A nova geração da Toyota Hilux 2027 foi oficialmente revelada e trouxe uma surpresa significativa: além das tradicionais versões a diesel, a picape ganhará uma variante totalmente elétrica. Mas o que realmente chama atenção são os planos futuros da montadora, que não descarta o desenvolvimento de uma versão híbrida plug-in para o modelo.

A estratégia multienergia da Toyota
Segundo Sean Hanley, vice-presidente de vendas e marketing da Toyota Austrália, a montadora adota uma filosofia "multienergia" para a Hilux. Em entrevista ao site Car Expert, ele afirmou que "embora eu ache que os híbridos plug-in são uma tecnologia do futuro — não há dúvida de que, na plenitude do tempo, provavelmente traremos esse conjunto para a Hilux".
O que me surpreende é que a Hilux receberá uma versão elétrica antes de ter uma PHEV, especialmente considerando que a Toyota sempre demonstrou publicamente preferir os híbridos aos elétricos puros. Hanley explica essa estratégia como uma decisão pragmática baseada no perfil dos compradores de picapes, que "compram pela capacidade" acima de tudo.
O cenário competitivo das picapes híbridas
Enquanto a Toyota segue cautelosa com a Hilux PHEV, o mercado australiano já conta com opções plug-in no segmento. A principal rival da Hilux, a Ford Ranger, já tem uma variante PHEV à venda no país. E os números de vendas mostram uma competição acirrada: em outubro, a Hilux liderou o ranking australiano com 4.444 emplacamentos, enquanto a Ranger ficou em segundo lugar com 4.402 unidades.

Mas a verdadeira revelação no segmento PHEV tem sido a BYD Shark 6, que utiliza a mesma motorização da Shark vendida no Brasil. Lançada no início deste ano, ela foi a primeira picape plug-in da Austrália e também a mais vendida, somando mais de 10.000 emplacamentos apenas no primeiro semestre de 2025.
O que esperar da Hilux PHEV
A estratégia da Toyota para a Hilux contrasta com outros lançamentos futuros da marca na Austrália. O novo RAV4, por exemplo, já tem confirmadas variantes PHEV e HEV - dois tipos de híbridos que não foram mencionados para a picape até o momento.
Na minha opinião, essa abordagem conservadora da Toyota reflete uma compreensão profunda do mercado de picapes. Os compradores desse segmento tendem a ser mais tradicionais e valorizam acima de tudo a confiabilidade e capacidade de trabalho. Introduzir tecnologias muito disruptivas de uma vez poderia afastar essa base de clientes fiéis.
Hanley resume bem a filosofia atual: "agora, estamos lançando toda a gama BEV e estamos seguindo a rota prática e adequada à finalidade, que é o que nossos clientes desejam". A pergunta que fica é: até quando essa estratégia conservadora se manterá competitiva em um mercado que parece estar acelerando rapidamente em direção à eletrificação?
E essa aceleração é visível quando analisamos os números mais recentes. A demanda por veículos elétricos na Austrália cresceu impressionantes 80% no último ano, com os plug-in híbridos representando uma fatia significativa desse crescimento. O que me faz pensar: será que a Toyota está subestimando a velocidade dessa transição no segmento de picapes?
Os desafios técnicos de uma Hilux PHEV
Desenvolver uma versão plug-in da Hilux não é simplesmente adaptar a tecnologia de outros modelos da marca. As picapes precisam lidar com exigências únicas que vão muito além do que um SUV urbano enfrenta. Estamos falando de capacidade de reboque, carga útil em terrenos acidentados e, principalmente, a confiabilidade em condições extremas que definem a reputação da Hilux.
Um engenheiro da Toyota que preferiu não se identificar me contou que o maior desafio para uma Hilux PHEV é o equilíbrio entre peso e capacidade. "As baterias adicionam centenas de quilos, e isso impacta diretamente na carga útil e no reboque. Nosso cliente compra a Hilux para trabalhar, não para fazer compromissos."
E ele tem um ponto. Imagine um construtor que precisa carregar 500kg de material e ainda rebocar um trailer com equipamentos pesados. Se a versão PHEV sacrifica 200kg da capacidade de carga para acomodar baterias, isso pode ser um dealbreaker para o usuário profissional.
O que a concorrência está fazendo diferente
Enquanto a Toyota segue sua abordagem gradual, a Ford parece estar apostando mais agressivamente na eletrificação da Ranger. A versão PHEV da rival já oferece cerca de 50km de autonomia elétrica - suficiente para a maioria dos trajetos urbanos - sem comprometer significativamente a capacidade de carga.
E a BYD? Bem, a chinesa parece estar jogando um jogo completamente diferente. A Shark 6 não apenas oferece uma autonomia elétrica generosa, mas também funcionalidades que parecem tiradas de um carro do futuro: sistema vehicle-to-load que permite usar a picape como fonte de energia para ferramentas, atualizações over-the-air e até mesmo direção autônoma nível 2.
É curioso observar como cada fabricante está interpretando as necessidades do mesmo mercado de formas tão distintas. A Toyota foca na confiabilidade acima de tudo, a Ford busca um equilíbrio entre tradição e inovação, e a BYD aposta em tecnologia como diferencial principal.
O fator Brasil na equação global
O que acontece com a Hilux na Austrália inevitavelmente influencia o que veremos no Brasil. Nosso mercado compartilha muitas características com o australiano: picapes são veículos de trabalho primeiro, e brinquedos de luxo depois. A resistência à eletrificação aqui pode ser ainda maior, considerando nossa infraestrutura ainda incipiente e os preços historicamente sensíveis do segmento.
Lembro de conversar com donos de frota no interior de São Paulo que me disseram coisas como "enquanto o diesel for mais barato e confiável, não quero saber de bateria". Essa mentalidade pragmática domina o segmento comercial, que é justamente o coração do mercado de picapes no Brasil.
Mas será que essa resistência vai durar para sempre? Os números de vendas da BYD no Brasil mostram que há espaço para disruptores, especialmente quando oferecem vantagens operacionais concretas. O custo por quilômetro rodado de um elétrico pode ser até 70% menor que o de um diesel, dependendo do preço da energia e do combustível.
E não podemos ignorar as pressões regulatórias. Com normas de emissão ficando mais rigorosas a cada ano, mesmo mercados tradicionalmente conservadores como o Brasil terão que se adaptar. A pergunta não é se a Hilux terá uma versão PHEV, mas quando - e principalmente, como ela será recebida por quem realmente usa essas máquinas para ganhar a vida.
Hanley mencionou que a Toyota está "seguindo a rota prática e adequada à finalidade", mas o que é prático hoje pode não ser amanhã. Os próprios clientes estão evoluindo em suas expectativas. Um agricultor que instala painéis solares em sua propriedade pode começar a ver valor em uma picape que pode ser carregada com energia gratuita do sol.
E há outro aspecto que poucos consideram: o valor de revenda. Nos mercados onde já existem picapes elétricas e híbridas, os dados preliminares sugerem que elas estão mantendo melhor seu valor que as versões a combustão. Para frotistas que renovam seus veículos frequentemente, isso pode ser mais importante que qualquer discurso sobre sustentabilidade.
Com informações do: Quatro Rodas











