O mercado de carros elétricos no Brasil acaba de presenciar uma movimentação significativa da General Motors. Após um início tímido nas vendas, a montadora decidiu reduzir drasticamente o preço do Chevrolet Equinox EV, seu SUV elétrico premium, em impressionantes R$ 90.200. Essa estratégia revela muito sobre os desafios que os veículos elétricos ainda enfrentam no mercado brasileiro e como as montadoras estão reagindo à realidade de vendas abaixo do esperado.
Uma queda de preço necessária
Lançado originalmente em outubro de 2023 por R$ 419.000, o Equinox EV havia sofrido aumentos subsequentes que elevaram seu preço para R$ 440.190. Esses ajustes, no entanto, parecem ter sido um tiro pela culatra. Os números de vendas contam a história: apenas 28 unidades emplacadas em todo o ano, segundo dados da ABVE (Associação Brasileira de Veículos Elétricos).
Diante desse cenário, a GM reagiu de forma agressiva. O novo preço de R$ 349.990 coloca o modelo em posição muito mais competitiva no mercado. É interessante notar como essa redução praticamente anula todos os aumentos anteriores e ainda adiciona um desconto substancial sobre o preço de lançamento.
Posicionamento no mercado competitivo
Com a nova precificação, o Equinox EV agora compete diretamente com outros SUVs elétricos premium, como o Zeekr X, da marca de luxo da Geely que chegou ao Brasil pouco depois do Chevrolet. Essa movimentação cria um interessante embate no segmento de SUVs elétricos médios-premium.
O que me chama atenção é como a GM parece estar disposta a sacrificar margens para ganhar participação de mercado. Essa estratégia lembra um pouco o que Tesla fez em outros mercados, ajustando preços conforme a demanda. Será que outras montadoras seguirão o mesmo caminho?

Especificações técnicas que impressionam
Baseado na arquitetura Ultium da GM, o Equinox EV oferece performance robusta com sua dupla de motores (um por eixo) que somam 292 cv e 46 kgfm de torque. Apesar de ser menos potente que seu irmão maior, o Blazer EV RS de 347 cv, ele mantém o mesmo tempo de 0 a 100 km/h: 5,8 segundos.
O conjunto de baterias de 85 kWh oferece autonomia de 443 km segundo o Inmetro, o que é bastante competitivo para o segmento. As capacidades de recarga também impressionam: até 22 kW em AC (4,7 horas para carga completa) e 150 kW em DC (48 minutos de 15% a 80%).

Equipamentos e tecnologia a bordo
O Equinox EV chega bem equipado, com pacote ADAS completo incluindo piloto automático, assistente de permanência em faixa, alertas de ponto cego e de abertura de porta, além de frenagem autônoma de emergência. As câmeras com visão de 360º, quadro de instrumentos digital de 11 polegadas e central multimídia de 17,7 polegadas rodam o sistema Google Built In, permitindo que o Google Maps seja reproduzido diretamente no quadro de instrumentos.
Em termos de dimensões, o modelo mede 4,84 m de comprimento, com entre-eixos generoso de 2,95 m. A largura é de 1,95 m, altura de 1,65 m, e o porta-malas oferece 411 litros de capacidade. São medidas que o colocam em posição confortável no segmento de SUVs médios.
O desafio da infraestrutura de recarga no Brasil
Um dos aspectos que mais preocupa potenciais compradores de veículos elétricos no Brasil continua sendo a infraestrutura de recarga. Apesar dos avanços recentes, ainda estamos muito distantes da conveniência oferecida pelos postos de combustível tradicionais. O Equinox EV, com sua autonomia de 443 km, teoricamente poderia tranquilamente fazer viagens interestaduais, mas na prática, o planejamento ainda é necessário.
Na minha experiência testando carros elétricos pelo país, percebi que as capitais estão relativamente bem servidas, mas o interior ainda sofre com a falta de infraestrutura. E isso não é algo que a GM ou qualquer outra montadora possa resolver sozinha – é um esforço coletivo que envolve empresas de energia, governos e iniciativa privada.
O perfil do consumidor brasileiro de elétricos
Quem está comprando carros elétricos no Brasil hoje? Diferente do que muitos imaginam, não se trata apenas de early adopters ou entusiastas de tecnologia. Tenho observado um perfil interessante: profissionais liberais bem-sucedidos, empresários e até famílias que buscam reduzir custos de manutenção no longo prazo.
O que me surpreende é que muitos desses compradores não são necessariamente "verdes" ou ambientalistas radicais. Eles simplesmente enxergam valor na tecnologia – o silêncio do motor, a aceleração instantânea, a isenção de IPVA em alguns estados e os baixos custos de manutenção. São argumentos pragmáticos, não ideológicos.
Como a GM está posicionando o Equinox EV no portfólio
É interessante notar como o Equinox EV se encaixa na estratégia global da GM para eletrificação. Enquanto nos EUA a marca tem modelos em várias categorias de preço, aqui no Brasil ela optou por começar pelo topo – uma estratégia que outras montadoras também adotaram. Mas será que essa abordagem está funcionando?
Pelo que conversei com concessionários, existe uma certa frustração com o ritmo lento das vendas. Muitos esperavam que a curiosidade inicial se traduzisse em vendas mais robustas. A redução de preço parece ser o reconhecimento de que o mercado brasileiro ainda precisa de estímulos mais agressivos para abraçar a eletrificação.
Comparativo com a concorrência direta
Colocado agora a R$ 349.990, o Equinox EV enfrenta concorrentes interessantes. O Zeekr X, por exemplo, chega com um design mais ousado e promete performance similar. Mas a GM tem uma vantagem que não pode ser subestimada: a rede de concessionárias e a confiança da marca no Brasil.
É curioso como, mesmo em um segmento tão novo quanto o de elétricos, a tradição da marca ainda pesa na decisão de compra. Muitos consumidores preferem pagar um pouco mais – ou comprar um produto tecnicamente inferior – pela segurança de ter uma rede de assistência técnica consolidada. E a GM sabe disso muito bem.
O impacto dos incentivos governamentais
Um ponto que não podemos ignorar é a questão dos incentivos governamentais. Enquanto alguns estados oferecem isenção de IPVA para elétricos, outros ainda tratam esses veículos da mesma forma que os convencionais. Essa falta de uniformidade cria distorções no mercado e dificulta o planejamento tanto das montadoras quanto dos consumidores.
Recentemente, participei de um debate sobre mobilidade elétrica e fiquei impressionado com como a falta de uma política nacional clara está atrasando a adoção em massa desses veículos. As montadoras fazem sua parte, mas sem um apoio mais consistente do governo, fica difícil convencer o consumidor médio a dar o salto para a eletrificação.
A experiência de posse além do preço de compra
Muitos se focam apenas no preço de compra, mas a experiência de posse de um elétrico envolve vários outros fatores. O custo por quilômetro rodado, por exemplo, é significativamente menor – especialmente para quem tem como recarregar em casa durante a noite, aproveitando tarifas mais baixas.
E não podemos esquecer da manutenção: sem troca de óleo, correias, velas ou escapamento, as revisões são mais simples e baratas. Conversei com um proprietário de outro modelo elétrico que me contou ter economizado cerca de 60% em manutenção nos últimos dois anos comparado ao seu carro anterior a combustão.
O futuro dos preços dos elétricos no Brasil
A drástica redução no preço do Equinox EV levanta uma questão importante: será que outras montadoras seguirão o mesmo caminho? Especula-se que a queda nos preços das baterias e a maior escala de produção possam permitir preços mais acessíveis nos próximos anos.
Alguns analistas do setor com quem conversei acreditam que estamos próximos de um ponto de inflexão, onde os elétricos alcançarão paridade de preço com veículos similares a combustão. Quando isso acontecer – e tudo indica que será em breve – o mercado pode acelerar de forma surpreendente.
A reação do mercado de usados
Um efeito colateral interessante dessa redução de preço é o impacto no mercado de seminovos. Os poucos Equinox EV que foram vendidos antes do reajuste agora valem significativamente menos – o que pode desencorajar compradores iniciais no futuro.
É um dilema clássico da tecnologia: early adopters pagam mais pelo privilégio de serem os primeiros, mas arriscam ver seu investimento desvalorizar rapidamente. No caso dos elétricos, essa dinâmica parece estar se acelerando, o que pode fazer com que muitos prefiram esperar antes de comprar.
Com informações do: Quatro Rodas