Reivindicações da indústria nacional de jogos

Um grupo de desenvolvedores independentes brasileiros que participaram da gamescom latam decidiu se manifestar publicamente sobre as dificuldades enfrentadas durante o evento. Eles publicaram uma carta aberta dirigida aos organizadores, solicitando mudanças significativas para as próximas edições.

Entre os principais pontos levantados estão os altos custos de participação e a falta de suporte básico para expositores independentes. Muitos relatam ter gasto quantias consideráveis apenas para apresentar seus jogos no evento, sem receber o retorno esperado.

Principais demandas dos desenvolvedores

Na carta, os profissionais listam uma série de melhorias que consideram essenciais:

  • Auxílio para transporte e hospedagem

  • Vouchers de alimentação durante o evento

  • Redução nos preços exorbitantes de aluguel de equipamentos básicos

  • Melhor organização dos espaços para desenvolvedores independentes

"É frustrante ver que muitos de nós precisamos escolher entre almoçar ou pagar pelo aluguel de uma TV para demonstrar nosso jogo", comenta um dos signatários da carta, que preferiu não se identificar.

O impacto na cena indie brasileira

A gamescom latam representa uma oportunidade única para desenvolvedores brasileiros mostrarem seu trabalho para um público amplo. Mas será que os custos estão tornando o evento inacessível justamente para quem mais precisa de visibilidade?

Alguns estúdios relatam ter gasto mais de R$ 5.000 apenas para participar do evento - um valor proibitivo para a maioria dos pequenos desenvolvedores. E isso sem contar os custos indiretos como transporte, alimentação e hospedagem na cidade de São Paulo, onde o evento foi realizado.

Comparação com outros eventos internacionais

Quando colocamos a gamescom latam lado a lado com eventos similares no exterior, como a gamescom de Colônia ou a PAX nos EUA, as diferenças no tratamento aos desenvolvedores independentes saltam aos olhos. Enquanto esses eventos oferecem programas específicos para indies, com descontos substanciais e até áreas exclusivas, a versão latino-americana ainda parece engatinhar nesse aspecto.

"Participamos da Indie Arena na Alemanha no ano passado e foi uma experiência completamente diferente", relata Ana Beatriz, da equipe do jogo Horizonte Perdido. "Lá tínhamos estrutura adequada, suporte técnico e até mentoria com publishers - tudo incluso no pacote básico. Aqui sentimos que estamos pagando caro por um serviço que não atende nossas necessidades básicas."

O lado dos organizadores

Procurados para comentar as críticas, representantes da gamescom latam afirmaram que estão analisando as sugestões para futuras edições. Em nota enviada à imprensa, destacaram que "o evento ainda está em sua fase inicial na região e que estão comprometidos em melhorar a experiência para todos os participantes".

Porém, alguns desenvolvedores questionam essa postura. "Ouvi essa mesma resposta no ano passado, e pouca coisa mudou", diz Ricardo Moraes, do estúdio Pixel Tropical. "Precisamos de ações concretas, não apenas de promessas. A indústria brasileira de jogos está crescendo, mas eventos como esse podem acabar sufocando quem está tentando mostrar seu trabalho."

Alternativas que estão surgindo

Diante das dificuldades, parte da comunidade de desenvolvedores começou a buscar outros caminhos. Eventos menores e mais acessíveis, como a BIG Festival, ganham cada vez mais relevância como espaços para mostrar jogos independentes.

Além disso, plataformas digitais e mostras online têm se mostrado alternativas viáveis para muitos estúdios. "Nos últimos dois anos, conseguimos mais visibilidade participando de eventos virtuais do que em feiras presenciais", comenta Juliana Castro, da desenvolvedora Ludus Lab. "É claro que o contato direto com o público é insubstituível, mas quando os custos são proibitivos, precisamos ser pragmáticos."

O debate sobre o futuro da gamescom latam parece estar apenas começando. Enquanto isso, muitos estúdios independentes seguem avaliando se vale a pena investir pesado na participação ou se devem direcionar seus recursos limitados para outras estratégias de divulgação. A pressão por mudanças continua crescendo, e os organizadores terão que decidir se querem realmente apoiar a cena local ou se manterão como um evento mais voltado para as grandes empresas do setor.

Com informações do: IGN Brasil