Desde o anúncio em 2018, The Elder Scrolls 6 se tornou um dos jogos mais aguardados e, ao mesmo tempo, mais misteriosos da indústria. Enquanto os fãs esperam ansiosamente por qualquer migalha de informação, a Bethesda tem mantido um silêncio quase absoluto sobre o projeto. Mas em uma recente entrevista, o diretor Todd Howard finalmente quebrou o gelo, oferecendo um raro vislumbre do estado do desenvolvimento e, talvez mais importante, da filosofia por trás da demora.

O ritmo do desenvolvimento e a busca pela qualidade
Howard foi franco ao admitir que o progresso não está acontecendo na velocidade que ele, ou os fãs, gostariam. "Todos desejamos que fosse um pouco mais rápido — ou muito mais rápido —, mas é um processo que queremos fazer do jeito certo", afirmou ele à Game Informer. Essa declaração vai ao encontro de uma sensação que muitos têm tido: desde o teaser, a Bethesda já lançou novas versões de Skyrim e outros projetos, mas o tão esperado sexto capítulo parece estar em um limbo.
Mas eis a questão: será que essa lentidão é realmente um sinal de problemas, ou é simplesmente o preço a pagar por um RPG ambicioso na era moderna? Howard explicou que parte da sensação de lentidão vem da forma como a Bethesda estrutura seu trabalho. A empresa costuma operar com múltiplas equipes trabalhando em projetos paralelos. Enquanto um time está focado no núcleo de The Elder Scrolls 6, outros estão em pré-produção de conceitos futuros ou dando suporte a jogos já lançados, como Fallout 76.
É um modelo que pode diluir a percepção de progresso, mas que, em teoria, permite uma pipeline de desenvolvimento mais sustentável. Ainda assim, é difícil não sentir uma ponta de frustração. Afinal, Skyrim foi lançado em 2011. Naquela época, a ideia de esperar mais de uma década por uma sequência direta parecia impensável para uma franquia desse porte.
Novas tecnologias e o legado de Skyrim
Se há um lado positivo na longa espera, é que o jogo está sendo desenvolvido para uma geração de hardware completamente nova. Angela Browder, chefe do estúdio, não escondeu seu entusiasmo com as possibilidades técnicas que surgiram desde os dias de Skyrim. Em suas palavras, a "Angela dos dias de Skyrim nunca poderia imaginar ver coisas como essas de agora".
Ela usou um exemplo concreto: a evolução visual vista no remake de The Elder Scrolls IV: Oblivion (2025) em comparação com o original de 2006. Esse salto, segundo ela, é apenas uma amostra do potencial que as ferramentas atuais oferecem. Renderização, iluminação, densidade de mundo aberto, IA dos personagens – tudo evoluiu de forma dramática. A pergunta que fica é: até que ponto a Betessa está disposta a empurrar esses limites para criar um mundo que realmente justifique a espera?
Browder expressou a esperança de que, quando os fãs finalmente jogarem, tenham a mesma sensação de maravilhamento que ela tem ao observar as ferramentas de desenvolvimento atuais. É uma ambição nobre, mas que coloca a pressão nas costas da equipe. Prometer um salto geracional é uma coisa; entregá-lo é outra completamente diferente.
O ecossistema Bethesda além de TES6
Enquanto o hype por The Elder Scrolls 6 cresce, é fácil esquecer que a Bethesda não é uma empresa de um projeto só. Howard mencionou que a empresa continua a dar suporte robusto a The Elder Scrolls Online e a Fallout 76, jogos que mantêm comunidades ativas e recebem atualizações regulares.
Além disso, há os tais "projetos misteriosos" nos bastidores. Rumores e vazamentos, como os que sugerem uma possível atualização de Fallout 3 nos moldes do remake de Oblivion, indicam que a empresa está explorando seu catálogo clássico. Essa estratégia faz sentido comercialmente – mantém a marca relevante e gera receita –, mas também arrisca cansar o público com re-releases enquanto a próxima grande novidade original tarda a chegar.
E você, o que acha? Essa abordagem multifocada é a maneira certa de gerir um estúdio de grande porte, ou ela acaba prejudicando o desenvolvimento do projeto principal? Na minha experiência acompanhando a indústria, esse equilíbrio é um dos maiores desafios para desenvolvedoras com IPs tão queridos.
O fato é que, por mais que Todd Howard tenha dado uma atualização, as informações concretas sobre The Elder Scrolls 6 continuam escassas. Não sabemos o cenário, a jogabilidade ou uma janela de lançamento remota. O que temos é a confirmação de que o jogo está sendo feito, a promessa de que valerá a pena esperar e a certeza de que, para uma geração de jogadores que cresceu com Skyrim, este será um dos lançamentos mais importantes da década. Resta saber se a Bethesda conseguirá atender a essas expectativas monumentais, ou se o peso da própria história da franquia se tornará seu maior obstáculo.
Mas vamos pensar um pouco sobre essa "demora do jeito certo". O que isso realmente significa em termos práticos para um RPG da Bethesda? Não se trata apenas de gráficos mais bonitos ou mapas maiores. A verdadeira ambição, acredito, está em superar as próprias limitações que se tornaram características da marca. Quem não se lembra dos bugs quase folclóricos de Skyrim, dos NPCs com diálogos repetitivos ou da sensação de que, por trás da vastidão do mundo, algumas mecânicas eram surpreendentemente rasas?
Howard e sua equipe devem estar cientes de que o padrão mudou. Jogos como The Witcher 3: Wild Hunt e, mais recentemente, Baldur's Gate 3, elevaram a régua do que os jogadores esperam em termos de narrativa ramificada, profundidade de personagens e consequências reais para as escolhas. Criar um mundo que seja apenas "grande" não é mais suficiente. Ele precisa ser vivo, reativo e, acima de tudo, coerente. Essa é uma tarefa hercúlea que consome tempo – muito tempo.
O fantasma do "Live Service" e a identidade de um RPG single-player
Outro ponto de tensão silenciosa é o modelo de negócios. A indústria mudou radicalmente desde 2011. Os jogos "games as a service" (GaaS) e as lojas de microtransações dominam o mercado. A Bethesda já flertou com esse modelo em Fallout 76, com resultados... bem, controversos, para dizer o mínimo. A pergunta que paira no ar é: até que ponto essa experiência influenciará The Elder Scrolls 6?
Será que veremos elementos de live service infiltrados na experiência single-player clássica? Talvez uma loja de cosméticos, eventos sazonais ou um sistema de batalha passiva entre guildas? Por um lado, isso garantiria suporte pós-lançamento de longo prazo e receita recorrente. Por outro, arriscaria alienar a base de fãs mais purista que anseia por uma aventura imersiva e autossuficiente, livre da sensação de que o jogo está sempre tentando vender algo.
Em uma entrevista antiga, Howard já mencionou que vê o futuro da franquia como algo que você "joga para sempre". Essa declaração é intencionalmente vaga. Pode significar um mundo com conteúdo gerado proceduralmente e atualizado por anos, ou simplesmente um RPG tão rico que você sempre encontrará algo novo. A linha entre uma visão ambiciosa e um design voltado para monetização é tênue. O caminho que a Bethesda escolher aqui será tão definidor para o jogo quanto sua história ou seu sistema de combate.
A pressão da comunidade e o risco do "desenvolvimento por vazamento"
Outro fator subestimado é o ambiente atual de desenvolvimento, saturado por vazamentos, especulações e uma fandom hiperconectada. Nos tempos de Oblivion ou Skyrim, a comunicação era mais controlada. Hoje, qualquer screenshot de conceito, qualquer nome de arquivo em um banco de dados público vira combustível para teorias malucas e expectativas infladas.
Isso coloca os desenvolvedores em uma posição complicada. Como inovar e experimentar sem que cada protótipo descartado seja vazado e tratado como promessa? Como manter o mistério em uma era onde os fãs dissecam cada patente registrada pela empresa? A política de silêncio absoluto da Bethesda pode ser, em parte, uma reação defensiva a esse fenômeno. É mais seguro não dizer nada do que dizer algo que possa ser mal interpretado ou usado para criar expectativas irreais.
Mas esse silêncio tem um custo. Ele alimenta a frustração e permite que o vácuo de informação seja preenchido por rumores, muitos dos quais podem ser mais negativos do que a realidade. É um equilíbrio delicadíssimo. Contar muito cedo estraga a surpresa e prende o estúdio a ideias que podem evoluir. Não contar nada gera ansiedade e desconfiança. A Bethesda parece ter escolhido o segundo caminho, apostando que a qualidade final do produto justificará a longa espera no escuro.
E falando em evolução, que tipo de inovações técnicas podemos esperar? A mudança para a Creation Engine 2, usada em Starfield, foi um salto significativo, mas também revelou suas próprias limitações e... peculiaridades. O jogo espacial mostrou avanços impressionantes na escala e no número de objetos físicos, mas também recebeu críticas por seus mundos proceduralmente vazios e pela falta de uma navegação terrestre mais fluida.
Para The Elder Scrolls 6, a aposta deve ser diferente. Em vez de mil planetas, a necessidade é de um único continente (ou talvez mais de um) com uma densidade e um nível de detalhe sem precedentes. Imagine uma cidade como Solitude não mais sendo um conjunto de poucas casas e uma dúzia de NPCs com rotinas simples, mas sim um assentamento verdadeiramente vivo, com centenas de habitantes, economias dinâmicas, festivais que acontecem sem a sua presença e uma sensação real de que o mundo existe independente do herói. Isso exigiria não apenas mais poder de processamento, mas uma reestruturação profunda de como a IA e os sistemas de simulação da Bethesda funcionam.
É um desafio técnico monumental. Mas se há uma franquia que merece esse investimento, é The Elder Scrolls. O risco, claro, é a ambição superar a execução. Prometer um mundo vivo e entregar um que seja apenas complexo e confuso é um erro que muitos RPGs já cometeram.
Com informações do: Adrenaline











