O misterioso projeto Valve Fremont, que há meses circula nos bastidores da indústria de games, finalmente deu as caras de forma mais concreta. Desta vez, apareceu no banco de dados do Geekbench com especificações técnicas que deixam claro: a Valve está trabalhando em algo ambicioso para expandir o sucesso do Steam Deck.

As revelações técnicas do Geekbench
Os dados vazados mostram que o Valve Fremont deve trazer uma configuração bastante interessante. A CPU é uma versão customizada da AMD chamada 1772, com 6 núcleos Zen 4 e 12 threads, operando em frequência base de 3,20 GHz. Mas o que realmente chama atenção é a GPU: uma Radeon RX 7600 customizada com 32 Unidades de Computação RDNA3, o que equivale a 2048 núcleos.
E não para por aí. O sistema conta com interface de memória de 128-bit e 8 GB de memória integrada DDR5 SDRAM rodando a 5586 MT/s em dois canais. Essa configuração me faz pensar que a Valve está mirando em um desempenho significativamente superior ao Steam Deck atual, possivelmente competindo com consoles de mesa.

O que significa essa arquitetura?
Segundo análise do site VideoCardz, essa configuração segue um conceito similar à APU Strix Halo da AMD, que está programada para estrear no portátil GPD Win 5. No entanto, há uma particularidade importante: o Fremont parece usar uma arquitetura um pouco mais antiga, o que pode impactar diretamente no desempenho final e no consumo energético.
Algo que particularmente me surpreendeu foi ver o Windows 11 listado como sistema operacional nos testes. Considerando o histórico da Valve e seu investimento pesado no SteamOS, é bastante provável que isso seja apenas para fins de teste. A versão final quase certamente rodará uma nova versão do SteamOS, que já mostrou ser mais eficiente em termos de performance e autonomia em dispositivos portáteis.

O contexto histórico e o que esperar
Vale lembrar que esta não é a primeira vez que a Valve tenta entrar no mercado de consoles. Quem se lembra das Steam Machines? Aquele projeto ambicioso de criar uma linha de PCs para jogos rodando SteamOS, mas que acabou não decolando como esperado. Desta vez, porém, a estratégia parece diferente.
Ao invés de apostar em hardwares abertos para múltiplas fabricantes, tudo indica que a Valve está desenvolvendo um dispositivo proprietário com características mais fechadas e otimizadas. Essa abordagem faz todo sentido considerando o sucesso do Steam Deck, que mostrou como a integração hardware-software pode resultar em uma experiência superior para o usuário.
Mas é importante manter os pés no chão. A Valve tem histórico de cancelar projetos silenciosamente, e o Fremont pode muito bem nunca chegar ao mercado. Ainda assim, a aparição no Geekbench sugere que os testes estão avançados, o que é um sinal positivo.
O timing também é interessante. Com os consoles tradicionais cada vez mais parecidos com PCs e a linha entre portáteis e dispositivos de mesa se tornando mais tênue, a Valve pode estar posicionando o Fremont como um hybrid device que compete tanto com Nintendo Switch 2 quanto com PlayStation 5 e Xbox Series X/S.
Fonte: VideoCardz
Potencial de performance e desafios de design
Quando analiso essas especificações, não consigo evitar comparar com o Steam Deck atual. A diferença é gritante. Enquanto o Deck original usa uma APU Van Gogh com 8 RDNA 2 CUs, o Fremont promete 32 RDNA 3 CUs – uma evolução de arquitetura e quantidade que pode significar saltos de performance impressionantes. Mas aqui está o problema: como equilibrar isso com consumo energético e térmica em um dispositivo portátil?
Pense bem: uma Radeon RX 7600 desktop consome cerca de 165W sozinha. A Valve teria que fazer milagres de engenharia para domar essa fera em um formato portátil. Minha aposta? Eles estão usando uma versão drasticamente underclocked e com TDP reduzido, sacrificando clocks altos em prol da eficiência. Ainda assim, duvido que consigam manter o consumo abaixo dos 30W – o que significa baterias maiores e, provavelmente, um dispositivo mais pesado.
O mercado que a Valve quer conquistar
O que me fascina nesse projeto é o timing absolutamente perfeito. A indústria está num momento de transição onde os híbridos são rei. O sucesso estrondoso do Switch provou que as pessoas querem flexibilidade, e o Steam Deck mostrou que há espaço para PCs portáteis de alta performance. O Fremont parece ser a tentativa da Valve de unir o melhor dos dois mundos.
Mas será que o mercado está pronto para um dispositivo que provavelmente custará mais que um console tradicional? Digo, se o Steam Deck já parte de preços consideráveis, imagino o Fremont chegando na faixa dos US$ 800-1000. É um preço salgado para um "console", mas bastante competitivo para um PC portátil com essas especificações. A Valve pode estar mirando um nicho diferente: gamers que querem performance de desktop na palma da mão, mas sem comprometer a portabilidade.
Algo que pouca gente comenta: a estratégia de software por trás disso tudo. O SteamOS evoluiu dramaticamente desde o lançamento do primeiro Deck, e hoje suporta milhares de jogos via Proton. Se o Fremont realmente for mais poderoso, pode se tornar a plataforma definitiva para jogar PC games em qualquer lugar – algo que nem a NVIDIA Shield nem outros concorrentes conseguiram entregar consistentemente.
As implicações para o ecossistema Steam
Pare para pensar no que isso significa para o ecossistema da Valve. Eles já dominam a distribuição digital com a Steam, revolucionaram o gaming portátil com o Deck, e agora podem estar prestes a lançar um dispositivo que compete diretamente com consoles de nova geração. É uma jogada ousada que poderia, finalmente, concretizar o sonho antigo das Steam Machines – mas desta vez, com hardware próprio e otimizado.
O mais interessante é como isso afeta os desenvolvedores. Com um hardware mais potente e padronizado, os estúdios poderiam otimizar seus jogos especificamente para a plataforma Fremont, assim como fazem para PlayStation e Xbox. Isso poderia resultar em experiências melhoradas mesmo em hardware menos potente que um PC high-end, graças à otimização direta.
Mas não seria tudo flores. A fragmentação do ecossistema Steam poderia se tornar um problema. Teríamos jogos otimizados para Fremont, outros para Deck, e a maioria para PC tradicional – um pesadelo potencial para desenvolvedores indie com recursos limitados. A Valve precisaria criar ferramentas excepcionais para facilitar o desenvolvimento multiplataforma dentro do próprio ecossistema Steam.
E quanto à retrocompatibilidade? O Steam Deck já luta com alguns jogos mais antigos ou mal-otimizados. Um hardware mais moderno com arquitetura diferente poderia introduzir novos desafios de compatibilidade. A equipe do Proton teria trabalho extra para garantir que a vasta biblioteca da Steam funcione adequadamente no novo hardware.
Reações da comunidade e expectativas
Nas comunidades online, o burburinho é palpável. Fóruns como o Reddit e o ResetEra estão cheios de especulações – alguns entusiasmados, outros céticos. Um usuário comentou: "Se conseguirem performance próxima de um PS5 em formato portátil, é game over para a competição". Outro respondeu: "Sonhem menos – termais e bateria serão o calcanhar de Aquiles".
Particularmente, acho que ambos têm pontos válidos. A tecnologia avançou o suficiente para permitir milagres de performance em formato compacto, mas as leis da física ainda se aplicam. Dissipação de calor e autonomia de bateria continuam sendo os grandes limitantes para dispositivos portáteis poderosos.
O que me deixa genuinamente curioso é como a Valve abordará o design industrial. O Steam Deck já foi criticado por seu tamanho e peso, mas elogiado pela ergonomia. O Fremont, sendo presumivelmente mais potente, precisará de soluções criativas de resfriamento – talvez até vapor chambers ou soluções líquidas compactas, algo que até então era território de laptops gaming high-end.
E não podemos ignorar o aspecto portátil versus docked. Se o Fremont realmente for um híbrido, como rumores sugerem, precisará de uma docking station que permita saída de vídeo em alta resolução e talvez até expansão de armazenamento. Seria o dispositivo definitivo para quem quer um console de mesa e um portátil num só pacote – o Santo Graal que muitos fabricantes tentaram alcançar, mas poucos conseguiram executar competentemente.
Com informações do: Adrenaline