O reconhecimento dos erros

Pat Gelsinger, ex-CEO da Intel, fez uma revelação surpreendente em entrevista à Nikkei Asia: a empresa errou feio em sua abordagem à Inteligência Artificial durante sua gestão. O erro foi ainda mais evidente quando Gelsinger presumiu que "inferência" era tudo o que importava, enquanto concorrentes como a NVIDIA já investiam pesado no treinamento de modelos.

Pat Gelsinger, ex-CEO da Intel

Enquanto a Intel focava em inferência, a NVIDIA não apenas dominava o mercado de treinamento de IA como hoje construi 100 fábricas dedicadas à tecnologia. Gelsinger chegou a subestimar a tecnologia CUDA da NVIDIA, chamando-a de "fosso", mas a realidade mostrou que era justamente essa tecnologia que daria à concorrente uma vantagem esmagadora.

As consequências para a Intel

Os efeitos dessa estratégia equivocada são visíveis hoje. O projeto Falcon Shores, acelerador de IA da Intel, foi cancelado. Enquanto isso, a empresa tenta entrar no mercado de rack-scale com o Jaguar Shores, mas concorrentes como NVIDIA e AMD já dominam esse espaço há anos.

Novo CEO da Intel, Lip-Bu Tan

A situação financeira da Intel reflete esses problemas: as ações atingiram os níveis mais baixos em 16 anos, a empresa demitiu 15% de seus funcionários no ano passado e há rumores de que pode cortar até 20% da força de produção.

A tentativa de recuperação

O novo CEO, Lip-Bu Tan, parece estar mudando o rumo da empresa. Ele prometeu "consertar o que há de errado" e está se afastando da estratégia "IDM 2.0", que previa manter a fabricação interna de chips - uma abordagem que vinha sendo criticada pelo mercado.

Enquanto isso, no mercado de IA, os aceleradores Gaudi da Intel testemunharam pouca adoção, especialmente por empresas de nuvem. A NVIDIA, por outro lado, registrou receita recorde no primeiro trimestre de 2025, mesmo com restrições às exportações para a China.

Gráfico mostrando crescimento da NVIDIA no mercado de IA

O que fica claro é que a Intel perdeu o bonde da IA em um momento crucial. Enquanto concorrentes construíam ecossistemas completos, a Intel focou em aspectos específicos que se mostraram menos relevantes. Agora, a empresa precisa correr atrás do prejuízo em um mercado que já movimenta centenas de bilhões.

O impacto no mercado de semicondutores

A posição da Intel no mercado global de chips está se tornando cada vez mais frágil. Enquanto a empresa luta para se reposicionar, a TSMC e a Samsung continuam avançando na produção de chips de última geração. A Intel, que já foi líder incontestável, agora ocupa apenas 15% do mercado de foundry, um espaço que já foi seu domínio exclusivo.

O que muitos analistas estão questionando é se a Intel ainda tem capacidade de inovar. A arquitetura x86, que foi a base de seu sucesso por décadas, está sendo desafiada por designs ARM mais eficientes. Até mesmo a Apple, que era cliente da Intel, migrou completamente para seus próprios chips M-series - um golpe significativo para a empresa.

Comparativo entre chips Intel, AMD e Apple

Os desafios na produção

A decisão da Intel de manter a fabricação interna de chips - a chamada estratégia IDM (Integrated Device Manufacturer) - está se mostrando um erro caro. Enquanto concorrentes terceirizavam produção para foundries especializadas como TSMC, a Intel insistia em controlar todo o processo. O resultado? Atrasos crônicos na transição para nós de 7nm e 5nm, enquanto a TSMC já iniciava produção em massa de chips de 2nm.

Os problemas de produção têm um efeito cascata. Fabricantes de PCs estão cada vez mais optando por chips AMD em seus dispositivos premium. A Dell, por exemplo, que era praticamente sinônimo de Intel, agora oferece linhas completas com processadores Ryzen. E no segmento de servidores, a AMD Epyc vem ganhando participação de mercado de forma consistente.

A corrida pela computação quântica

Enquanto tenta recuperar o terreno perdido em IA tradicional, a Intel também está ficando para trás na próxima fronteira da computação: a quântica. Empresas como IBM e Google já demonstraram processadores quânticos com mais de 1000 qubits, enquanto a Intel ainda está nos estágios iniciais de pesquisa com sua abordagem de spin qubits.

O departamento de P&D da Intel, que já foi o orgulho da empresa, parece ter perdido o foco. Investimentos foram cortados em áreas críticas para priorizar projetos de curto prazo. Um ex-engenheiro da Intel, que pediu para não ser identificado, relatou que "a cultura de inovação foi substituída por uma mentalidade de sobrevivência".

Laboratório de computação quântica da Intel

A resposta dos investidores

O mercado financeiro está claramente descontando o futuro da Intel. Analistas do Goldman Sachs recentemente rebaixaram a ação para 'venda', com previsão de queda adicional de 30%. O argumento? A Intel está perdendo relevância em todos os mercados-chave: consumidor, servidores e agora IA.

Fundos de investimento estão realocando recursos para empresas como NVIDIA, AMD e até mesmo para startups de IA. Um relatório recente da Morgan Stanley mostrou que US$ 12 bilhões foram retirados da Intel apenas no último trimestre, redirecionados para seus concorrentes diretos.

Com informações do: Adrenaline