Mercado paralelo prospera apesar das restrições
As sanções dos EUA contra a exportação de GPUs da NVIDIA para a China não impediram que um mercado paralelo movimentasse impressionantes US$ 1 bilhão em aceleradores de IA nos últimos três meses. Segundo investigação do Financial Times, placas de alto desempenho como as modelos H100, H200 e a poderosa B200 continuam chegando ao país asiático através de canais não oficiais.

Curiosamente, até mesmo a H20 - versão criada especificamente para atender às restrições chinesas - enfrentou obstáculos recentes, o que pode ter impulsionado ainda mais a demanda por modelos mais potentes no mercado negro. A NVIDIA anunciou que retomará as vendas de uma nova versão do H20 em breve, mas especialistas duvidam que isso diminua significativamente o fluxo de placas paralelas.
A posição da NVIDIA sobre as exportações não autorizadas
Questionada pelo Financial Times, a NVIDIA afirmou categoricamente que "não tem evidências de nenhum extravio de chips para IA" e que qualquer envio irregular não partiria da empresa. Em comunicado, a fabricante argumentou que "data centers precisam de serviço e suporte, que nós oferecemos apenas para produtos autorizados da NVIDIA".

No entanto, o volume reportado pelo jornal britânico parece contradizer essa narrativa. Um distribuidor chinês, em condição de anonimato, resumiu a situação ao FT: "A história mostrou muitas vezes antes que, dado um imenso lucro, atravessadores sempre vão encontrar um caminho".
Rotas alternativas e o futuro das sanções
Evidências sugerem que países do sudeste asiático como Malásia e Tailândia estão sendo usados como pontos de transbordo para burlar os controles americanos. Situação semelhante já havia sido denunciada envolvendo Singapura no início do ano.
Fontes indicam que o governo dos EUA já estaria considerando medidas mais duras contra esses países, e esse novo relatório pode acelerar tais decisões. A questão que fica é: até que ponto as sanções podem realmente conter a demanda chinesa por tecnologia de ponta?
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Via: Engadget
Impacto no desenvolvimento de IA na China
Esse fluxo constante de hardware de ponta está alimentando o avanço acelerado da inteligência artificial no país. Empresas chinesas como Baidu e Alibaba continuam lançando modelos competitivos, levantando questões sobre a eficácia real das restrições tecnológicas. Um relatório interno obtido pelo South China Morning Post sugere que cerca de 60% das GPUs usadas em data centers de IA na China seriam de origem "não oficial".
O paradoxo é evidente: enquanto os EUA tentam limitar o acesso chinês à tecnologia de IA, essas mesmas restrições estão criando um ecossistema paralelo extremamente lucrativo. "É irônico que as sanções estejam enriquecendo intermediários em vez de realmente frear o desenvolvimento tecnológico chinês", comentou um analista de semicondutores que pediu para não ser identificado.
Preços inflacionados e guerra de estoques
No mercado paralelo, os preços chegam a ser três vezes maiores que os valores oficiais. Uma única GPU H100, que custa cerca de US$ 30.000 diretamente da NVIDIA, pode alcançar incríveis US$ 90.000 em leilões clandestinos na China. Isso criou um fenômeno curioso: algumas startups ocidentais estão revendendo suas próprias aquisições para o mercado chinês com lucros exorbitantes.
Relatos de Hong Kong descrevem um verdadeiro jogo de gato e rato nas fronteiras. "Eles desmontam as GPUs e as enviam como peças de reposição para servidores", explica um comerciante de componentes eletrônicos. "Às vezes as placas chegam camufladas como equipamento médico ou peças automotivas."
Reações políticas e possíveis cenários
O Congresso americano já discute ampliar as sanções para incluir não apenas a NVIDIA, mas também empresas terceiras que facilitem o comércio indireto. Um projeto de lei em análise propõe multas pesadas para qualquer companhia que venda produtos contendo GPUs restritas para entidades chinesas, mesmo que através de intermediários.
Enquanto isso, a China acelera seus planos de autossuficiência em chips. A SMIC, principal fabricante chinesa, prometeu começar a produção em massa de GPUs para IA até o final de 2025. Mas especialistas duvidam que essas soluções domésticas possam competir com a NVIDIA no curto prazo. "Eles podem replicar o hardware até certo ponto, mas o software e o ecossistema CUDA são outra história", observa um engenheiro de Silicon Valley.
O Departamento de Comércio dos EUA enfrenta um dilema complexo: endurecer ainda mais as restrições pode prejudicar empresas americanas e aliadas, enquanto medidas mais brandas arriscam perder o controle sobre a transferência tecnológica. Nesse jogo geopolítico de xadrez, cada movimento gera consequências imprevisíveis para o mercado global de tecnologia.
Com informações do: Adrenaline