O cancelamento abrupto de Concord, jogo de tiro da Sony desenvolvido pela Firewalk Studios, deixou a indústria de games perplexa. Apenas duas semanas após seu lançamento, o título foi retirado das prateleiras digitais, gerando reembolsos para todos os jogadores e levantando questões sobre o que realmente aconteceu por trás dos bastidores.
O investimento milionário e as expectativas
Relatórios indicam que o acordo inicial de desenvolvimento de Concord chegou a impressionantes US$ 200 milhões. Esse valor astronômico criou expectativas enormes tanto dentro da Sony quanto entre os jogadores. A Firewalk Studios, adquirida pela Sony em 2023, tinha a tarefa de criar um sucesso live-service que competisse com títulos estabelecidos como Overwatch e Destiny.
Mas aqui está o problema: o mercado de jogos live-service está absurdamente saturado. Lançar um novo competidor exige não apenas qualidade técnica, mas também um hook único que capture a atenção dos jogadores. Concord, apesar de seu orçamento generoso, parece não ter encontrado essa fórmula mágica.
O desempenho catastrófico
Os números falam por si mesmos. No Steam, plataforma líder de distribuição digital, Concord atingiu um pico miserável de apenas 1.124 jogadores simultâneos. Para um jogo com orçamento de centenas de milhões, esses números são praticamente inexistentes.
O que torna essa situação ainda mais intrigante é que a Sony normalmente não cancela projetos tão rapidamente. A empresa tem histórico de apoiar títulos mesmo quando não performam imediatamente bem. No caso de Concord, porém, a decisão foi surpreendentemente rápida - quase como se reconhecessem que não havia esperança de recuperação.
As lições para a indústria
O fracasso de Concord levanta questões importantes sobre a estratégia da Sony no mercado de games. A empresa claramente quer uma fatia do lucrativo mercado live-service, mas até agora tem enfrentado dificuldades significativas.
Alguns desenvolvedores anônimos que trabalharam no projeto comentaram sobre os desafios internos. Um deles mencionou que "ele não merecia isso", referindo-se ao jogo, sugerindo que havia qualidades no título que simplesmente não ressoaram com o público.
O caso Concord serve como alerta para toda a indústria: orçamentos enormes não garantem sucesso. A conexão com a comunidade, a identidade única do jogo e o timing de lançamento são fatores igualmente cruciais que podem determinar o destino de um título, não importa quanto dinheiro foi investido em seu desenvolvimento.
Os desafios de identidade e o mercado saturado
Analisando mais profundamente, Concord enfrentou um problema fundamental de identidade. Os jogadores que experimentaram o título relataram uma sensação de "já visto" - como se estivessem jogando uma mistura de Overwatch com Destiny, mas sem a alma que faz esses jogos serem especiais. E no mundo dos games, ser apenas "mais um" é basicamente uma sentença de morte.
O que me surpreendeu foi como a Sony, normalmente tão cuidadosa com suas IPs, subestimou a importância de uma identidade visual única. Os personagens, embora tecnicamente bem produzidos, não tinham aquele carisma instantâneo que faz você querer conhecê-los melhor. Lembro de ver o trailer pela primeira vez e pensar: "São bonitos, mas... e daí?"
O timing também foi desastroso. Concord chegou em um momento onde jogadores estão exaustos de serviços live-service que prometem mundos e fundos, mas entregam experiências incompletas. A comunidade está mais cautelosa do que nunca, especialmente depois de casos como Anthem e Marvel's Avengers.
O fator comunidade e a falta de engajamento
Um aspecto crucial que muitas publicadoras ainda não entendem: jogos live-service vivem ou morrem pela comunidade. Concord praticamente não teve prévia aberta significativa, nem programas de teste beta que envolvessem os jogadores desde cedo. Como esperavam construir uma base de fãs sem deixá-los participar do processo?
Conversando com alguns colegas da indústria, ouvi relatos de que a Firewalk estava tão focada em polir cada detal técnico que esqueceu do elemento humano. Os sistemas de progressão eram complexos demais para novos jogadores, mas superficiais para veteranos do gênero. Uma daquelas situações onde tentaram agradar a todos e não agradaram ninguém.
E não podemos ignorar o modelo de negócios. Num mercado onde Valorant é free-to-play e Overwatch 2 abandonou o preço inicial, lançar um jogo full price com microtransações era praticamente um tiro no pé. Os jogadores modernos simplesmente não aceitam mais esse modelo, especialmente para um IP completamente novo.
As repercussões internas na Sony
Fontes próximas à Sony revelam que o fracasso de Concord causou um terremoto interno. A estratégia de aquisição de estúdios para focar em serviços live-service está sendo seriamente questionada. Afinal, a Firewalk não era qualquer estúdio - era composto por veteranos de Destiny, Halo e Call of Duty. Se nem eles conseguiram, quem conseguiria?
O mais preocupante é que este não é um caso isolado. A Sony cancelou pelo menos outros dois projetos live-service nos últimos meses, sugerindo uma crise mais profunda na estratégia da empresa. O que isso significa para o futuro do PlayStation? Será que vamos ver um retorno aos single-players narrativos que fizeram sucesso na era PS4?
Alguns analistas especulam que a pressão por receita recorrente está levando a Sony a tomar decisões arriscadas. Com a margem de lucro em hardware diminuindo a cada geração, os serviços tornaram-se tentadores demais para ignorar. Mas Concord prova que simplesmente jogar dinheiro no problema não é a solução.
O que me deixa curioso é como isso afetará outras estúdios da Sony. Insomniac, Naughty Dog e Santa Monica têm seus próprios projetos live-service em desenvolvimento. Será que Concord servirá como alerta vermelho para repensarem suas abordagens?
Com informações do: IGN Brasil