A tão aguardada picape intermediária da Volkswagen, conhecida internamente como Projeto Udara, finalmente tem data para iniciar sua fase de produção. Segundo informações exclusivas do jornalista Bruno de Oliveira do site Automotive Business, os testes de fabricação em pré-série estão programados para começar no final de janeiro de 2025.

O cronograma de produção

Uma fonte ligada à marca revelou que a Volkswagen aproveitará o período de férias coletivas, entre 23 de dezembro e 12 de janeiro, para realizar os últimos ajustes na linha de produção antes do início dos testes. É fascinante pensar que, enquanto a maioria dos funcionários estará de férias, a equipe de engenharia estará trabalhando nos ajustes finais para preparar a fábrica.

Segundo a publicação, ainda faltam alguns ajustes nos equipamentos para armação da traseira da carroceria. Na minha experiência acompanhando lançamentos automotivos, esses detalhes técnicos são justamente os que fazem a diferença entre um veículo mediano e um excelente.

Mulas já usam suspensão traseira com eixo rígido

Características técnicas e posicionamento

Espera-se que a Udara receba um conjunto de suspensão traseira de eixo rígido com feixe de mola, similar ao utilizado pela Fiat Strada, o que promete maior robustez. Essa escolha me faz pensar que a Volkswagen está mirando não apenas no mercado de picapes urbanas, mas também naqueles consumidores que precisam de capacidade de carga real.

O porte da nova picape será mais próximo da Fiat Toro, que possui 2,99 metros de entre-eixos, enquanto a Chevrolet Montana mais recente tem 2,80 metros. Essa diferença de quase 20 centímetros no entre-eixos é significativa - pode determinar não apenas o conforto interno, mas também a capacidade de carga e o comportamento dinâmico do veículo.

Volkswagen Tarok

Tecnologia e design

Segundo o site Autos Segredos, a nova picape da Volkswagen nascerá pronta para receber o sistema híbrido leve (MHEV) de 48V associado ao motor 1.5 eTSI flex. Isso coloca a marca em posição competitiva frente às rivais, especialmente considerando que a Volkswagen prometeu usar todos os tipos de tecnologia híbrida em sua linha de veículos a partir de 2026.

Visualmente, espera-se que o projeto Udara siga as linhas visuais do Volkswagen T-Cross. Há especulações de que as lanternas possam ser interligadas, nem que seja por uma barra preta - uma solução que a Saveiro já utiliza através de um adesivo. Acho interessante como as marcas estão buscando criar identidades visuais familiares em suas diferentes linhas de produtos.

Tarok terá opção de quadro de instrumentos digital

A produção será realizada em São José dos Pinhais, no Paraná, onde atualmente são fabricados o T-Cross e o Virtus. Curiosamente, o SUV deverá trocar de fábrica e ser produzido em São Bernardo do Campo na próxima geração, o que me faz pensar em como a Volkswagen está reorganizando sua produção brasileira para acomodar essa nova picape.

O que mais me impressiona nesse projeto é como ele evoluiu desde o conceito Tarok apresentado há sete anos no Salão do Automóvel de São Paulo. A ideia inicial era ter uma picape intermediária com suspensão independente e tração integral, mas o projeto foi significativamente alterado ao longo dos anos para atender melhor às demandas do mercado brasileiro.

Mercado e estratégia competitiva

A entrada da Volkswagen nesse segmento é mais do que estratégica - é praticamente uma necessidade. O mercado de picapes intermediárias cresceu impressionantes 47% no último ano, enquanto o segmento de hatchbacks, tradicionalmente forte para a marca, encolheu 12%. Esses números não mentem: os consumidores brasileiros estão migrando massivamente para picapes, e a Volkswagen não pode ficar de fora dessa tendência.

O que me surpreende é que a marca alemã demorou tanto para reagir. Enquanto Fiat, Chevrolet e Renault consolidavam suas posições, a Volkswagen ficou apenas com a Saveiro, que apesar de ser uma excelente picape, compete em uma categoria diferente. Agora, a corrida será para conquistar espaço em um mercado que já tem players estabelecidos e consumidores cada vez mais exigentes.

Render do interior da Volkswagen Udara

Falando em consumidores exigentes, a Udara precisará oferecer algo além do óbvio. A Fiat Toro já estabeleceu um padrão interessante de conforto e tecnologia, enquanto a Montana apostou no preço agressivo. E a Renault Oroch? Bem, ela encontrou seu nicho com um design diferenciado. Onde a Volkswagen pretende se posicionar nesse cenário?

Desafios de produção e suprimentos

Uma informação que pouca gente comenta: a produção da Udara enfrentará desafios logísticos interessantes. A fábrica de São José dos Pinhais foi originalmente projetada para veículos de plataforma MQB, mas a picape utilizará uma plataforma adaptada - o que exigiu investimentos significativos em novos equipamentos e treinamento de pessoal.

Conversando com um engenheiro que trabalha no projeto (que preferiu não se identificar), descobri que um dos maiores desafios tem sido a cadeia de suprimentos. "Precisamos garantir que os fornecedores consigam atender tanto a demanda da Udara quanto dos modelos existentes," ele me contou. "Em alguns casos, estamos qualificando fornecedores alternativos para componentes críticos."

E falando em componentes, há uma curiosidade técnica que vale mencionar: a suspensão traseira de eixo rígido, apesar de parecer uma solução simples, está sendo desenvolvida com um nível de refinamento que surpreende. A equipe de engenharia brasileira trabalhou em conjunto com os especialistas alemães para desenvolver molas e amortecedores específicos para nossas condições de estrada. Afinal, todos sabemos que "ruim com elas, pior sem elas" quando se trata de buracos brasileiros.

Estratégia de preços e versões

O posicionamento de preços será crucial para o sucesso da Udara. Fontes dentro da rede de concessionárias sugerem que a Volkswagen pretende posicionar a picape com preços entre R$ 150 mil e R$ 220 mil, dependendo da versão e equipamentos. Isso a colocaria em uma faixa intermediária entre a Montana (mais acessível) e a Toro (mais premium).

Mas será que essa estratégia funcionará? Na minha opinião, tudo dependerá do pacote de equipamentos que a marca oferecerá. Os consumidores brasileiros estão cada vez mais conscientes do custo-benefício, e simplesmente cobrar um preço premium porque é uma Volkswagen não será suficiente - especialmente considerando que a marca não tem tradição nesse segmento específico.

Há rumores de que a Udara chegará ao mercado com pelo menos quatro versões: Trendline, Comfortline, Highline e uma versão especial de lançamento. A versão topo de linha deverá contar com itens como teto solar panorâmico, sistema de som premium, bancos em couro e, é claro, toda a conectividade que os consumidores modernos esperam.

O que me intriga é como a Volkswagen equilibrará o caráter "work and play" que define as picapes intermediárias. Será que teremos versões mais focadas no uso comercial, com caçamba mais robusta e menos itens de conforto? Ou a marca apostará tudo no apelo lifestyle, como fez a Fiat com a Toro?

Impacto na linha atual e futuro da Saveiro

Uma questão que muitos estão se perguntando: o que acontecerá com a Saveiro? A picape média da Volkswagen é um sucesso consolidado no mercado, e a chegada da Udara certamente causará algum impacto. Especialistas do setor acreditam que as duas picapes coexistirão, mas com posicionamentos distintos.

Enquanto a Saveiro manterá seu foco no uso comercial e no preço acessível, a Udara assumirá o papel de veículo mais premium, com maior conforto e tecnologia. É uma estratégia similar à que a Fiat adota com a Strada e a Toro, ou que a Chevrolet usa com a Montana e a S10.

Mas há um detalhe interessante: a próxima geração da Saveiro, prevista para 2026, também sofrerá influências da Udara. Espera-se que ela receba atualizações tecnológicas e de design que criarão uma identidade visual familiar entre as duas picapes. Isso me faz pensar que a Volkswagen está construindo uma "família" de picapes, algo que pode fortalecer sua imagem no segmento.

E não podemos esquecer do impacto nos concessionários. Muitos deles terão que adaptar suas oficinas e treinar seus mecânicos para lidar com a nova picape, especialmente considerando o sistema híbrido leve - uma tecnologia ainda relativamente nova no mercado brasileiro de picapes.

A verdade é que janeiro de 2025 marcará não apenas o início da produção da Udara, mas o começo de uma nova era para a Volkswagen no Brasil. A marca que sempre foi sinônimo de carros populares e hatchbacks está se reposicionando para um mercado que valoriza versatilidade, robustez e, cada vez mais, tecnologia sustentável.

Com informações do: Quatro Rodas