A OpenAI está preparando o terreno para uma mudança significativa em sua infraestrutura de inteligência artificial. Segundo informações do Financial Times, a empresa iniciará a produção em massa de seu próprio chip de processamento para IA já no próximo ano. Embora ainda não confirmado oficialmente, o projeto representa um movimento estratégico crucial para reduzir a dependência de hardware de terceiros.

Parceria estratégica com a Broadcom
O que torna esses rumores particularmente convincentes é a recente declaração do CEO da Broadcom, Hock Tan. Na última quinta-feira, 4 de setembro, ele mencionou um novo cliente que fechou um contrato monumental de US$ 10 bilhões com a empresa. Embora o nome do parceiro não tenha sido revelado, as fontes do Financial Times apontam diretamente para a OpenAI como a provável beneficiária desse acordo.
Não é a primeira vez que surgem rumores sobre um acelerador de IA desenvolvido pela OpenAI. No início deste ano, circulavam especulações de que a fabricação começaria ainda em 2024, mas parece que o cronograma foi ajustado para 2025, possivelmente refletindo a complexidade do desenvolvimento de semicondutores de alto desempenho.

Autonomia em relação à NVIDIA
O movimento da OpenAI reflete uma tendência mais ampla no setor de IA. Grandes empresas de tecnologia estão buscando alternativas para reduzir sua dependência da NVIDIA, que se tornou a empresa mais valiosa do mundo graças ao seu domínio quase absoluto no mercado de chips para inteligência artificial. A situação lembra um pouco a corrida espacial - todo mundo quer ter seu próprio foguete instead de depender dos concorrentes.
As fontes indicam que a OpenAI planeja usar o chip exclusivamente para suas próprias operações, sem licenciar ou vender para outras empresas. Essa abordagem segue o mesmo caminho adotado pela Google com seu chip Ironwood e pela Amazon com a linha Graviton. A pergunta que fica é: será que essa estratégia de verticalização vai se tornar o padrão para todas as grandes players de IA?
Incógnitas na fabricação
Embora o Financial Times confirme a parceria de design com a Broadcom, permanecem dúvidas sobre onde os núcleos do chip serão fabricados. A TSMC parece ser a candidata natural, considerando sua liderança em processos de fabricação avançados. Rumores do início do ano sugeriam que o processador seria fabricado no processo de 3nm (N3) da TSMC, mas a empresa já possui versões mais avançadas como N3P e N3E.
É interessante notar que a própria TSMC rejeitou um acordo com a OpenAI recentemente, o que pode complicar um pouco as coisas. Além disso, há relatos de que tanto a NVIDIA quanto a Broadcom estariam testando o processo 18A da Intel, o que abre possibilidades interessantes para o futuro.
O investimento massivo em hardware próprio pela OpenAI ocorre paralelamente a outros grandes movimentos no setor. A Oracle, por exemplo, anunciou que vai investir US$ 40 bilhões em 400 mil GPUs NVIDIA como parte do projeto Stargate, mostrando que diferentes empresas estão adotando estratégias distintas para lidar com a escassez de capacidade computacional para IA.
Desafios técnicos e econômicos
Desenvolver um chip de IA competitivo não é tarefa simples. A NVIDIA tem anos de vantagem em arquitetura, software (CUDA) e ecossistema. A OpenAI precisará não apenas criar hardware poderoso, mas também desenvolver toda uma stack de software otimizada para seu novo chip. E isso custa tempo e dinheiro - muito dinheiro.
O investimento de US$ 10 bilhões com a Broadcom é apenas a ponta do iceberg. Fabricação em nodes avançados como 3nm da TSMC custa fortunas, e os yields (taxas de chips funcionais) nem sempre são altos inicialmente. Será que a OpenAI conseguirá atingir a escala necessária para justificar esse investimento colossal?
Além dos custos, há questões técnicas complexas. Os chips modernos de IA precisam balancear performance, consumo energético e capacidade de resfriamento. A NVIDIA já domina essa equação com suas GPUs, mas criar uma alternativa do zero exige superar desafios de engenharia significativos. E tempo é um recurso escasso nesse mercado que avança em ritmo acelerado.
Impacto no mercado e na concorrência
Se a OpenAI realmente entrar no mercado de chips, isso pode alterar fundamentalmente as dinâmicas competitivas. Atualmente, a NVIDIA praticamente dita os termos - preços, disponibilidade, prioridade de entrega. Ter seu próprio silicon daria à OpenAI muito mais controle sobre seu destino tecnológico.
Mas e os custos de oportunidade? US$ 10 bilhões poderiam ser investidos em pesquisa de modelos ou expansão de capacidade computacional existente. A pergunta que muitos especialistas se fazem é: será que desenvolver chips próprios é realmente a melhor alocação de recursos para uma empresa de software de IA?
Outro aspecto interessante: como isso afetará o relacionamento da OpenAI com a Microsoft, seu principal investidor? A Microsoft também desenvolve seus próprios chips de IA, como o Maia 100. Haverá sinergias ou conflitos de interesse? E será que a Microsoft verá com bons olhos sua parceira estratégica tornando-se também concorrente em hardware?
O cenário geopolítico dos semicondutores
Não podemos ignorar o contexto geopológico. A dependência de fabricação na TSMC (Taiwan) preocupa muitas empresas ocidentais, especialmente considerando as tensões entre China e Estados Unidos. Desenvolver chips é uma coisa, mas fabricá-los em escala com garantia de supply chain é completamente diferente.
Algumas empresas já estão buscando alternativas. A Intel, por exemplo, está investindo pesadamente para reconquistar espaço na fabricação de chips avançados com seu processo 18A. E curiosamente, tanto NVIDIA quanto Broadcom estariam testando esse processo - será que a OpenAI também consideraria essa rota?
As restrições de exportação de chips avançados para a China também impactam esse cenário. Ter controle sobre o design do chip poderia permitir à OpenAI criar versões específicas que atendam às regulamentações enquanto mantêm performance competitiva. Mas isso adiciona outra camada de complexidade a um projeto já extremamente ambicioso.
O timing também é crucial. 2025 não está tão distante, e o mercado de IA avança rapidamente. Os chips que a OpenAI planeja hoje precisarão ser competitivos contra as GPUs que a NVIDIA lançará em 2025-2026, possivelmente incluindo a arquitetura Blackwell ou até mesmo sua sucessora. É uma corrida contra o relógio e contra um concorrente extremamente capaz.
Com informações do: Adrenaline