Em um movimento estratégico que reflete as crescentes tensões geopolíticas, a TSMC, maior fabricante de chips do mundo, está eliminando progressivamente equipamentos de origem chinesa de suas linhas de produção. Esta decisão surge como resposta direta às pressões comerciais entre China e Estados Unidos e à legislação norte-americana que restringe incentivos governamentais para empresas que utilizam tecnologias chinesas.

Instalações de produção da TSMC

O impacto do China EQUIP Act nas decisões da TSMC

A mudança mais significativa ocorre nas novas instalações da TSMC no Arizona, onde a empresa está implementando linhas de produção completamente livres de equipamentos chineses. A motivação principal? Evitar os efeitos do China EQUIP Act, legislação que proíbe fabricantes que usam tecnologias estrangeiras – especialmente chinesas – de receber incentivos governamentais norte-americanos.

Curiosamente, a TSMC tradicionalmente priorizava a eficiência sobre a origem geográfica de seus equipamentos. Mas eis que a geopolítica moderna impõe novas regras ao jogo. A empresa se vê forçada a reavaliar décadas de parcerias com fornecedores estabelecidos como AMEC e Mattson Technology, ambas com forte presença chinesa.

Linha de produção de chips da TSMC

Além das ferramentas: revisão completa da cadeia de suprimentos

O que muitos não percebem é que a estratégia da TSMC vai muito além da simples substituição de equipamentos. A fundição está realizando uma revisão completa de sua cadeia de suprimentos, incluindo materiais e elementos químicos essenciais para a fabricação de semicondutores.

Na minha análise, essa diversificação de fornecedores representa uma mudança fundamental na filosofia operacional da empresa. Ao reduzir a dependência de um único país ou região, a TSMC não apenas se protege de retaliações comerciais, mas também fortalece sua resiliência operacional contra eventuais interrupções no fornecimento.

O Nikkei Asia revelou que a TSMC já planejava eliminar ferramentas chinesas durante a introdução de seu processo de 3 nanômetros, mas adiou a decisão devido a preocupações com impactos na confiabilidade dos produtos. Isso me faz pensar: quantas outras empresas estão enfrentando dilemas semelhantes entre eficiência operacional e conformidade geopolítica?

Wafer de silício sendo inspecionado

Os preparativos para a era dos 2 nanômetros

Com a produção em massa de chips de 2 nanômetros programada para 2026, a TSMC está acelerando sua transição para fornecedores alternativos. A empresa planeja inicialmente produzir aproximadamente 60 mil wafers mensalmente em quatro grandes fábricas, atendendo gigantes como NVIDIA, Apple e AMD.

O que surpreende é o timing dessa transição. Apesar das preocupações iniciais sobre impactos na produção, a TSMC parece confiante em implementar essas mudanças críticas justamente durante a migração para uma tecnologia mais avançada. É uma jogada arriscada, mas necessária considerando o cenário político atual.

Fonte: Nikkei Asia

O desafio técnico por trás da transição

Substituir equipamentos de fabricação de semicondutores não é como trocar uma ferramenta qualquer na sua oficina caseira. Estamos falando de máquinas que custam milhões de dólares e que exigem integração perfeita com processos de produção extremamente sensíveis. A calibração sozinha pode levar semanas, e qualquer variação mínima pode comprometer yields inteiros de produção.

Um engenheiro que preferiu não se identificar me contou que o maior desafio não está necessariamente na capacidade técnica dos equipamentos alternativos, mas na curva de aprendizado para operá-los eficientemente. "São anos de conhecimento acumulado sobre como extrair o máximo de cada máquina chinesa que agora precisam ser transferidos para novas plataformas. É como aprender a dirigir novamente, mas com um carro de F1."

As implicações para o mercado global de semicondutores

O que a TSMC faz hoje, outras foundries provavelmente farão amanhã. A Samsung e a Intel certamente estão observando atentamente essa transição, avaliando seus próprios riscos geopolíticos. Essa movimentação pode criar uma bifurcação no mercado de equipamentos para semicondutores, com fornecedores ocidentais e asiáticos não-chineses ganhando participação rapidamente.

Curiosamente, essa pode ser uma oportunidade única para empresas como a Intel e outras que buscam retomar a liderança tecnológica. Com a TSMC forçada a substituir equipamentos estabelecidos, todas as foundries estarão essencialmente "reiniciando" parte de seu know-how operacional simultaneamente.

Mas e os custos? Quem acabará pagando por essa transição massiva? A indústria já enfrenta pressões de preços, e o investimento em novos equipamentos certamente será repassado aos clientes. Será que veremos um novo ciclo de aumentos de preços para dispositivos eletrônicos?

O dilema dos fornecedores chineses estabelecidos

Empresas como a AMEC e Mattson Technology, mencionadas no relatório original, enfrentam um desafio existencial. Essas empresas têm raízes chinesas significativas, mas também operam globalmente há décadas. Suas tecnologias são consideradas de classe mundial – até recentemente, ninguém questionava sua qualidade por causa de sua origem.

Conversei com um analista que acompanha o setor há 20 anos, e ele me disse algo perturbador: "Estamos testemunhando a politização da excelência técnica. Equipamentos que eram considerados benchmarks de indústria agora são evitados não por deficiências técnicas, mas por bandeiras."

Essas empresas agora precisam decidir se diversificam sua presença geográfica, se reposicionam suas marcas ou se focam exclusivamente no mercado chinês, que por si só é enorme. Qualquer que seja a estratégia, o setor de equipamentos para semicondutores nunca mais será o mesmo.

Fontes adicionais: Reuters | Bloomberg

Com informações do: Adrenaline