Em um setor onde muitas empresas parecem ter perdido a sintonia com seu público, a Nintendo se destaca como exemplo de como manter uma conexão genuína com os jogadores. A afirmação vem de ninguém menos que Shawn Layden, ex-CEO da Sony Computer Entertainment, que comandou a PlayStation entre 2014 e 2019. Em entrevista recente, Layden foi categórico ao afirmar que, atualmente, apenas a Nintendo consegue manter esse alinhamento tão necessário com as expectativas de seus consumidores.
Uma estratégia intencional e focada
"Eu acredito que a Nintendo está muito intencionalmente na linha em que ela quer jogar", explicou Layden durante a conversa. "E não estou menosprezando isso de forma alguma. Quero dizer, ela está muito focada em quem são seus fãs e no que seus fãs querem".
Essa abordagem focada permitiu que a empresa japonesa navegasse pelos desafios recentes do mercado de forma muito mais estável que suas concorrentes. Enquanto muitas companhias se deixaram levar pelo boom temporário causado pela pandemia, a Nintendo manteve o rumo que havia traçado anos antes.

Lições da pandemia: a visão que outras empresas não tiveram
Layden destacou como a Nintendo foi uma das poucas companhias que não se deixou enganar pelos efeitos da COVID-19. Entre 2020 e 2021, quando milhões de pessoas estavam confinadas em casa, o interesse por games explodiu - o que levou muitas empresas a fazerem investimentos massivos e contratações em larga escala.
"Durante a pandemia, quando vimos as receitas de games aumentando significativamente porque todos estávamos trancados e não podíamos sair, muitas companhias contrataram várias pessoas porque pensaram que a curva era: 'todos os números estão subindo. Vamos ir atrás desses números. Vamos, vamos, vamos. Joguem mais gasolina na fogueira'", relatou o executivo.
Mas a Nintendo pareceu entender desde o início que aquela alta era temporária. Quando as pessoas puderam retomar suas rotinas normais, a queda de receita foi inevitável para muitas empresas - mas não para a Nintendo, que havia mantido uma estratégia mais conservadora e alinhada com sua realidade pré-pandemia.
O sucesso de saber onde se quer chegar
O ex-chefe da PlayStation também elogiou a clareza estratégica da Nintendo. "Eles simplesmente sabem qual é a sua oportunidade. Eles a enxergam. Eles a entendem melhor do que qualquer outra pessoa. E então eles a exploram e têm um resultado muito bom".
Essa visão clara do próprio negócio permitiu que a empresa mantivesse um desempenho de mercado estável, evitando as grandes demissões que assolaram o setor após o fim do boom pandêmico. Layden chegou a afirmar que, se fosse contratado pela Nintendo, "simplesmente sairia do caminho e não mexeria em nada".
Os resultados falam por si: o Switch 2, lançado em 5 de junho de 2025, quebrou rapidamente recordes anteriores de vendas de qualquer outra plataforma, demonstrando que a conexão com os fãs se traduz em sucesso comercial.
Fonte: GamesRadar
O valor da consistência em um mercado volátil
O que realmente impressiona na estratégia da Nintendo é sua consistência ao longo das décadas. Enquanto outras empresas parecem constantemente reagir às tendências do momento, a Nintendo tem uma visão de longo prazo que transcende modismos passageiros. Eles entendem que criar experiências memoráveis vai muito além de gráficos ultrarrealistas ou especificações técnicas impressionantes.
Na minha experiência como observador do mercado, percebo que muitos fãs da Nintendo desenvolvem uma conexão emocional genuína com as franquias da empresa. Não se trata apenas de jogar, mas de reviver memórias de infância, compartilhar experiências entre gerações e criar tradições familiares. Quantas outras empresas podem dizer que seus produtos são parte de rituais familiares há mais de trinta anos?
O risco de perder a identidade em busca do sucesso rápido
Layden fez um comentário particularmente interessante sobre como outras empresas frequentemente caem na armadilha de tentar agradar a todos. "Muitas companhias acham que precisam capturar cada centavo do mercado", observou. "Elas expandem demais, diversificam demais, e no processo perdem a essência do que as tornou especiais em primeiro lugar".
E não é exatamente isso que temos visto? Quantas franquias icônicas foram diluídas na tentativa de alcançar um público mais amplo? A Nintendo, por outro lado, parece entender perfeitamente que é melhor fazer excelentes jogos para seu público específico do que jogos medianos para todo mundo.
Essa filosofia se reflete nas decisões de negócio da empresa. Enquanto outras corriam para lançar serviços de streaming e assinatura, a Nintendo manteve seu modelo tradicional - e os resultados mostram que essa paciência valeu a pena. Os jogadores continuam dispostos a pagar preço premium por experiências que sabem que serão únicas e bem polidas.
A lição que vai além dos games
O que outras empresas poderiam aprender com a Nintendo? Talvez a lição mais importante seja que entender seu público não significa apenas fazer pesquisas de mercado ou analisar dados demográficos. Requer uma compreensão quase intuitiva do que torna sua marca especial para as pessoas que realmente a amam.
Shawn Layden mencionou algo que me fez pensar: "A Sony nunca esteve tão em sintonia com o que os jogadores queriam como a Nintendo está hoje". Vindo de um ex-CEO da PlayStation, essa é uma admissão notável. Mostra que mesmo empresas extremamente bem-sucedidas podem perder essa conexão genuína com o tempo.
E aqui está um ponto crucial: a Nintendo não está imune a erros. Lembram-se do Wii U? Mas mesmo em seus momentos mais difíceis, a empresa nunca perdeu completamente de vista quem eram seus fãs e o que eles valorizavam. Essa resiliência é o que separa marcas verdadeiramente icônicas das que são apenas popularmente momentâneas.
O desafio de manter a autenticidade no mundo moderno
Manter essa conexão autêntica torna-se cada vez mais desafiador em uma era de mídias sociais e feedback instantâneo. Muitas empresas caem na armadilha de tentar responder a cada crítica ou seguir cada tendência viral. A Nintendo, curiosamente, mantém uma postura mais reservada - ouvindo seus fãs, mas não sendo governada por eles.
Há uma sabedoria nessa abordagem. Em vez de reagir a cada opinião nas redes sociais, a Nintendo parece focar em entender as necessidades e desejos profundos de sua base de fãs. Eles observam como as pessoas jogam, o que compartilham, que experiências valorizam - não apenas o que postam online.
Essa nuance faz toda a diferença. É a distância entre criar o que os fãs pedem e criar o que eles realmente desejam, mesmo que não consigam expressar. A Nintendo frequentemente surpreende com inovações que ninguém sabia que queria - do Wii Remote ao conceito híbrido do Switch - porque entende seus jogadores em um nível mais fundamental.
O sucesso do Switch 2 apenas comprova essa tese. Em um momento onde muitas empresas focavam em cloud gaming ou realidade virtual, a Nintendo dobrou a aposta no conceito que já funcionava - mas significativamente melhorado. Os jogadores responderam com entusiasmo, mostrando que evolução consistente muitas vezes supera revoluções mal calculadas.
Com informações do: Adrenaline