A Ablegamers Brasil, organização sem fins lucrativos que trabalha pela inclusão de pessoas com deficiência no mundo dos games, está mobilizando a comunidade gamer em torno de uma causa importante: a isenção de impostos para controles adaptados. Um abaixo-assinado online já está circulando para apoiar um projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e que pode tornar esses dispositivos essenciais mais acessíveis financeiramente.
O que propõe o projeto de lei
O projeto em questão busca criar uma isenção fiscal específica para controles adaptados e periféricos de videogame desenvolvidos para pessoas com deficiência. Atualmente, esses equipamentos especializados chegam a custar milhares de reais no mercado brasileiro, tornando-se praticamente inacessíveis para a maioria das pessoas que deles precisam.
Na prática, a proposta visa eliminar ou reduzir significativamente os impostos federais e estaduais que incidem sobre a importação e comercialização desses dispositivos. É interessante notar como essa iniciativa se alinha com discussões mais amplas sobre acessibilidade digital que vêm ganhando espaço no Brasil nos últimos anos.
Por que controles adaptados são tão caros?
Os controles adaptados não são simples modificações de controles convencionais. Eles representam soluções de engenharia complexas, muitas vezes desenvolvidas sob medida para atender necessidades específicas de mobilidade. Alguns exemplos incluem controles que podem ser operados com os pés, com a boca, ou através de sopro e sucção.
O desenvolvimento dessas tecnologias envolve pesquisa intensiva, materiais especiais e, frequentemente, produção em pequena escala - fatores que naturalmente elevam os custos. Sem contar que muitos desses produtos precisam ser importados, acrescentando impostos de importação e custos logísticos ao preço final.
O papel da Ablegamers Brasil
A Ablegamers Brasil tem sido fundamental não apenas na articulação política em torno desse projeto, mas também na conscientização sobre a importância dos games como ferramenta de inclusão social. A organização compreende que o acesso aos jogos eletrônicos vai além do entretenimento - trata-se de proporcionar experiências culturais, sociais e até terapêuticas.
O abaixo-assinado organizado pela entidade já reúne milhares de assinaturas e serve como um termômetro do interesse público pela causa. A estratégia é demonstrar aos legisladores que há um apoio significativo da sociedade para medidas que promovam a inclusão digital de pessoas com deficiência.
Enquanto o projeto segue seu curso na Alesp, a comunidade de jogadores acompanha com expectativa. A aprovação dessa legislação poderia representar um marco importante não apenas para gamers com deficiência, mas para todo o movimento pela acessibilidade no Brasil. Resta saber se outros estados seguirão o exemplo paulista e se o governo federal se engajará em iniciativas semelhantes em âmbito nacional.
O impacto social dos games acessíveis
Quando falamos sobre controles adaptados, é fácil focar apenas no aspecto financeiro, mas o que muitas pessoas não percebem é o profundo impacto social que esses dispositivos podem ter. Imagine não poder participar das mesmas atividades que seus amigos, familiares ou colegas? Os jogos eletrônicos se tornaram uma forma significativa de socialização, especialmente entre os mais jovens.
Eu já conversei com várias pessoas que utilizam controles adaptados, e uma história em particular me marcou: um adolescente com paralisia cerebral que, pela primeira vez, conseguiu jogar FIFA com seu irmão. A emoção na voz dele ao descrever essa experiência era palpável. Não era apenas sobre vencer o jogo, mas sobre compartilhar momentos, criar memórias e se sentir incluído.
Desafios técnicos e burocráticos
Além das barreiras financeiras, existem obstáculos técnicos consideráveis. Muitos controles adaptados precisam ser compatíveis com diferentes plataformas - PlayStation, Xbox, Nintendo Switch, PC - cada uma com suas próprias especificações e requisitos. E adivinhe? Essa complexidade técnica também se reflete no preço.
O que me surpreendeu ao pesquisar mais sobre o tema foi descobrir que alguns desses dispositivos nem sequer estão disponíveis no mercado brasileiro oficialmente. As pessoas dependem de importação particular, enfrentando não apenas a tributação, mas também a incerteza sobre a legalidade e a possibilidade de apreensão alfandegária. É uma situação frustrante para quem já enfrenta tantas outras barreiras no dia a dia.
E tem mais: mesmo quando conseguem importar, muitas vezes falta suporte técnico, garantia ou possibilidade de reparos. Um controle que quebra pode significar meses sem poder jogar, enquanto aguardam por peças de reposição ou tentam encontrar alguém que conserte um equipamento tão específico.
Iniciativas paralelas e complementares
Enquanto o projeto de lei tramita, outras iniciativas vão surgindo. Algumas universidades brasileiras, por exemplo, começaram a desenvolver protótipos de controles adaptados usando impressão 3D e componentes eletrônicos acessíveis. São soluções mais baratas, mas que ainda enfrentam desafios de escala e durabilidade.
Particularmente, acho interessante como a comunidade maker tem se mobilizado em torno dessa causa. Grupos no Facebook e Telegram reúnem pessoas que trocam ideias, compartilham projetos open-source e até organizam mutirões para construir controles adaptados para quem não pode comprar os comerciais. É uma demonstração impressionante de solidariedade e criatividade.
Mas aqui está a questão: essas soluções caseiras, embora valiosas, podem realmente substituir equipamentos profissionais desenvolvidos por empresas especializadas? Em alguns casos sim, em outros não. O ideal seria ter ambas as opções disponíveis - soluções acessíveis da comunidade e produtos profissionais com preços viáveis.
O cenário internacional como referência
Vale a pena olhar para como outros países abordam essa questão. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Microsoft desenvolveu o Xbox Adaptive Controller, um controle modular que pode ser customizado conforme as necessidades de cada jogador. E mais importante: a empresa trabalhou em parceria com organizações como a AbleGamers (a matriz norte-americana da AbleGamers Brasil) desde o início do desenvolvimento.
No Reino Unido, algumas organizações conseguem fornecer equipamentos adaptados através do sistema público de saúde em casos específicos, especialmente quando os jogos são usados como parte de terapias de reabilitação. Essa abordagem reconhece o valor terapêutico dos games, algo que ainda é pouco explorado no Brasil.
O que esses exemplos nos mostram? Que a solução não precisa ser única. Podemos pensar em isenção fiscal, sim, mas também em parcerias público-privadas, em programas de locação de equipamentos, em linhas de crédito específicas... As possibilidades são diversas, mas todas exigem vontade política e conscientização da sociedade.
E falando em conscientização, você já parou para pensar quantos jogos brasileiros são desenvolvidos desde o início com acessibilidade em mente? Ainda são poucos, mas a mudança está começando a acontecer. Desenvolvedores independentes estão incorporando mais opções de acessibilidade em seus títulos, mostrando que é possível criar experiências inclusivas sem comprometer a qualidade do jogo.
Com informações do: IGN Brasil











