Para os fãs que aguardam ansiosamente por Hollow Knight: Silksong, a notícia de que a Team Cherry já está olhando para além da tão aguardada sequência pode ser uma surpresa. Em uma revelação recente, o estúdio australiano indicou que, após o lançamento do DLC de Silksong, seus planos podem não incluir um Hollow Knight 3, mas sim a criação de um jogo totalmente novo. É uma perspectiva que mistura excitação com uma ponta de nostalgia, levantando questões sobre o futuro de uma das franquias indie mais queridas da última década.
O legado de Hollow Knight e a pressão da sequência
Vamos ser honestos: Hollow Knight não foi apenas um sucesso, foi um fenômeno. Lançado em 2017, o jogo definiu um novo padrão para metroidvanias, com seu mundo interconectado de Hallownest, combate preciso e uma atmosfera melancólica e cativante. Criar uma sequência que atenda a essas expectativas monumentais não é tarefa fácil. O desenvolvimento de Silksong, anunciado em 2019, tem sido um processo longo e meticuloso – algo que, na verdade, é marca registrada do pequeno estúdio de três pessoas.
E essa abordagem cuidadosa parece estar moldando sua visão de futuro. Em vez de se prender a uma fórmula vencedora, a Team Cherry demonstra um desejo de explorar novos horizontes criativos. É um movimento arriscado, claro. Afinal, por que abandonar uma franquia estabelecida e amada? Mas também é um sinal de maturidade artística. Após anos imersos no mesmo universo, a vontade de criar algo fresco, sem as amarras da lore e das mecânicas pré-estabelecidas, é compreensível. Quase libertadora.
O que significa um "jogo totalmente novo" da Team Cherry?
Aqui é onde a especulação – e a empolgação – realmente começam. A equipe é conhecida por seu design de mundo excepcional, narrativa ambiental e combate desafiador. Um novo IP poderia mantê-los nesse gênero, refinando ainda mais a fórmula do metroidvania, ou poderia representar uma guinada radical. Eles explorariam um RPG? Um jogo de plataforma mais linear? Algo completamente diferente?
Na minha experiência acompanhando estúdios indie, esse tipo de reinvenção pode gerar os trabalhos mais memoráveis. Libertos da obrigação de servir a fãs existentes, os desenvolvedores podem seguir suas intuições mais puras. Lembra quando a Supergiant Games saiu de Bastion para Transistor? Ou quando a Mobius Digital criou Outer Wilds depois de projetos menores? São saltos criativos que definem carreiras.
Claro, isso não significa o fim absoluto de Hallownest. A citação misteriosa que acompanhou a notícia – "A única preocupação em relação ao tempo é a morte" – é puro Hollow Knight em seu tom filosófico e sombrio. Ela sugere que, para a Team Cherry, o tempo gasto em um novo projeto não é perdido, mas um investimento contra a estagnação criativa. É uma declaração de princípios.
O caminho a frente: Silksong primeiro, depois o desconhecido
É crucial manter os pés no chão. Toda essa conversa sobre um novo jogo vem após o DLC de Silksong. O foco imediato do estúdio, e o desejo de milhões de fãs, ainda é a conclusão e o lançamento da aventura de Hornet. O sucesso dessa sequência será fundamental, provavelmente financiando a próxima empreitada e dando à equipe a liberdade financeira para arriscar.
E que tal a comunidade? Como os fãs reagirão à possibilidade de não ver um terceiro capítulo da saga do Cavaleiro Vazio? Alguns podem ficar desapontados, é natural. A história de Hallownest parece ter tantos cantos e fios soltos para explorar. Mas muitos outros, eu incluso, ficam curiosos. A Team Cherry nos surpreendeu uma vez com um mundo de insetos sombrio e profundo. Quem sabe o que eles têm guardado nas gavetas agora?
O caminho deles me lembra um pouco o do estúdio japonês Team Ico, que criou obras-primas únicas como Ico e Shadow of the Colossus, sem nunca se prender a sequências óbvias. Há um valor imenso em dizer o que precisa ser dito em uma ou duas histórias e depois seguir em frente. Isso preserva a integridade da obra original e evita que ela se torne… bem, uma commodity.
Enquanto aguardamos notícias concretas de Silksong, essa perspectiva de um futuro além dele adiciona uma nova camada ao legado da Team Cherry. Eles não são apenas os criadores de Hollow Knight; são um estúdio cuja próxima grande ideia está sempre no horizonte. E no mundo dos games, onde franquias são esticadas até o limite, essa atitude é não só corajosa, mas também refrescante.
Mas vamos pensar um pouco mais sobre esse "novo jogo". O que realmente sabemos? A declaração foi vaga, propositalmente, eu diria. Não há título, gênero ou mesmo um esboço de arte conceitual. Essa ambiguidade, no entanto, é parte do charme. Ela abre espaço para a imaginação da comunidade e, mais importante, dá ao estúdio a liberdade de pivotar, de explorar ideias sem a pressão de um anúncio formal. É um luxo que poucos desenvolvedores, especialmente os independentes com um hit nas costas, conseguem se permitir.
E sobre o tamanho da equipe? A Team Cherry permanece sendo um trio. Essa escala intimista é tanto uma força quanto uma limitação. Um projeto totalmente novo, sem os alicerces de código e arte de Hollow Knight, exigiria um esforço monumental. Será que eles expandiriam? Contratariam mais talentos? Ou manteriam a filosofia do "small is beautiful", mesmo que isso signifique um ciclo de desenvolvimento ainda mais longo? São perguntas sem resposta, mas que pintam um quadro fascinante dos desafios logísticos por trás da criação.
O ecossistema indie e a síndrome da sequência
O movimento da Team Cherry não ocorre no vácuo. Ele se insere em uma discussão mais ampla dentro da cena indie: a pressão para criar franquias. Após um sucesso inesperado, a lógica do mercado muitas vezes empurra para mais do mesmo – DLCs, sequências, spin-offs. É o caminho "seguro" para capitalizar uma base de fãs já conquistada. Mas quantas séries indie conseguem manter a magia do original após uma segunda ou terceira entrada? A lei dos retornos decrescentes é real.
Olhe para um estúdio como o ConcernedApe, criador de Stardew Valley. Eric Barone passou anos trabalhando sozinho na sequência, Haunted Chocolatier, um jogo que parece compartilhar a essência, mas em um gênero diferente (ação e confeitaria, no caso). É um risco calculado. Por outro lado, temos a Red Candle Games, que após o aclamado Devotion – envolto em polêmica – voltou com o totalmente diferente Detention. A capacidade de se reinventar parece ser um traço comum entre os desenvolvedores que priorizam a expressão artística acima de tudo.
O que isso significa para nós, jogadores? Bem, pode ser um pouco amargo no curto prazo. Queremos mais daquilo que amamos, é humano. Mas no longo prazo, nutrir estúdios que valorizam a inovação garante um cenário de jogos mais diverso e interessante. Prefiro esperar cinco anos por algo genuinamente novo da Team Cherry do que receber um Hollow Knight 3 "por obrigação" a cada dois anos. Não é?
Silksong como ponte, não como destino final
Isso nos leva de volta a Hornet. Silksong agora assume um papel ainda mais crucial. Ele não é mais apenas a sequência há muito aguardada; é o projeto que financiará e validará a próxima fase do estúdio. Cada venda, cada crítica positiva, será um voto de confiança no futuro criativo da equipe. A pressão para que seja excelente, portanto, é astronômica – mas também de uma natureza diferente. Não é mais sobre "provar que o primeiro não foi sorte"; é sobre provar que a criatividade deles é sustentável e transferível para novos universos.
E o conteúdo pós-lançamento? O tal DLC mencionado. Será ele uma expansão narrativa grandiosa, fechando arcos de personagens, ou algo mais modesto, focado em gameplay? A abordagem que escolherem pode ser um indicador. Um DLC extenso e lore-heavy sugeriria um desejo de esgotar completamente as possibilidades de Hallownest antes de partir. Um DLC menor, talvez focado em um modo desafio ou em novos personagens jogáveis, poderia indicar que a mente da equipe já está, em parte, no próximo projeto.
É engraçado pensar que, de certa forma, a notícia de um futuro além de Hollow Knight pode até aliviar um pouco a ansiedade em torno de Silksong. Tira o peso de ser "a última chance" da franquia. Transforma-o em um capítulo incrivelmente importante, sim, mas um capítulo de uma história maior sobre um estúdio que não quer ser definido por um único sucesso. Essa perspectiva pode nos fazer apreciar o jogo por aquilo que ele é, e não apenas pelo que ele representa para o futuro de uma série.
Enquanto isso, a comunidade de fãs, famosa por sua paciência quase mítica, terá um novo elemento para suas teorias e discussões. Os fóruns e subreddits já devem estar fervilhando. Alguns analisarão cada entrevista antiga dos desenvolvedores em busca de pistas sobre interesses pessoais – talvez um gosto por ficção científica ou por um gênero musical específico que possa inspirar um novo jogo. Outros criarão concept arts de como seria um jogo da Team Cherry em um setting steampunk ou de fantasia alta. Esse período de especulação criativa, essa "era das possibilidades", é um fenômeno cultural por si só, um testemunho do vínculo único que o estúdio construiu com seu público.
No fim das contas, a jornada da Team Cherry reflete uma busca por autenticidade que é rara em qualquer indústria criativa. Eles construíram um mundo tão rico que poderia facilmente sustentar meia dúzia de jogos, livros e talvez até uma série. A tentação de monetizar isso ao máximo deve ser enorme. Mas escolher o caminho mais difícil, o da reinvenção, fala sobre um compromisso com a arte do design de jogos que vai além do sucesso comercial. É uma aposta no desconhecido. E se há uma coisa que Hollow Knight nos ensinou, é que explorar o desconhecido, por mais assustador que seja, é onde as recompensas mais significativas costumam estar escondidas.
Com informações do: IGN Brasil











