O aguardado Ghost of Yotei, sucessor espiritual do aclamado Ghost of Tsushima, foi um dos grandes destaques da Opening Night Live da Gamescom 2025 com um trailer impressionante que revelou novos detalhes sobre sua jogabilidade e o tão esperado modo Legends. A desenvolvedora Sucker Punch Productions apresentou um vislumbre mais aprofundado do que os jogadores podem esperar quando o título for lançado em outubro exclusivamente para PS5.

Ambientação histórica e protagonista Ainu

Diferentemente do primeiro jogo que se passava em Tsushima durante a invasão mongol, Ghost of Yotei nos transporta para o ano de 1603 em Hokkaido, a ilha mais ao norte do Japão. O que mais me impressiona nesta escolha é a representação dos Ainu, um povo indígena do Japão que raramente aparece na mídia mainstream.

Atsu, nossa protagonista, é uma heroína de origem Ainu – uma decisão narrativa corajosa que promete explorar aspectos culturais muitas vezes negligenciados na representação do período feudal japonês. A cultura Ainu possui tradições, espiritualidade e visão de mundo distintas da cultura japonesa dominante, o que deve adicionar camadas fascinantes à narrativa.

Estou particularmente curioso para ver como a Sucker Punch abordará as complexas relações entre o povo Ainu e o recém-estabelecido xogunato Tokugawa, que consolidou seu poder exatamente em 1603. Este contexto histórico oferece um pano de fundo riquíssimo para conflitos políticos e culturais.

Modo Legends: Evolução da experiência cooperativa

O trailer da Gamescom confirmou o retorno do modo Legends, a experiência cooperativa online que foi uma surpresa extremamente popular no primeiro jogo. Desta vez, porém, parece que a modalidade recebeu expansões significativas.

Pelos vislumbres mostrados, podemos esperar:

  • Novas classes inspiradas na cultura Ainu

  • Mecânicas de cooperação aprimoradas

  • Inimigos e chefes com designs baseados no folclore do norte do Japão

  • Progressão de personagem mais profunda

O modo Legends original já era excepcional – uma experiência cooperativa que realmente se sentia integrada ao universo do jogo, não apenas um acréscimo superficial. Se a Sucker Punch conseguiu expandir esta fórmula, temos potencial para uma das melhores experiências cooperativas do ano.

Gameplay e inovações técnicas

O trailer demonstrou avanços visuais significativos em relação ao primeiro jogo, o que era esperado dado o salto para exclusividade no PS5. Os ambientes de Hokkaido mostram uma diversidade impressionante – desde florestas boreais nevadas até costa rochosa e planícies vulcânicas.

Nota-se também evolução no sistema de combate. A movimentação de Atsu parece mais ágil e fluida, com animações que sugerem incorporação de elementos da cultura de luta Ainu. As sequências de furtividade mostram maior interação com o ambiente, possivelmente indicando mecânicas de camuflagem e uso de recursos naturais mais sofisticadas.

E claro, não podemos ignorar a direção de arte que continua deslumbrante. A paleta de cores para Hokkaido no outono promete ser tão fotogênica quanto os campos de Tsushima, mas com uma atmosfera completamente diferente – mais selvagem e imponente.

Uma das coisas que mais me chamou atenção no trailer foi a aparente integração mais orgânica entre a narrativa principal e o modo Legends. Diferente do primeiro jogo onde era uma experiência separada, há indícios de que as missões cooperativas podem estar entrelaçadas com a campanha solo – talvez através de visões espirituais ou encontros com entidades do folclore Ainu que exigem cooperação entre jogadores.

E falando em folclore, a mitologia Ainu oferece um terreno fantástico para a criatividade dos desenvolvedores. Enquanto Ghost of Tsushima se baseava principalmente nos yokai e lendas do sul do Japão, o norte possui suas próprias criaturas e histórias assustadoras. Imagino que enfrentaremos versões reimaginadas de entidades como o Repun Kamuy (deus dos mares e das criaturas marinhas) ou o horrível Horkew Kamuy, um deus corvo que pode assumir forma humana.

O sistema climático também parece ter evoluído consideravelmente. Em determinados momentos do trailer, notamos tempestades de neve que não apenas afetam a visibilidade, mas parecem influenciar diretamente a jogabilidade. Talvez a neve profunda exija diferentes estratégias de movimento e combate, enquanto ventos fortes podem afetar a precisão do arco e flecha. São esses pequenos detalhes que transformam um ambiente de meramente bonito para verdadeiramente interativo.

Exploração e mundo aberto

Hokkaido na era feudal era uma terra de fronteira – selvagem, pouco explorada e perigosa. A Sucker Punch parece estar aproveitando esta ambientação para criar uma experiência de exploração mais desafiadora e orgânica que a de Tsushima. Notei a ausência do "vento guia" no trailer, o que me faz pensar que talvez tenhamos um sistema de navegação completamente diferente, talvez baseado em sinais naturais ou animais espírito.

E que tal a possibilidade de sobrevivência? As condições climáticas extremas do norte do Japão poderiam introduzir mecânicas de gestão de temperatura – talvez precisemos procurar abrigo durante tempestades, acender fogueiras para nos mantermos aquecidos, ou até mesmo caçar para obter recursos. Seria uma adição ousada, mas que faria todo o sentido dentro do contexto do jogo.

As atividades de mundo aberto também prometem ser mais variadas. Além dos tradicionais santuários e pontos de interesse, o trailer sugere encontros com aldeias Ainu onde poderemos aprender técnicas especiais, participar de rituais ou ajudar a comunidade com problemas específicos. Esta abordagem poderia transformar atividades secundárias de meras checklist em experiências culturalmente significativas.

Personalização e progressão

O visual de Atsu muda significativamente ao longo do trailer, indicando um sistema de personalização mais robusto. Diferente de Jin Sakai que seguia principalmente a estética samurai, Atsu parece poder misturar elementos Ainu com equipamentos japoneses – talvez refletindo sua posição entre duas culturas.

Notem as diferentes armaduras mostradas: desde trajes tradicionais Ainu com padrões intricados até equipamentos mais pragmáticos inspirados nos guerreiros do xogunato. E as armas! Além da katana, vemos Atsu usando um makiri (faca tradicional Ainu), arcos assimétricos e até uma arma peculiar que parece uma combinação de espada e gancho.

O sistema de habilidades provavelmente também refletirá esta dualidade cultural. Talvez possamos escolher entre desenvolver técnicas de combate Ainu mais baseadas em furtividade e conhecimento do terreno, ou estilos mais agressivos inspirados nos samurais. E quem sabe não exista uma terceira via – uma fusão de ambos que seria única para nossa protagonista?

E não me surpreenderia se a customização estendesse-se ao modo Legends, permitindo criar personagens cooperativos com visual e habilidades únicas baseadas em diferentes aspectos da cultura Ainu. Imagine poder jogar como um usuário de ikupasuy (bastão ritual) com habilidades de suporte, ou um caçador especializado em armadilhas e ataques à distância.

Potenciais desafios narrativos

Representar a cultura Ainu com autenticidade e respeito será crucial para o sucesso do jogo. A Sucker Punch certamente consultou especialistas e membros da comunidade Ainu, mas ainda assim é um território sensível. Como equilibrar entretenimento com representação cultural responsável? Como contar uma história envolvente sem cair em estereótipos ou apropriação cultural?

Outro desafio interessante: como retratar o conflito entre Ainu e japoneses sem simplificá-lo em "bons versus maus"? O período histórico era incrivelmente complexo, com ambos os lados tendo suas próprias justificativas e contradições. Atsu, sendo de herança mista, provavelmente enfrentará dilemas morais muito mais nuanceados que os de Jin em Tsushima.

E que tal a língua? Ghost of Tsushima foi aclamado por oferecer dublagem em japonês autêntico com opções de legenda. Será que teremos opções para ouvir diálogos em língua Ainu? Seria um gesto maravilhoso de preservação cultural e imersão.

Com informações do: IGN Brasil