Para os verdadeiros apaixonados por automóveis, o Salão do Automóvel 2025 oferece uma oportunidade única de testemunhar de perto algumas das máquinas mais icônicas da história automotiva. Dois espaços em particular se destacam como verdadeiros santuários para os entusiastas de carros clássicos: o Dream Car Museum e o Carde Art Design Museu, que reúnem raridades que marcaram épocas e definiram padrões na indústria automotiva.

Lendas Internacionais que Revolucionaram o Automobilismo

O Dream Car Museum apresenta algumas das criações mais audaciosas da engenharia automotiva mundial. O Dodge Daytona 1969, por exemplo, chama atenção imediatamente com seu nariz alongado e aquela asa traseira gigante que parece saída de um filme de ficção científica. Mas essa aerodinâmica radical tinha um propósito muito claro: velocidade. Equipado com um motor V8 Hemi 426 de 425 cv de potência, foi o primeiro carro da Nascar a ultrapassar os 320 km/h - um feito extraordinário para a época.

Dodge Daytona 1969

Já o Lamborghini Diablo 1991 representa aquela transição fascinante entre o design angular do Countach e uma linguagem mais fluida, mas ainda assim agressiva. Com seu motor V12 5.7 de 492 cv, o Diablo conseguia acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 4,1 segundos - números que ainda hoje impressionam.

Lamborghini Diablo 1991

Mas talvez uma das joias mais raras seja o Bugatti EB110 de 1994. Este carro marcou o renascimento da lendária marca francesa e celebrava os 110 anos de Ettore Bugatti. O que muitas pessoas não sabem é que seu chassi monocoque foi construído em fibra de carbono - uma tecnologia bastante avançada para os anos 90. Com motor V12 3.5 biturbo gerando 560 cv, atingia 342 km/h e fazia 0 a 100 km/h em 3,6 segundos.

Bugatti EB110 1994

Ícones do Design e Performance que Marcaram Época

No espaço Carde, a Ferrari F40 1990 rouba a cena com sua presença imponente. Desenvolvida para celebrar os 40 anos da marca de Maranello, esta foi a última criação supervisionada pessoalmente por Enzo Ferrari - o que por si só já a torna um pedaço vivo da história automotiva. Derivada do projeto 288 GTO Evoluzione, a F40 era equipada com motor V8 2.9 biturbo de 478 cv, atingia 324 km/h e acelerava de 0 a 100 km/h em 4,1 segundos.

Ferrari F40 1990

E falando em raridades, o Jaguar XJ220 representa um capítulo interessante da história dos supercarros. Em 1992, ele deteve o título de carro de produção em série mais rápido do mundo, com seus 340 km/h de velocidade máxima. Equipado com um motor V6 biturbo de 550 cv, o XJ220 foi uma declaração ousada da marca britânica em uma era de intensa competição por supremacia de velocidade.

Jaguar XJ220 1994

O Lamborghini Miura 1970, por sua vez, merece atenção especial por ter introduzido ao mundo a configuração de motor V12 montado na posição central - um layout que se tornaria padrão para supercarros nas décadas seguintes. Gerando 370 cv de potência, o Miura não foi apenas um carro rápido; foi um carro que redefiniu o que era possível em termos de design e engenharia automotiva.

Lamborghini Miura 1970

Raridades Nacionais: O Orgulho Automotivo Brasileiro

Muitos visitantes podem se surpreender ao descobrir que o Brasil também teve suas próprias tentativas ambiciosas no mundo dos esportivos. O Hoffstetter Turbo Automático de 1986, exposto no Dream Car Museum, tem o honorável título de primeiro superesportivo brasileiro. Construído em fibra de vidro e equipado com o motor AP 1.8 turbo da Volkswagen (o mesmo do Santana) de 140 cv, representou um sonho ousado de engenharia nacional.

Hoffstetter Turbo Automático 1986

Outra pérola nacional é o Brasinca STV Uirapuru de 1966. Construído pela Sociedade Técnica de Veículos (STV), era equipado com motor 4.2 de seis cilindros que podia desenvolver entre 162 e 177 cv dependendo dos opcionais escolhidos. O Uirapuru representou um momento único na indústria automotiva brasileira, quando empreendedores ousaram criar algo verdadeiramente exclusivo.

Brasinca STV Uirapuru 1966

E não poderíamos deixar de mencionar a icônica Kombi Turismo de 1960, que na verdade era um pequeno motorhome com acabamento interno melhorado e janelas panorâmicas. Modificada pela empresa Carbruno, tinha espaço para sete pessoas e representava um conceito de liberdade e aventura que ainda hoje ressoa com muitos viajantes. Equipada com motor boxer de 1.200 cm e tração traseira, esta Kombi nos lembra que os carros clássicos não são apenas sobre velocidade, mas também sobre experiências e histórias.

Volkswagen Kombi 1960

O Miura X8 Targa de 1988 completa o time de esportivos brasileiros com itens considerados bastante avançados para sua época, como bancos elétricos e retrovisores com sensor de luminosidade. É interessante notar como esses carros nacionais, embora menos conhecidos que suas contrapartes internacionais, contam uma história igualmente valiosa sobre a criatividade e ambição da indústria automotiva brasileira.

Miura Targa X8 1988

Detalhes Técnicos que Fazem a Diferença

Quando você se aproxima dessas máquinas lendárias, é nos pequenos detalhes que a verdadeira genialidade aparece. O Dodge Daytona, por exemplo, tinha uma aerodinâmica tão eficiente que a NASCAR acabou banindo o carro das competições - simplesmente porque era demasiado rápido. Imagine isso: um carro tão revolucionário que precisou ser proibido para manter a competitividade das corridas.

E o Bugatti EB110? Bem, sua história é ainda mais fascinante quando você descobre que foi o último carro desenvolvido antes da marca ser adquirida pela Volkswagen. O EB110 representava o ápice da engenharia francesa de sua época, com um sistema de tração integral que ajudava a colocar toda aquela potência no asfalto de forma eficiente.

O Design que Conta Histórias

Cada curva, cada linha desses carros clássicos tem uma história para contar. O Lamborghini Miura, por exemplo, não foi apenas o primeiro supercarro com motor central - ele praticamente inventou a categoria. Seu designer, Marcello Gandini, criou um perfil tão baixo que o motor precisou ser colocado de lado para caber sob o capô. Isso mesmo - o V12 foi literalmente virado 90 graus para criar o silhueta icônica que conhecemos hoje.

E falando em design revolucionário, a Ferrari F40 foi construída com uma filosofia radical: leveza acima de tudo. As portas tinches de fibra de carbono, o interior era espartano (sem sequer ter revestimento de porta ou tapetes), e as janelas laterais eram de plástico. Tudo para economizar peso e maximizar a performance. Hoje em dia, é difícil imaginar um supercarro de quase meio milhão de dólares vindo sem air conditioning ou vidros elétricos, não é?

As Histórias por Trás das Máquinas Brasileiras

Os carros nacionais talvez sejam os que carregam as histórias mais emocionantes. O Hoffstetter Turbo Automático, por exemplo, foi desenvolvido por um engenheiro que literalmente apostou sua casa no projeto. Ele vendeu sua própria residência para financiar o desenvolvimento do que seria o primeiro superesportivo brasileiro. Infelizmente, apenas três unidades foram produzidas antes que o projeto fosse encerrado.

Já o Brasinca Uirapuru tinha um detalhe curioso: seu nome vem de um pássaro da Amazônia, e o carro foi projetado para competir diretamente com as grandes marcas europeias. O motor era um Chevrolet de seis cilindros, mas com carburadores triplos e outras modificações que elevavam significativamente sua potência. O que mais impressiona é que, mesmo décadas depois, o Uirapuru ainda consegue chamar atenção pelo seu design único e proporções elegantes.

E a nossa querida Kombi Turismo? Bem, ela representa um capítulo fascinante da história da mobilidade no Brasil. Modificada pela Carbruno, essa versão especial era praticamente um motorhome avant la lettre, com camas, mesa e até uma pequena cozinha. Era o sonho de liberdade sobre rodas, muito antes dos vans life se tornarem moda.

O Legado que Permanece

O que realmente surpreende ao observar esses carros é como muitos de seus conceitos e tecnologias ainda influenciam a indústria automotiva atual. O layout de motor central do Miura se tornou padrão para praticamente todos os supercarros modernos. A obsessão por redução de peso da F40 ecoa nos carros esportivos atuais, que utilizam cada vez mais fibra de carbono e alumínio.

E os carros brasileiros? Eles nos lembram que a criatividade e a inovação não são exclusividade dos grandes centros automotivos. Mesmo com recursos limitados, nossos engenheiros e designers conseguiram criar máquinas que, em seus próprios termos, eram tão ambiciosas quanto qualquer Ferrari ou Lamborghini.

Mas talvez o aspecto mais fascinante seja como esses carros continuam a evoluir mesmo depois de décadas. Muitos deles são mantidos por colecionadores apaixonados que não apenas preservam, mas constantemente melhoram e atualizam essas máquinas. É comum encontrar um Miura com sistema de injeção eletrônica moderno, ou um Daytona com freios a disco atualizados - provando que a paixão por carros clássicos não é sobre viver no passado, mas sobre manter viva a história enquanto se adapta ao presente.

E isso nos leva a pensar: quantas das inovações que vemos hoje nos carros modernos serão consideradas revolucionárias daqui a 30 ou 40 anos? Quais dos carros atuais terão o mesmo status de lenda que esses clássicos conquistaram? Difícil dizer, mas uma coisa é certa - a visita ao Salão do Automóvel oferece uma rara oportunidade de testemunhar em primeira mão os marcos que definiram o que entendemos por excelência automotiva.

Com informações do: Quatro Rodas