O sucesso inicial de Monster Hunter Wilds, que vendeu mais de 10 milhões de cópias logo após seu lançamento em fevereiro, rapidamente encontrou um obstáculo inesperado: o alto custo do PlayStation 5. A Capcom, desenvolvedora do jogo, identificou que o preço elevado do console se tornou uma barreira significativa para muitos jogadores em potencial, especialmente entre o público mais jovem.

O impacto financeiro do ecossistema de jogos
Haruhito Tsujimoto, presidente da Capcom, revelou em entrevista à Nikkei que o custo total para jogar Monster Hunter Wilds pode chegar a impressionantes 100 mil ienes (cerca de R$ 3.690). Esse valor inclui não apenas o console, mas também o jogo em si e a assinatura necessária para o modo online. "Esse não é um preço facilmente acessível, especialmente para as gerações mais novas", explicou Tsujimoto, destacando que essa realidade se repete tanto no Japão quanto no mercado internacional.
E pensar que muitos fãs da série podem estar sendo excluídos simplesmente por questões financeiras... É uma situação complicada para uma franquia que sempre teve um apelo bastante amplo. Na minha experiência, já vi vários amigos adiarem a compra de consoles da geração atual justamente por conta desses custos acumulados.
Estratégias da Capcom para reverter a situação
Diante desse cenário desafiador, a Capcom já está traçando planos para impulsionar as vendas de Monster Hunter Wilds. A empresa pretende lançar novas atualizações e eventos especiais, além de realizar períodos promocionais com descontos significativos no preço do jogo. Essas medidas visam tornar a experiência mais acessível para quem já possui o console, mas ainda hesita em adquirir o título pelo preço cheio.

O contraste com o Nintendo Switch 2
Tsujimoto utilizou o Nintendo Switch 2 como exemplo de como uma estratégia de preço bem planejada pode resultar em sucesso imediato. O console da Nintendo quebrou recordes de vendas em seu lançamento, demonstrando que o valor de entrada é um fator crucial na decisão de compra dos consumidores. Curiosamente, porém, o executivo não deu qualquer indicação de que Monster Hunter Wilds possa chegar ao console híbrido da Nintendo.
O que me surpreende é que, mesmo em um estágio avançado da geração atual, os preços dos consoles não apresentaram a queda tradicional que costumávamos ver em ciclos anteriores. Pelo contrário: guerras tarifárias e pressões inflacionárias fizeram com que PS5, Xbox Series X|S e até mesmo a primeira geração do Switch ficassem mais caros agora do que em seus lançamentos originais.
Será que estamos testemunhando uma mudança permanente no modelo de negócios dos consoles? A indústria parece estar em um ponto de inflexão onde o custo de entrada está se tornando uma barreira cada vez mais significativa para uma parcela considerável do público.
Fonte: VGC
O efeito cascata no mercado de jogos
O problema identificado pela Capcom vai muito além de um único jogo ou franquia. Estamos vendo um fenômeno que está remodelando todo o ecossistema de games. Desenvolvedores de médio porte, em particular, estão sentindo o impacto de forma ainda mais aguda. Muitos dependem das vendas no PlayStation para manter a viabilidade financeira de seus projetos, mas agora enfrentam um público potencialmente menor devido às barreiras de entrada.
E não são apenas os consoles em si. O custo dos jogos AAA também subiu consideravelmente – R$ 350 se tornou o novo normal para lançamentos de grande porte. Quando você soma isso ao preço do hardware e à assinatura online, o investimento inicial para entrar na geração atual chega a ser proibitivo para muitas famílias.
Na prática, isso significa que jogadores estão demorando mais para migrar para a nova geração, o que por sua vez reduz as vendas potenciais de jogos como Monster Hunter Wilds. É um ciclo difícil de quebrar, especialmente quando não há sinais de que os preços dos consoles vão cair significativamente em um futuro próximo.
Alternativas que estão ganhando espaço
Diante dessa realidade, muitas pessoas estão buscando alternativas. Os serviços de cloud gaming, como Xbox Cloud Gaming e GeForce Now, oferecem uma maneira de acessar jogos de nova geração sem investir em hardware caro. Embora ainda dependam de uma conexão de internet robusta, representam uma opção interessante para quem quer experimentar títulos como Monster Hunter Wilds sem o compromisso financeiro total.
Outra tendência que tenho observado é o aumento no interesse por jogos em PCs. Embora o hardware de PC também possa ser caro, a flexibilidade de poder atualizar componentes gradualmente e a vasta biblioteca de jogos com preços mais acessíveis nas plataformas de distribuição digital estão atraindo muitos jogadores que antes preferiam consoles.
E não podemos esquecer do mercado secundário. A revenda de consoles usados e jogos físicos se tornou uma economia paralela significativa. Muitos jogadores estão optando por comprar PS5s usados ou esperar por promoções agressivas – estratégias que, embora inteligentes para o consumidor, acabam impactando as receitas tanto dos fabricantes de consoles quanto das publishers.
O dilema dos desenvolvedores
Para empresas como a Capcom, essa situação cria um dilema estratégico complexo. Por um lado, desenvolver exclusivamente para a geração atual significa acessar o poder gráfico e técnico dos novos consoles, mas com um público potencialmente menor. Por outro, lançar também para a geração anterior (PS4 e Xbox One) amplia o alcance, mas limita a ambição técnica dos jogos.
Monster Hunter Wilds é exclusivo da nova geração, o que sugere que a Capcom apostou na migração mais rápida dos jogadores. Mas as declarações de Tsujimoto indicam que essa aposta pode não estar dando tão certo quanto esperado. Será que veremos mais desenvolvedores reconsiderando essa estratégia?
Algumas empresas já estão adotando uma abordagem diferente. A Activision, por exemplo, continuou lançando Call of Duty para PS4 mesmo anos após o lançamento do PS5. Essa estratégia "cross-gen" prolongada pode se tornar mais comum se os preços dos consoles permanecerem elevados.
O que me preocupa é que essa situação pode criar uma divisão ainda maior entre jogadores "premium" que podem pagar pela experiência completa e aqueles que ficarão para trás devido a restrições financeiras. A indústria sempre teve diferentes níveis de engajamento, mas o gap parece estar se ampliando de forma preocupante.
Fonte: Bloomberg
Com informações do: Adrenaline