto, não podemos ignorar algumas limitações óbvias. A RAM de 2GB, embora suficiente para emulação retrô, pode ser um gargalo se o usuário decidir abusar do Android, com vários aplicativos abertos ou emuladores mais pesados que demandam mais memória para texturas. A ausência de armazenamento interno também é uma decisão de custo que transfere um trabalho a mais para o usuário – ter que comprar um cartão microSD de qualidade e configurá-lo antes mesmo de começar a jogar.

O Futuro dos Portáteis Híbridos

A aposta da Abxylute com o E1 pode sinalizar uma tendência. À medida que o hardware se torna mais capaz e barato, oferecer múltiplas personalidades em um único dispositivo se torna uma forma viável de agregar valor e se diferenciar em um mercado cada vez mais saturado. Não seria surpresa ver outras marcas seguindo um caminho similar nos próximos meses.

Imagine um portátil que, com um clique, muda de uma interface de console dedicada para um tablet Android completo, e daí para um mini-PC com desktop Linux? O E1 dá os primeiros passos nessa direção. A verdadeira pergunta é: os usuários querem essa complexidade? Ou a simplicidade de um sistema único e bem polido ainda é o rei? A resposta provavelmente varia de pessoa para pessoa, mas ter a escolha é, sem dúvida, um luxo que antes não existia nessa faixa de preço.

Enquanto aguardamos análises práticas mais profundas que testem a durabilidade da bateria durante a emulação de PSP, a responsividade do D-pad em jogos de luta e a real fluidez da troca entre OS, uma coisa é certa: a inovação no mercado de portáteis retrô está longe de estagnar. Cada novo lançamento, como o E1, empurra os limites do que é esperado por menos de cem dólares. E no final das contas, quem sai ganhando somos nós, os jogadores, com mais opções para reviver as nossas memórias de infância – ou descobrir clássicos que perdemos na época.

Com informações do: Adrenaline