A Quantic Dream, conhecida por títulos narrativos como Detroit: Become Human, está seguindo uma direção completamente diferente com Spellcasters Chronicles. Anunciado em outubro, o jogo prioriza gameplay e experiência multiplayer com elementos estratégicos marcantes. Tive a oportunidade de testar o game antes dos testes abertos, e a experiência deixou uma impressão interessante, embora incompleta.

Cena de gameplay de Spellcasters Chronicles mostrando personagens em batalha

Um MOBA com ritmo acelerado e mecânicas familiares

Se você já jogou League of Legends ou Heroes of the Storm, vai se sentir em casa rapidamente. Como parte de um time de três jogadores, seu objetivo é coordenar avanços de exércitos para destruir bases inimigas. Mas aqui está a primeira reviravolta interessante: destruir uma única base não garante a vitória. Enquanto pelo menos uma estrutura básica dos adversários permanecer de pé, a partida pode virar completamente.

Durante minhas duas partidas completas, percebi que a equipe vencedora geralmente era aquela que conseguia infligir o "primeiro ferimento" decisivo. Só que isso é mais complicado do que parece. Seus personagens, sozinhos, não são exatamente poderosos - mesmo ganhando níveis frequentemente. Eles precisam destruir NPCs adversários enquanto criam criaturas que povoam as diferentes linhas de ataque e defesa.

Uma única morte pode arruinar completamente um plano de ataque que parecia eficiente. E as coisas pioram quando você descobre que apenas os mobs conseguem destruir torres - aproximar-se delas resulta em danos devastadores. É um sistema que força cooperação constante.

Interface do jogo mostrando diferentes personagens e habilidades disponíveis

Profundidade prometida versus tempo limitado

Minha experiência com Spellcasters Chronicles foi tão caótica quanto divertida, graças à agilidade dos combates. Mas saí com a nítida sensação de que mal arranhei a superfície do jogo. O tempo disponível não permitiu entender toda a profundidade dos combates ou explorar adequadamente os personagens disponíveis.

Na primeira partida, escolhi um guerreiro que invocava arqueiros e golems pequenos, especializado em causar dano direto. Na segunda, optei por um personagem mais "tanque" - mais lento, mas resistente e capaz de invocar criaturas maiores e mais destrutivas. A diferença no gameplay foi notável desde o início.

O que mais me surpreendeu foi que cada personagem tinha dois conjuntos de habilidades radicalmente diferentes. Segundo a Quantic Dream, essas eram apenas possibilidades pré-determinadas - na versão final, os jogadores poderão montar seus próprios conjuntos de cartas com poderes específicos. Essa customização promete ser um diferencial significativo.

Visão aérea do mapa de batalha mostrando diferentes rotas e estruturas

Controles e mobilidade: pontos fortes evidentes

Alguns elementos se destacaram positivamente durante o teste. O gameplay parece sólido e funciona bem, com destaque para a capacidade de voar pelos campos de batalha para ajudar aliados ou coordenar ataques. Essa mobilidade vertical adiciona uma camada estratégica interessante que diferencia o jogo de MOBAs tradicionais.

O título também se mostrou fácil de controlar, tanto com mouse e teclado quanto com gamepad. No entanto, em confrontos diretos contra outros jogadores, a combinação mouse-teclado tem vantagem clara - quando todos estão voando e saltando rapidamente pela tela, mirar com o analógico se torna um desafio considerável.

A adaptabilidade dos controles é um acerto, mas me pergunto como a Quantic Dream planeja equilibrar essa disparidade entre os diferentes esquemas de controle. Em jogos competitivos, mesmo pequenas vantagens podem se tornar problemas significativos.

Personagens em ação durante combate intenso no jogo

Usando elementos conhecidos dos MOBAs e trabalhando com regras próprias, Spellcasters Chronicles tem a seu favor o fato de ser divertido desde as primeiras partidas. Mesmo perdendo e não entendendo completamente o que estava acontecendo, era fácil perceber que o jogo tem potencial para sessões divertidas com amigos.

Mas esse "mas" do subtítulo anterior persiste. Com pouco tempo de jogo, é impossível saber se a profundidade indicada pela Quantic Dream realmente se materializará. Nossos testes foram limitados demais para identificar bugs graves ou personagens desequilibrados que possam comprometer a experiência.

Felizmente, o título será gratuito, permitindo que muitos jogadores testem sem consequências financeiras. A Quantic Dream planeja liberar o acesso ao público em geral em dezembro, embora os brasileiros possam ficar de fora inicialmente. No entanto, já em janeiro de 2026, o jogo deve contar com servidores na América do Sul.

O que realmente me deixou curioso foi a promessa de personalização de personagens. Durante o teste, experimentei apenas duas configurações pré-definidas, mas a ideia de poder montar meu próprio conjunto de cartas com habilidades específicas parece revolucionária para o gênero. Imagine poder criar combinações únicas que se adaptem ao seu estilo de jogo - isso poderia elevar significativamente a profundidade estratégica do título.

E falando em estratégia, algo que notei foi como o jogo parece recompensar a paciência e o timing correto. Em uma das partidas, nossa equipe estava claramente perdendo - as estruturas inimigas estavam praticamente intactas enquanto nossas defesas caíam rapidamente. Mas um ataque coordenado no momento certo, quando o time adversário estava distraído em outra linha, nos permitiu virar o jogo completamente. Foi uma daquelas reviravoltas que faz você querer jogar mais uma partida imediatamente.

O desafio do equilíbrio em jogos gratuitos

A decisão de lançar o jogo como free-to-play traz tanto oportunidades quanto desafios significativos. Por um lado, remove a barreira de entrada e permite que mais jogadores experimentem o título. Por outro, levanta questões sobre como a Quantic Dream planeja monetizar o projeto sem comprometer o equilíbrio competitivo.

Em minha experiência com outros jogos do gênero, sistemas de monetização mal implementados podem arruinar completamente a experiência. Itens pagos que conferem vantagens significativas ou personagens overpowered disponíveis apenas através de microtransações são receita para o desastre. A Quantic Dream terá que caminhar por uma linha tênue entre oferecer conteúdo valoroso para compra e manter a integridade do jogo.

Algo que me preocupa é como o estúdio, tradicionalmente focado em experiências narrativas lineares, lidará com a natureza dinâmica e sempre em evolução de um jogo multiplayer. Manter o equilíbrio entre dezenas de personagens com habilidades customizáveis é um desafio que até desenvolvedores experientes no gênero frequentemente enfrentam dificuldades.

Comunidade e suporte pós-lançamento

Outro aspecto crucial que permanece uma incógnita é o compromisso da Quantic Dream com atualizações regulares e suporte à comunidade. Jogos multiplayer vivem e morrem pela qualidade de seu suporte pós-lançamento. Atualizações de balanceamento, novos conteúdos, correção de bugs e comunicação transparente com os jogadores serão essenciais para o sucesso a longo prazo.

Durante minhas partidas, notei alguns pequenos problemas técnicos - nada grave o suficiente para estragar a experiência, mas suficientes para levantar questões sobre a polição final do produto. Um exemplo foi ocasionalmente ter dificuldade em distinguir aliados de inimigos durante combates intensos, especialmente quando múltiplos personagens estavam usando habilidades com efeitos visuais similares.

O timing do lançamento também me faz pensar. Dezembro é tradicionalmente um mês movimentado para lançamentos de jogos, e competir pela atenção dos jogadores durante esse período pode ser desafiador. No entanto, se a Quantic Dream conseguir entregar uma experiência sólida e atraente, o fato de ser gratuito pode trabalhar a seu favor.

O que mais me impressionou, honestamente, foi como o jogo conseguiu ser acessível para jogadores casuais enquanto ainda apresentava camadas de complexidade que devem agradar aos mais competitivos. Em menos de dez minutos, consegui entender os conceitos básicos e contribuir para minha equipe, mesmo sem experiência prévia com MOBAs.

O potencial não realizado e as expectativas

Voltando àquela sensação de ter apenas arranhado a superfície - isso é tanto um elogio quanto uma preocupação. Por um lado, sugere que o jogo tem profundidade suficiente para manter os jogadores engajados por um bom tempo. Por outro, levanta dúvidas sobre quão bem a Quantic Dream conseguirá comunicar essa profundidade para novos jogadores.

Os tutoriais que experimentei foram funcionais, mas básicos. Eles ensinavam os controles e conceitos fundamentais, mas não exploravam as estratégias mais avançadas ou as nuances dos diferentes personagens. Em um jogo que promete tanta customização e complexidade estratégica, um sistema robusto de aprendizado será crucial para reter jogadores menos experientes.

Outro ponto que merece atenção é a variedade de modos de jogo. Durante o teste, só pude experimentar o modo principal 3v3. Será que a versão final trará outras opções? Modos de treino, partidas personalizadas, ou talvez até um modo para um jogador contra a IA? Esses elementos extras podem fazer toda a diferença na longevidade do título.

E não posso deixar de mencionar o aspecto visual. Os cenários são impressionantes, com uma paleta de cores vibrante que ajuda a diferenciar as diferentes áreas do mapa. Os efeitos de habilidade são visuais mas não excessivamente poluídos - algo importante em um jogo onde a clareza visual durante combates intensos é crucial para a jogabilidade.

No entanto, me pergunto como o jogo performará em hardware menos potente, especialmente considerando que será gratuito e portanto acessível a um público amplo com configurações variadas. A otimização será outro fator crítico para o sucesso, especialmente nos servidores sul-americanos prometidos para 2026.

O que ficou claro para mim é que a Quantic Dream está tentando algo ambicioso - criar um MOBA que seja ao mesmo tempo acessível para novatos e profundo o suficiente para jogadores experientes, tudo enquanto mantém a qualidade de produção que caracteriza seus jogos anteriores. É um equilíbrio difícil de alcançar, mas se conseguirem, pode resultar em algo verdadeiramente especial.

Com informações do: Adrenaline