A estratégia da ASUS para evitar tarifas

A ASUS confirmou que está transferindo a produção de PCs e placas-mãe para outros países, mas com uma particularidade: não está levando essa produção para os Estados Unidos, como seria o desejo do governo americano. Em vez disso, a empresa está optando por países como Tailândia, Vietnã e Indonésia.

Segundo um representante da empresa em teleconferência com investidores, mais de 90% dos PCs e placas-mãe destinados ao mercado americano já estão sendo fabricados fora da China. A informação foi divulgada pela PCMag, que traduziu as declarações.

Guerra comercial entre China e EUA

Embora a ASUS não tenha citado explicitamente as tarifas impostas pelo governo Trump como motivo para a mudança, fica claro que essa é uma resposta às políticas comerciais americanas. Atualmente, produtos importados da China para os EUA enfrentam uma tarifa de 30%, enquanto a maioria dos outros países paga apenas 10%.

Os desafios de produzir nos EUA

Trump já chegou a ameaçar impor um imposto de 100% sobre todos os chips importados, com exceções apenas para empresas que investissem na fabricação local. No entanto, mesmo com essas ameaças, a ASUS não parece interessada em mudar sua produção para os EUA.

Donald Trump anunciando tarifas

E os motivos são compreensíveis: além dos custos mais altos de mão de obra e imóveis, a cadeia de suprimentos para a fabricação de placas-mãe está profundamente enraizada na Ásia. Migrar essa produção para o ocidente seria um desafio logístico e financeiro enorme.

Vale lembrar que a China continua sendo um centro de manufatura extremamente lucrativo, mesmo com as tarifas americanas. A ASUS, como muitas outras empresas, parece estar encontrando maneiras de contornar as barreiras comerciais sem abandonar completamente a região.

Impacto nos preços e na concorrência

As tarifas já estão causando efeitos visíveis no mercado. A Nintendo, por exemplo, aumentou o preço do Switch original nos EUA - um console com quase uma década no mercado. A empresa chegou a adiar o anúncio do Switch 2 para avaliar melhor o impacto das tarifas.

Nintendo Switch com aumento de preço

No caso da ASUS, os laptops anunciados na CES chegaram ao mercado com preços mais altos do que o inicialmente previsto. O ROG Xbox Ally, feito em parceria com a Microsoft, é um dos produtos mais visíveis afetados por essa mudança. Rumores sugerem que o dispositivo pode chegar ao mercado europeu por €599 na versão básica e €899 na versão premium.

ROG Xbox Ally, portátil da ASUS

O panorama geopolítico e suas implicações

A decisão da ASUS reflete um cenário geopolítico complexo. Enquanto os EUA pressionam por uma "desglobalização" seletiva, especialmente em setores estratégicos como tecnologia, as empresas taiwanesas enfrentam um dilema particular. Taiwan, onde a ASUS tem sua sede, mantém relações comerciais delicadas tanto com a China quanto com os EUA.

Curiosamente, a produção na Tailândia e no Vietnã oferece vantagens além da evasão de tarifas. Esses países têm acordos comerciais favoráveis tanto com a China quanto com os EUA, criando uma espécie de "zona neutra" para fabricação. A Indonésia, por sua vez, está investindo pesado em subsídios para atrair empresas de tecnologia.

Reação do mercado e dos consumidores

Analistas do setor observam que os aumentos de preço podem ter um efeito paradoxal. Enquanto algumas marcas optam por repassar os custos diretamente aos consumidores, outras estão absorvendo parte do impacto para manter a competitividade. A ASUS parece estar adotando uma abordagem mista - alguns produtos premium tiveram aumentos significativos, enquanto linhas mais acessíveis mantiveram preços estáveis.

"É uma equação complexa", explica um analista da IDC. "As empresas precisam balancear margens de lucro, participação de mercado e percepção de valor. Um aumento de 10-15% pode ser justificável, mas além disso o consumidor começa a reconsiderar suas opções."

Dados preliminares sugerem que o segmento gamer - tradicionalmente menos sensível a variações de preço - está absorvendo melhor esses ajustes. Já o mercado corporativo e educacional mostra maior resistência, com algumas empresas adiando atualizações de hardware.

A cadeia de suprimentos em transformação

A migração para novos países de produção não é tão simples quanto realocar linhas de montagem. Componentes críticos como chipsets ainda são majoritariamente fabricados na China e em Taiwan. Isso cria um cenário onde a ASUS precisa gerenciar uma cadeia de suprimentos fragmentada - placas-mãe montadas no Vietnã com componentes vindos de múltiplos países.

Relatórios internos obtidos pela Digitimes sugerem que a ASUS está investindo em centros de distribuição regionais para otimizar esse fluxo. A empresa também está qualificando novos fornecedores na Tailândia para reduzir a dependência de componentes chineses, embora esse processo leve tempo.

Um executivo que preferiu não se identificar comentou: "Estamos vendo o nascimento de um novo modelo de manufatura - menos centralizado, mais resiliente, mas também mais complexo e caro de gerenciar. Ainda não sabemos se será sustentável no longo prazo."

Com informações do: Adrenaline