Sanções dos EUA aceleram mercado de chips na China
As restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos à China, que incluíram a proibição de vendas de empresas como a NVIDIA, tiveram um efeito inesperado: estimularam o crescimento do mercado local de semicondutores. Um relatório recente do Digitimes revela que a China está se adaptando rapidamente às novas condições, transformando obstáculos em oportunidades.

Jensen Huang, CEO da NVIDIA, admitiu publicamente que os controles de exportação foram um erro estratégico. Enquanto sua empresa sofria perdas bilionárias, companhias chinesas como a Huawei aproveitaram o vácuo para dominar o mercado de hardwares especializados em inteligência artificial.
Estratégia "China pela China" impulsiona crescimento
O caso da Zhen Ding exemplifica essa adaptação. Ao adotar uma política de autossuficiência, a empresa aumentou sua receita anual em 23% através de investimentos agressivos em substratos. O Digitimes projeta que essa expansão deve continuar, possivelmente incluindo operações em Taiwan para atender à crescente demanda interna.

O relatório sugere que "as sanções americanas podem estar acelerando as ambições chinesas na área de semicondutores", criando um cenário onde o país pode emergir mais forte diante das adversidades. Embora tecnicamente atrás de gigantes como a NVIDIA, as empresas chinesas agora operam em um ambiente com menos concorrência internacional.
Mesmo com a suspensão temporária de novas tarifas por 90 dias, muitos analistas consideram a situação irreversível. A indústria chinesa de semicondutores parece ter encontrado seu caminho, independentemente das futuras decisões políticas.
Fontes: Tom's Hardware, Digitimes
Investimentos bilionários e avanços tecnológicos
O governo chinês não está poupando recursos para garantir sua independência tecnológica. Somente em 2024, foram anunciados mais de US$ 40 bilhões em subsídios para a indústria local de chips, segundo dados do Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação. Esse valor supera em quase três vezes os investimentos feitos no ano anterior, mostrando uma clara aceleração na resposta às sanções.
Empresas como a SMIC (Semiconductor Manufacturing International Corporation) estão colhendo os frutos dessa política. Recentemente, a fabricante chinesa surpreendeu o mercado ao anunciar chips de 7nm produzidos domesticamente, uma conquista que muitos especialistas consideravam impossível sem equipamentos ocidentais. Embora ainda haja desafios de produção em massa, o avanço demonstra a capacidade de inovação sob pressão.
Reconfiguração das cadeias de suprimentos
As sanções também estão remodelando as relações comerciais na Ásia. Países como Malásia e Vietnã têm se beneficiado com a "desocidentalização" da indústria de semicondutores, recebendo investimentos chineses para criar rotas alternativas de fornecimento. A Huawei, por exemplo, estabeleceu joint ventures com fabricantes malaios para produção de chips menos avançados, mas essenciais para eletrônicos de consumo.
Curiosamente, algumas empresas taiwanesas estão se reposicionando nesse novo cenário. Enquanto mantêm parcerias com gigantes ocidentais, começam a fornecer equipamentos semicondutores para a China continental através de intermediários em terceiros países. Essa "diplomacia dos chips" cria um complexo tabuleiro geopolítico onde os interesses comerciais frequentemente superam as tensões políticas.
O paradoxo das sanções tecnológicas
Analistas apontam um efeito contraditório nas restrições americanas: ao dificultar o acesso à tecnologia de ponta, elas forçaram a China a desenvolver soluções próprias em áreas onde antes dependia totalmente de importações. Um relatório interno da TSMC, obtido pelo Nikkei Asia, admite que "as medidas restritivas podem ter reduzido nosso potencial de crescimento no médio prazo, mas criaram competidores inesperados no longo prazo".
O setor de design de chips é um exemplo claro dessa transformação. Antes das sanções, empresas chinesas como a Alibaba dependiam quase exclusivamente de arquiteturas ocidentais. Hoje, a mesma Alibaba Cloud opera com processadores baseados no RISC-V, uma arquitetura aberta que permite maior autonomia no desenvolvimento. Será que as restrições comerciais acabaram por diversificar o ecossistema global de semicondutores?
Enquanto isso, o Departamento de Comércio dos EUA enfrenta pressões internas para revisar sua estratégia. Relatórios da Semiconductor Industry Association sugerem que as sanções estão prejudicando mais as empresas americanas do que o alvo original. A NVIDIA, por exemplo, estima ter perdido cerca de US$ 5 bilhões em vendas potenciais apenas no último trimestre, dinheiro que migrou para concorrentes chineses como a Biren Technology.
Com informações do: Adrenaline