Atualizações tardias para o SUV da Chevrolet
Depois de cinco longos anos sem mudanças significativas, o Chevrolet Tracker finalmente recebeu sua tão esperada atualização para a linha 2026. A montadora optou por retoques visuais discretos, melhorias no acabamento e a inclusão de alguns itens tecnológicos - tudo isso mantendo os preços inalterados. Mas será que essas mudanças são suficientes para colocar o modelo em pé de igualdade com rivais como Volkswagen T-Cross e Hyundai Creta?
Testamos a versão RS, que agora assume o posto de topo de linha com um preço de R$ 190.590 - mesmo valor cobrado pela série especial 100 Anos, limitada a apenas 1.000 unidades. A pergunta que fica: o que exatamente mudou nessa nova geração?
Design: mudanças sutis mas bem-vindas
As principais novidades estéticas estão concentradas na dianteira do Tracker. A Chevrolet adotou faróis separados em dois conjuntos distintos: na parte superior, próximos ao capô, ficam as luzes diurnas e setas; logo abaixo estão os faróis principais. Todo o sistema de iluminação agora é em LED e automático em todas as versões - um upgrade importante, considerando que alguns concorrentes ainda cobram extra por esses itens.

Na versão RS, os detalhes em preto brilhante dominam a grade dianteira, incluindo o logo da Chevrolet. De perfil, as novas rodas de 17 polegadas com acabamento preto e pneus 215/55 chamam atenção, embora alguns possam achar o tamanho modesto para um SUV nessa faixa de preço.
A traseira recebeu menos atenção - apenas as lanternas ganharam um novo revestimento interno acinzentado, mantendo o mesmo layout de iluminação LED. O RS diferencia-se pelos badges pretos e pelo aplique inferior do para-choque na mesma cor.

Interior: avanços e exageros
A cabine do Tracker 2026 recebeu as mudanças mais substanciais. O painel ganhou um novo arranjo de telas - instrumentos digitais de 8 polegadas e central multimídia de 11 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio. O acabamento melhorou em pontos específicos, especialmente na porção central do painel que agora recebe material macio.
Mas é na versão RS que a Chevrolet talvez tenha exagerado. O interior é dominado por detalhes em vermelho - costuras, apliques, bancos e até painéis de porta. Enquanto alguns podem achar o visual esportivo, outros considerarão cansativo para o uso diário. Particularmente, acho que a montadora poderia ter sido mais sutil - afinal, estamos falando de um SUV compacto, não de um esportivo.

Em termos de espaço, o Tracker mantém suas qualidades. Atrás, dois adultos de até 1,80m viajam com conforto, embora um terceiro passageiro no banco central não terá a mesma sorte. O porta-malas de 393 litros está na média para a categoria, mas a ausência de saídas de ar-condicionado traseiras é uma falha notável - especialmente considerando que rivais como o T-Cross oferecem esse item.

Equipamentos: o que tem e o que falta
Como topo de linha, o RS vem bem equipado: faróis full LED, chave presencial, piloto automático convencional, ar-condicionado digital, câmera de ré, sensores de estacionamento, carregador por indução e teto solar panorâmico estão na lista. Itens de segurança incluem seis airbags, alerta de colisão com frenagem automática e monitor de pontos cegos.

Porém, algumas ausências chamam atenção nessa faixa de preço: ar-condicionado dual zone, alerta de tráfego cruzado traseiro, câmera 360°, piloto automático adaptativo e porta-malas elétrico são itens que vários concorrentes já oferecem como padrão. Sem opcionais disponíveis, o comprador do Tracker RS terá que conviver com essas limitações.
Sob o capô: melhorias discretas
O motor 1.2 turbo de três cilindros segue o mesmo das versões Premier e RS, agora com 141 cv (etanol) e 139 cv (gasolina), acoplado a um câmbio automático de seis marchas. A única mudança mecânica significativa foi a substituição da correia banhada a óleo por uma versão mais robusta - uma resposta aos problemas relatados por alguns proprietários de modelos anteriores.

Na prática, o desempenho segue satisfatório, com aceleração de 0 a 100 km/h em 9,7 segundos (com etanol). O câmbio opera de forma suave, embora não seja dos mais rápidos em retomadas. A direção ficou mais direta e a suspensão mais confortável, segundo a Chevrolet - mudanças sutis que melhoram o dia a dia, mas não transformam radicalmente a experiência ao volante.

Conforto e dirigibilidade: equilíbrio entre cidade e estrada
Nas ruas da cidade, o Tracker RS 2026 mostra seu lado mais polido. A suspensão macia absorve bem as irregularidades do asfalto brasileiro, embora em trechos mais acidentados possa transmitir alguns solavancos aos ocupantes. O isolamento acústico melhorou em relação à geração anterior, mas ainda deixa passar mais ruído de rodagem do que o T-Cross em velocidades mais altas. Curiosamente, o motor de três cilindros - que costuma ser mais barulhento por natureza - está bem isolado na cabine, mostrando que a Chevrolet priorizou o conforto dos ocupantes.

Em estradas sinuosas, o comportamento dinâmico do Tracker é... surpreendentemente competente. A direção, embora leve demais para alguns gostos, responde com precisão às entradas. O controle de estabilidade interfere de forma discreta quando necessário, permitindo que o motorista explore um pouco mais os limites sem sustos. Claro, não estamos falando de um SUV esportivo - o corpo ainda inclina consideravelmente nas curvas mais fechadas -, mas para o uso cotidiano, o equilíbrio entre conforto e dirigibilidade é bem dosado.
Consumo: números que impressionam (com ressalvas)
Segundo testes realizados pela nossa equipe, o Tracker RS 2026 registrou médias de 10,2 km/l na cidade e 13,8 km/l na estrada com gasolina - números ligeiramente superiores aos divulgados pela marca. Com etanol, os valores caem para 7,3 km/l e 9,9 km/l respectivamente. Esses resultados colocam o modelo à frente do Creta 1.0 Turbo, mas um pouco atrás do T-Cross 1.4 TSI em rodovias.

Porém, há um detalhe importante: esses números foram alcançados com o modo Eco ativado e uma condução extremamente suave. No modo Normal e com um pé mais pesado, o consumo pode aumentar em até 15%. Ainda assim, considerando o desempenho oferecido, os números são satisfatórios - especialmente para quem prioriza economia no dia a dia.
Tecnologia: avanços e defasagens
O sistema multimídia de 11 polegadas é responsivo e intuitivo, com menus bem organizados e tempo de resposta rápido aos comandos. A integração sem fio com Android Auto e Apple CarPlay funciona sem falhas na maioria dos smartphones testados. Mas aqui surge uma limitação curiosa: enquanto concorrentes já oferecem telas maiores (o Creta tem tela de 10,25") e até instrumentos digitais mais avançados, o Tracker ainda parece um passo atrás na guerra das telas.
Outro ponto que divide opiniões é o sistema de assistência ao motorista. O alerta de colisão funciona bem em velocidades urbanas, mas o piloto automático convencional (sem função stop&go) já parece defasado em 2026 - especialmente considerando que rivais como o T-Cross Highline oferecem versões adaptativas. A Chevrolet argumenta que mantém o sistema mais simples para evitar complexidades desnecessárias, mas será que essa filosofia ainda ressoa com compradores de SUVs premium?
Manutenção e garantia: onde o Tracker se destaca
Um trunfo pouco comentado do Tracker está nos custos de propriedade. Com intervalos de manutenção a cada 10 mil km (ou 6 meses) e preços médios 15% abaixo dos concorrentes diretos, o SUV da Chevrolet se sai bem nesse aspecto. A garantia de 3 anos para toda a linha também supera a oferta padrão da Volkswagen (2 anos), embora fique atrás dos 5 anos da Hyundai.
Nas concessionárias visitadas, os consultores destacaram a disponibilidade de peças como vantagem - um fator importante para quem planeja ficar com o carro além do período de garantia. "Temos peças de reposição para o Tracker com entrega em até 48 horas na maioria dos casos", afirmou um gerente de pós-venda em São Paulo. Essa pode ser uma consideração decisiva para compradores que valorizam a tranquilidade no longo prazo.
Versões e concorrência: como o Tracker se posiciona
Além do RS testado, a linha 2026 do Tracker mantém as versões LT e Premier, com preços a partir de R$ 139.990. A estratégia da Chevrolet parece clara: oferecer um pacote equilibrado sem se aventurar em territórios premium demais. Enquanto o T-Cross aposta em acabamentos mais refinados e o Creta em tecnologia, o Tracker tenta conquistar pelo custo-benefício e robustez.
Mas será que essa fórmula ainda funciona? O mercado de SUVs compactos está mais disputado do que nunca, com novidades como o novo Fiat Pulse Audace e o Renault Kardian trazendo ainda mais opções na faixa dos R$ 150 mil. O Tracker RS, por outro lado, compete diretamente com o T-Cross Highline (R$ 193.990) e o Creta Ultimate (R$ 199.990) - uma batalha onde cada detalhe conta.
Com informações do: Quatro Rodas