Valve altera políticas sob pressão de processadores de pagamento

A Steam, que nos últimos anos vinha adotando uma postura mais aberta em relação a jogos com conteúdo adulto, parece estar recuando em sua posição. Uma atualização nos termos de serviço da plataforma, realizada esta semana, dá à Valve o direito de restringir conteúdos que "violam as regras e padrões estabelecidos pelos processadores de pagamento".

As mudanças são vagas o suficiente para gerar preocupação entre desenvolvedores. Afinal, quem define esses padrões? E até que ponto a Valve está disposta a ceder às exigências de bancos e operadoras de cartão?

Interface da loja Steam mostrando jogos

Primeiras remoções e reações da comunidade

Os efeitos práticos já começaram a aparecer. Títulos como "Sex Adventures - Incest Family" e "Slave of the Police Officer" foram removidos da plataforma. No Reddit, usuários expressam frustração com o que consideram uma censura velada.

"Processadoras de pagamento não deveriam ter esse poder sobre plataformas digitais", argumenta um usuário. Outros apontam para o perigo de permitir que instituições financeiras determinem o que é ou não aceitável em termos de conteúdo criativo.

Impacto na comunidade LGBTQ+ e desenvolvedores independentes

Artistas e criadores de jogos independentes estão entre os mais preocupados. NoahFuel_Gaming, desenvolvedor que se manifestou no BlueSky, alerta para o risco de conteúdos queer serem classificados como "explícitos" mesmo quando não contêm cenas de sexo.

Discussão sobre censura em jogos na Steam

"É assim que o apagamento cultural acontece na era digital", escreveu. "Não com um martelo de banimento, mas com um processador de pagamentos negador." A preocupação é que narrativas pessoais e experiências queer sejam sistematicamente removidas sob o argumento de violar "padrões morais" vagamente definidos.

Vale lembrar que situações semelhantes já ocorreram em outras plataformas como OnlyFans e Patreon. A diferença é que a Steam sempre se posicionou como uma loja mais aberta à diversidade de conteúdo. Será que essa identidade está em risco?

O dilema da classificação e os critérios obscuros

Um dos maiores problemas dessa nova política é a falta de transparência sobre como os jogos serão avaliados. A Valve não especificou quais processadores de pagamento estão influenciando essas decisões, nem quais exatamente são os "padrões" que estão sendo aplicados. Isso cria um cenário onde desenvolvedores podem ter seus jogos removidos sem entender claramente o motivo.

Alguns criadores já relataram receber avisos genéricos sobre "violação de termos" sem explicações detalhadas. "É como jogar dardos no escuro", comenta uma desenvolvedora independente que preferiu não se identificar. "Você passa meses trabalhando em um projeto, só para descobrir que violou alguma regra que nem sabia que existia."

O precedente perigoso e o "efeito dominó"

Especialistas em liberdade digital estão alertando sobre o precedente que essa mudança pode estabelecer. Se processadoras de pagamento conseguem ditar o que é aceitável em uma plataforma como a Steam, o que impede que pressionem outras lojas digitais? E onde traçar a linha entre conteúdo adulto legítimo e material considerado ofensivo?

"Estamos vendo a financeirização da censura", argumenta o professor de direito digital Carlos Mendes. "Quando instituições financeiras assumem o papel de guardiãs morais, elas frequentemente optam por padrões conservadores para minimizar riscos."

Protesto contra censura em jogos

Alguns usuários apontam para casos como o jogo 'Active Shooter', que simulava tiroteios em escolas e foi removido após polêmica. "Se vamos banir jogos por conteúdo sensível, que seja consistente", argumenta um redditor. "Por que alguns jogos violentos permanecem enquanto histórias queer são removidas?"

Alternativas emergentes e a fuga para outras plataformas

Enquanto a situação se desenrola, algumas desenvolvedoras de jogos adultos já começaram a migrar para plataformas alternativas. A Itch.io, conhecida por ser mais aberta a conteúdo experimental, viu um aumento de 40% nos uploads de jogos adultos desde o anúncio da Steam.

Outros criadores estão explorando modelos de distribuição direta, usando sistemas de pagamento menos convencionais como criptomoedas. "É frustrante ter que recorrer a essas soluções", diz o desenvolvedor por trás do jogo "Coming Out Simulator". "Mas quando as grandes plataformas fecham as portas, a comunidade LGBTQ+ sempre encontra um jeito."

A própria Valve parece estar em uma posição delicada. Fontes internas sugerem divisões dentro da empresa sobre como lidar com a pressão financeira versus o compromisso histórico com a liberdade criativa. Enquanto isso, a comunidade aguarda ansiosamente por mais esclarecimentos sobre como essas novas regras serão implementadas na prática.

Com informações do: Adrenaline