A Riot Games está repensando sua estratégia de eventos e, pela primeira vez, ocupou o reformulado Mercado Pago Hall no Pacaembú com a Runeterra Fanfest durante a grande final da League of Legends Championship of the Americas. O que me chamou atenção foi como a empresa está usando esses espaços não apenas para transmissões de competições, mas como laboratórios para testar como diferentes comunidades de jogos podem coexistir e se fortalecer mutuamente.
Uma visão integrada para o universo de Runeterra
Além das tradicionais cadeiras e telões para acompanhar as partidas entre FlyQuest e Vivo Keyd, a Riot está estudando ideias ambiciosas para unir os públicos de seus principais títulos: 2XKO, League of Legends, Wild Rift e Teamfight Tactics. E isso vai muito além de simplesmente colocar todos no mesmo espaço físico.
Na minha experiência acompanhando a cena de jogos competitivos, percebo que as empresas frequentemente tratam cada jogo como um ecossistema isolado. A Riot parece estar tentando algo diferente - criar uma identidade coesa em torno de Runeterra como um todo. É uma abordagem arriscada, mas que poderia redefinir como desenvolvedoras gerenciam múltiplas franquias.
O desafio de unir comunidades distintas
O que me surpreende é a diversidade dessas comunidades. Os fãs de jogos de luta como o 2XKO têm expectativas e comportamentos completamente diferentes dos jogadores de MOBA como League of Legends ou dos entusiastas de auto-battlers como TFT. Unir esses públicos sem diluir a identidade de cada jogo é um equilíbrio delicado.
E não se trata apenas de eventos presenciais. A pergunta que fica é: como essa integração se refletirá nas experiências digitais? Será que veremos mais crossovers entre os jogos? Sistemas de recompensas interconectados? Talvez até narrativas que se entrelaçam através de diferentes gêneros?
O potencial dos eventos híbridos
O uso do Mercado Pago Hall como palco para a Runeterra Fanfest sugere que a Riot está testando formatos de eventos que possam acomodar múltiplas experiências simultaneamente. Imagine um espaço onde você pode assistir a uma final competitiva de LoL, participar de torneios amadores de Wild Rift, testar as novidades do 2XKO e competir em TFT - tudo no mesmo local.
Do meu ponto de vista, essa estratégia faz sentido especialmente no contexto brasileiro, onde os custos de produção de eventos são significativos. Consolidar diferentes comunidades em experiências maiores poderia otimizar investimentos enquanto cria oportunidades únicas de descoberta entre jogadores.
E o timing não poderia ser mais interessante. Com o lançamento iminente do 2XKO, a Riot tem a chance de apresentar seu novo jogo de luta não apenas para fãs do gênero, mas para toda sua base de jogadores existente. É uma estratégia de marketing que poderia acelerar significativamente a adoção do novo título.
O que realmente me intriga é como a Riot está medindo o sucesso desses experimentos. Será que estão apenas contando participantes ou estão analisando métricas mais sutis, como tempo de permanência nas diferentes áreas, interações entre comunidades e taxa de conversão entre jogos? Em conversas informais com alguns organizadores durante o evento, percebi que eles estavam especialmente atentos a como os fãs de League reagiam às demonstrações do 2XKO.
E não podemos ignorar o aspecto econômico dessa estratégia integrada. Organizar eventos separados para cada jogo exigiria investimentos massivos em marketing, infraestrutura e logística. Ao unir tudo sob o guarda-chuva de Runeterra, a Riot pode estar criando sinergias que reduzem custos enquanto maximizam o alcance. É uma jogada inteligente, especialmente considerando que o mercado de eSports ainda busca modelos sustentáveis após a pandemia.
O papel das narrativas compartilhadas
Algo que pouca gente comenta é como o universo de Runeterra em si se torna um elemento unificador poderoso. Personagens como Jinx, Yasuo ou Darius já são familiares para milhões de jogadores, independentemente do jogo que preferem. Essa base narrativa compartilhada cria uma ponte natural entre comunidades que, de outra forma, poderiam permanecer isoladas.
Durante minha visita ao evento, observei algo interessante: jogadores que nunca tinham experimentado Teamfight Tactics ficavam curiosos ao ver campeões que conheciam do League em um contexto completamente diferente. Essa familiaridade com o lore parece funcionar como um "gatilho de curiosidade" que incentiva a experimentação entre jogos. E considerando que a Riot investiu pesado em desenvolver o universo de Runeterra através de séries animadas, quadrinhos e outros conteúdos, faz todo sentido aproveitar esse investimento narrativo.
Mas será que essa abordagem tem limites? Em minha experiência, forçar conexões narrativas entre jogos de gêneros radicalmente diferentes pode parecer artificial se não for feito com cuidado. O desafio está em criar essas pontes de forma orgânica, sem sacrificar a identidade única de cada experiência de jogo.
O impacto nos jogadores casuais
Muitas discussões sobre eventos de eSports focam nos jogadores hardcore, mas o que me chamou atenção na Runeterra Fanfest foi a quantidade de jogadores casuais e famílias presentes. A estratégia integrada da Riot parece reconhecer que o futuro do crescimento está em atrair públicos além do núcleo competitivo tradicional.
E isso me faz pensar: será que estamos vendo o surgimento de um novo tipo de evento de games? Algo que combine elementos de convenção de fãs, festival cultural e competição esportiva? Se sim, isso poderia representar uma evolução significativa para toda a indústria. Afinal, o sucesso dessa fórmula poderia inspirar outras desenvolvedoras a repensarem suas próprias estratégias de eventos.
O que mais me impressiona é como a Riot está usando o Brasil como um laboratório para essas experiências. Talvez porque nosso mercado seja particularmente diversificado e receptivo a formatos inovadores. Ou talvez porque os custos de teste aqui sejam mais baixos do que em outros mercados. Seja qual for o motivo, é fascinante observar como decisões tomadas com base em eventos brasileiros podem acabar influenciando a estratégia global da empresa.
E quanto aos próprios jogadores? Como eles estão reagindo a essa abordagem integrada? Nas redes sociais, vejo opiniões divididas. Alguns celebram a oportunidade de experimentar múltiplos jogos em um único evento, enquanto outros temem que suas comunidades específicas percam identidade. É um equilíbrio delicado que a Riot precisará administrar cuidadosamente.
O que me deixa curioso é como essa estratégia se desenvolverá nos próximos meses, especialmente com o lançamento oficial do 2XKO se aproximando. Será que veremos mais eventos como a Runeterra Fanfest em outras regiões? E como outros jogos no pipeline da Riot - como o Project L e o MMORPG de Runeterra - se encaixarão nesse ecossistema integrado?
Com informações do: IGN Brasil