Warren Buffett, o lendário investidor de 95 anos conhecido por suas apostas de longo prazo, decidiu encerrar completamente sua participação na fabricante chinesa de veículos elétricos BYD após 17 anos de investimento. A movimentação marca o fim de uma das parcerias mais lucrativas da história recente do mercado automotivo, que rendeu à Berkshire Hathaway um retorno impressionante de 3.890% sobre o capital inicial investido.

O início de uma parceria histórica
Tudo começou em 2008, quando Buffett e seu falecido sócio Charlie Munger decidiram investir aproximadamente US$ 230 milhões na então pequena fabricante chinesa. Na época, a dupla ficou impressionada com o que Munger classificou como "talento milagroso" de Wang Chuanfu, fundador da BYD. Eles adquiriram 225 milhões de ações, tornando-se acionistas significativos da empresa.
O que parecia ser uma aposta arriscada na época transformou-se em um dos investimentos mais bem-sucedidos da carreira de Buffett. Em 2022, o valor da participação da Berkshire Hathaway na BYD atingiu o pico de US$ 9 bilhões, representando 20,04% das ações da empresa. Só no segundo trimestre daquele ano, a posição havia valorizado 41%.
O gradual desmonte da participação
Mas algo começou a mudar em 2022. A Berkshire iniciou um processo gradual de redução de sua participação, baixando inicialmente para 19,92%. Nos meses seguintes, Buffett realizou vendas sucessivas até que, em meados de 2024, já havia liquidado 76% de suas ações na BYD.
Os relatórios mais recentes da Berkshire Hathaway, referentes a março de 2025, mostram que a posição foi completamente zerada. Curiosamente, não houve nenhuma declaração oficial de Buffett ou de sua empresa explicando as razões por trás da decisão de abandonar completamente o investimento.

Diferenças filosóficas e desafios de mercado
Embora Buffett sempre tenha elogiado a BYD como uma empresa "extraordinária", começaram a surgir divergências fundamentais nos modelos de gestão. Enquanto o investidor americano é conhecido por seu foco implacável no longo prazo, a BYD adotava uma abordagem mais voltada para resultados trimestrais.
Na minha experiência acompanhando investimentos, essa diferença de horizonte temporal pode criar tensões significativas. Buffett recentemente defendeu publicamente seu modelo de gestão, que claramente não era mais compatível com a estratégia da fabricante chinesa.
E os desafios não param por aí. A BYD vem enfrentando dificuldades em seu mercado doméstico. Dados do China EV DataTracker mostram que entre julho e agosto, a empresa registrou o menor crescimento de vendas desde 2021 - apenas 0,2%. Um desempenho que contrasta fortemente com o crescimento de 7,2% do mercado global de veículos híbridos e elétricos no mesmo período.
Diante desse cenário, a marca reduziu internamente sua meta de produção para 2025 de 5,5 milhões para 4,6 milhões de veículos, segundo informações do site RazãoAutomóvel. Será que Buffett anteviu essas dificuldades quando iniciou o processo de venda?
O que me surpreende é que, apesar do lucro extraordinário, Buffett manteve sua filosofia de não se apegar emocionalmente aos investimentos. Ele sempre disse que seu tempo preferido para manter uma ação é "para sempre", mas claramente encontrou razões convincentes para quebrar essa regra no caso da BYD.
Enquanto isso, o mercado automotivo elétrico continua sua expansão global, mas com desafios crescentes de concorrência e margens de lucro. A saída de um investidor do calibre de Buffett certamente levanta questões sobre o futuro da BYD e do setor como um todo.
O impacto nos mercados e a reação dos concorrentes
A notícia da saída completa de Buffett da BYD gerou ondas no mercado financeiro global. As ações da fabricante chinesa caíram cerca de 3,5% logo após a divulgação dos dados da Berkshire, refletindo a importância simbólica que a participação de Buffett tinha para os investidores. É interessante observar como a simples presença de um investidor lendário pode servir como uma espécie de "selo de qualidade" para uma empresa.
E os concorrentes? Bem, eles parecem estar se movimentando rapidamente. A Tesla, por exemplo, anunciou recentemente planos agressivos de expansão na Ásia, justamente o mercado onde a BYD é mais forte. Enquanto isso, montadoras tradicionais como a Volkswagen e a General Motors aceleram seus investimentos em veículos elétricos, tentando capturar parte do espaço que a BYD pode estar perdendo.

O que me chama atenção é o timing dessa movimentação toda. Buffett sempre foi conhecido por sua capacidade de antever tendências de mercado, então será que ele está enxergando algo que outros investidores ainda não perceberam? Talvez estejamos diante de uma mudança mais profunda no setor de veículos elétricos.
A guerra de preços e as margens de lucro
Um dos fatores que pode ter influenciado a decisão de Buffett é a intensa guerra de preços que vem ocorrendo no mercado de veículos elétricos. A BYD, em particular, tem sido bastante agressiva nesse aspecto, lançando modelos cada vez mais baratos para conquistar market share. Mas essa estratégia tem um custo: as margens de lucro da empresa caíram de 22% para 18% no último trimestre.
E a situação pode piorar. Com a entrada de novas fabricantes chinesas no mercado, como a NIO e a Xpeng, a competição por preços deve se intensificar ainda mais. É aquele velho dilema: crescer rapidamente às custas da rentabilidade ou manter margens saudáveis com crescimento moderado? Parece que a BYD escolheu o primeiro caminho, enquanto Buffett sempre preferiu o segundo.
Na minha opinião, essa diferença fundamental na filosofia de negócios pode ter sido o principal motivo para o rompimento. Buffett sempre valorizou empresas com "muralhas protetoras" - vantagens competitivas que permitem manter margens elevadas por longos períodos. A BYD, ao entrar numa guerra de preços, pode estar erosionando justamente essa proteção.
E tem mais: os subsídios governamentais para veículos elétricos na China estão sendo gradualmente reduzidos, o que deve pressionar ainda mais as margens das fabricantes. Será que Buffett anteviu essa tempestade perfeita?
As inovações tecnológicas e o futuro da mobilidade
Apesar dos desafios financeiros, não podemos ignorar que a BYD continua sendo uma empresa extremamente inovadora. Recentemente, a companhia anunciou avanços significativos em baterias de estado sólido, tecnologia que promete revolucionar o setor com maior autonomia e tempos de recarga mais curtos.
Mas aqui surge outra questão interessante: será que Buffett, aos 95 anos, está menos interessado em apostar em tecnologias disruptivas e mais focado em negócios estabelecidos? É uma possibilidade que vale a pena considerar. Afinal, inovação tecnológica geralmente vem acompanhada de alto risco e incerteza.
E olhando para o panorama mais amplo, o setor de mobilidade elétrica está passando por transformações profundas. A ascensão dos veículos autônomos, a integração com redes inteligentes de energia, e a convergência entre transporte e tecnologia estão criando um cenário complexo e imprevisível.
Talvez Buffett tenha decidido que, após 17 anos e um retorno extraordinário, era hora de colher os lucros e realocar o capital para setores mais previsíveis. É uma estratégia que faz sentido, especialmente considerando sua idade avançada e o desejo de proteger o legado da Berkshire Hathaway.
O que você acha? Será que estamos testemunhando o início de uma mudança mais ampla no apetite de risco dos grandes investidores em relação ao setor de tecnologia e mobilidade?
Enquanto isso, a BYD segue expandindo globalmente, com planos ambiciosos para mercados como Europa e América Latina. A empresa acaba de anunciar a construção de uma nova fábrica no México, claramente mirando o mercado norte-americano. Mas sem o "selo Buffett", será que conseguirá manter a mesma credibilidade junto aos investidores internacionais?
E tem outra coisa que me preocupa: a dependência excessiva do mercado chinês. Com a economia do país mostrando sinais de desaceleração, as fabricantes locais podem enfrentar ventos contrários significativos. Dados recentes mostram que o crescimento das vendas de veículos elétricos na China desacelerou para 15% no último trimestre, contra 25% no ano anterior.
É um ambiente complexo, cheio de variáveis interconectadas. A saída de Buffett pode ser apenas um sinal de que o jogo está mudando, e que os investidores precisam recalibrar suas expectativas para o setor de mobilidade elétrica.
Com informações do: Quatro Rodas