Os fãs de soulslike têm um encontro marcado em outubro com uma proposta que promete revolucionar o gênero. Valor Mortis, o aguardado jogo da desenvolvedora One More Level, vai permitir que jogadores experimentem sua abordagem única em primeira pessoa durante um playtest que acontece de 6 a 13 de outubro. A iniciativa chega como uma oportunidade rara de testar um título que mistura a dificuldade característica dos soulslikes com uma perspectiva imersiva que pode mudar completamente a forma como encaramos esse tipo de jogo.

O que mais me chama atenção em Valor Mortis é justamente essa combinação incomum. Enquanto a maioria dos soulslikes opta pela perspectiva em terceira pessoa, a One More Level – conhecida pelo excelente Ghostrunner – parece estar apostando na imersão total. A ambientação na Europa fantasiosa do século XIX, com soldados napoleônicos transformados em criaturas monstruosas, ganha uma dimensão completamente diferente quando vista através dos olhos do personagem.
Como participar do playtest
Para quem está ansioso para experimentar o jogo, o processo de inscrição é bastante simples. Basta acessar o site oficial do playtest e se registrar usando sua conta da Steam ou Discord. A desenvolvedora ainda não divulgou quantas vagas estarão disponíveis, então minha recomendação é se inscrever o quanto antes.
É importante lembrar que se trata de uma versão bem inicial do jogo, previsto para lançamento apenas em 2026. O playtest tem como objetivo principal identificar bugs e coletar feedback dos jogadores para direcionar o desenvolvimento. Em outras palavras, não espere uma experiência polida – mas sim a chance de influenciar diretamente na criação de um título promissor.

O que esperar da experiência
Os jogadores aprovados terão acesso ao capítulo introdutório de Valor Mortis, incluindo uma luta contra um dos chefes do game. Ainda não sabemos se será uma das criaturas mostradas no trailer de revelação, mas as imagens já revelam inimigos impressionantes que mesclam uniformes históricos com deformidades grotescas.
O teste também inclui a primeira parte da árvore de habilidades, dando uma amostra do sistema de progressão do personagem. Será interessante ver como a perspectiva em primeira pessoa afeta o combate estratégico típico dos soulslikes. A precisão nos ataques, o timing dos esquives e o gerenciamento de stamina podem ganhar uma camada extra de complexidade quando não temos visão periférica do nosso personagem.
As influências de Elden Ring e Dark Souls são evidentes, mas Valor Mortis parece querer criar sua própria identidade. A escolha do período histórico é particularmente interessante – diferente da maioria dos soulslikes que preferem ambientações medievais ou de fantasia pura.
Uma limitação importante: o playtest está disponível apenas para PC, mesmo que o jogo final seja planejado também para PS5 e Xbox Series. Para quem joga principalmente em consoles, resta torcer para que futuros testes incluam essas plataformas.
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Desafios e oportunidades da perspectiva em primeira pessoa
A transição para primeira pessoa não é apenas uma mudança de câmera – é uma reformulação completa da filosofia de combate. Nos soulslikes tradicionais, você depende muito da visão do seu personagem para antecipar ataques e posicionar-se no campo de batalha. Em Valor Mortis, essa segurança desaparece. Você precisa confiar mais nos sons, nos movimentos periféricos e até na intuição.
Imagine enfrentar um chefe colossal sem poder ver claramente o que está acontecendo atrás de você. Ou tentar esquivar de um ataque quando sua visão está limitada ao que está diretamente à frente. Essa claustrofobia controlada pode ser tanto a maior virtude quanto o maior desafio do jogo.
O que me deixa particularmente curioso é como a One More Level vai equilibrar a dificuldade. No Ghostrunner, a equipe já demonstrou domínio sobre ação em primeira pessoa rápida e precisa, mas soulslike exige um ritmo completamente diferente. Será que veremos elementos de stealth? Talvez um sistema de bloqueio mais elaborado? A desenvolvedora mencionou que os jogadores poderão "sentir o peso de cada golpe" – o que sugere uma abordagem mais tátil do que normalmente vemos no gênero.
O universo histórico-fantástico
A ambientação em uma Europa alternativa do século XIX é um dos aspectos mais originais de Valor Mortis. Enquanto escrevo isso, não consigo deixar de pensar nas possibilidades narrativas. A fusão de elementos históricos reais – como as guerras napoleônicas – com uma infestação sobrenatural cria um pano de fundo rico para exploração.
Os soldados transformados em monstros não são apenas inimigos genéricos; eles carregam vestígios de sua humanidade anterior. Uniformes militares deteriorados, equipamentos corroídos pelo tempo e talvez até memórias fragmentadas de suas vidas passadas. Essa abordagem pode adicionar camadas emocionais à experiência, algo que muitos soulslikes negligenciam em favor do puro desafio.
E quanto aos NPCs? Em um período histórico tão conturbado, esperamos encontrar personagens complexos tomando decisões difíceis em meio ao caos. Será que a perspectiva em primeira pessoa permitirá diálogos mais imersivos, onde possamos observar as expressões faciais e os microgestos dos personagens durante as conversas?
O papel da comunidade no desenvolvimento
Playtests como este representam uma mudança significativa na relação entre desenvolvedores e jogadores. Em vez de criar um jego isoladamente e lançá-lo como produto final, a One More Level está convidando a comunidade para participar ativamente do processo criativo. Isso é arriscado, é claro – feedback de jogadores pode ser contraditório e às vezes até prejudicial se mal interpretado.
Mas acredito que para um gênero tão específico como soulslike, essa colaboração pode ser extremamente valiosa. Os fãs mais hardcore sabem exatamente o que funciona e o que não funciona nesses jogos. Suas críticas podem ajudar a refinar mecânicas complexas que, de outra forma, passariam despercebidas até o lançamento.
O que você acha? Vale a pena arriscar spoilers e experiências incompletas para moldar um jogo desde suas fases iniciais? Para mim, a oportunidade de ver um título evoluir baseado no feedback da comunidade é fascinante – quase como assistir a uma obra de arte sendo pintada stroke por stroke.
Além do mais, playtests costumam criar uma sensação de pertencimento nos jogadores. Aqueles que participaram da fase de testes tendem a se tornar defensores ferrenhos do jogo, compartilhando suas experiências e ajudando a construir o hype orgânico. Em um mercado cada vez mais saturado, esse tipo de advocacy pode fazer toda a diferença.
Resta saber se a One More Level conseguirá filtrar o feedback construtivo do simplesmente negativo. Nem toda sugestão de jogador é boa, e parte do trabalho de um desenvolvedor é saber quando manter sua visão original apesar das críticas. É um equilíbrio delicado que pode definir o sucesso ou fracasso de um projeto ambicioso como Valor Mortis.
Com informações do: Adrenaline