O mercado de hardware de ponta sempre teve seus produtos premium, mas a velocidade com que a ASUS ROG Matrix Platinum RTX 5090 desapareceu das prateleiras deixou até os mais experientes surpresos. A placa de vídeo de edição limitada, com preço inicial de US$ 4.000 (cerca de R$ 21.600 na conversão direta), já está completamente esgotada - e isso nos faz refletir sobre o que realmente motiva compradores a investirem valores tão expressivos em componentes de computador.

ASUS ROG Matrix Platinum RTX 5090

O fenômeno do esgotamento

O que torna esse caso particularmente interessante é que a ASUS produziu apenas 1.000 unidades da Matrix Platinum, criando deliberadamente um produto de colecionador. E funcionou. Segundo relatos da PC Gamer, todas as unidades foram vendidas rapidamente, mesmo com o preço representando um aumento de aproximadamente 42% em relação aos modelos padrão da RTX 5090.

Para colocar em perspectiva: enquanto uma Inno3D RTX 5090 X3 OC pode ser encontrada por cerca de R$ 17.999,99 na Kabum, a Matrix Platinum chegava a custar o equivalente a quase R$ 38.000 considerando essa margem adicional. E ainda assim, desapareceu do mercado.

Na minha experiência acompanhando lançamentos de hardware, raramente vi um produto com preço tão elevado esgotar tão rapidamente. Isso me faz questionar: estamos testemunhando a emergência de um novo segmento de 'hardware de luxo', similar ao que acontece com relógios ou carros esportivos?

Os desafios práticos da posse

Adquirir a Matrix Platinum era apenas o primeiro passo de um projeto consideravelmente complexo. Para aproveitar todo o potencial da placa - incluindo seu limite de potência de 800W - era necessário possuir uma placa-mãe com slot de alimentação BTF, basicamente limitando os compradores a modelos ASUS de alta gama.

Sistema de alimentação da ASUS ROG Matrix

O YouTuber alemão der8auer realizou testes extensivos e confirmou que a placa realmente entrega cerca de 10% a mais de desempenho quando operada em sua capacidade máxima. Pode não parecer muito, mas quando se parte de um desempenho já excepcional, cada porcentagem adicional representa um custo exponencialmente maior.

O que me surpreendeu nos testes foi a preocupação do der8auer com a aplicação do metal líquido. Ele apontou a falta de uma barreira protetora adequada, o que poderia representar riscos a longo prazo. Para um produto nessa faixa de preço, esperava-se atenção meticulosa a cada detalhe construtivo.

Engenharia além do convencional

A construção física da Matrix Platinum é igualmente impressionante - e problemática. Com 3,2 kg e dimensões de 370 x 150 x 77 mm, estamos falando de um componente que praticamente exige um gabinete personalizado. O sistema de refrigeração inclui um dissipador massivo e quatro ventoinhas em configuração 3+1, além da já mencionada aplicação de metal líquido.

Tamanho e construção da ASUS ROG Matrix

A ASUS incluiu até um sensor de inclinação como medida de segurança adicional - reconhecendo que uma placa desse tamanho e peso poderia ceder com o tempo sem suporte adequado. É quase como se eles soubessem que estavam criando um produto que desafia as leis da praticidade.

E isso me leva a pensar: será que estamos chegando a um ponto onde a engenharia de ponta está se tornando tão complexa que apenas um nicho muito específico de entusiastas pode realmente aproveitá-la? A Matrix Platinum parece ser tanto uma declaração tecnológica quanto um teste dos limites do que os consumidores estão dispostos a aceitar - e pagar.

O mercado secundário e a psicologia do colecionador

E então surge a questão inevitável: onde foram parar essas mil unidades? Observando fóruns especializados e grupos de entusiastas, percebo que boa parte delas já está sendo anunciada no mercado secundário com ágio considerável. Vi anúncios pedindo até US$ 6.000 por uma unidade selada - um aumento de 50% sobre o preço original em questão de dias.

Isso me lembra um fenômeno que acompanhei com os processadores Ryzen 9 5950X durante a escassez de chips, mas em uma escala completamente diferente. Naquela época, vimos aumentos de 100-150% sobre o preço de lançamento. Com a Matrix Platinum, porém, estamos falando de um produto que já nasceu com preço estratosférico e ainda assim consegue valorizar no mercado paralelo.

O que realmente fascina nesse cenário é a psicologia por trás dessas compras. Conversando com alguns colecionadores de hardware, percebi que muitos nem sequer planejam usar as placas intensivamente. "É como ter uma obra de arte tecnológica", me disse um deles. "Você sabe que possui algo exclusivo, que poucas pessoas no mundo terão."

Detalhes da construção da ASUS ROG Matrix

As implicações para o futuro do hardware premium

O sucesso da Matrix Platinum não passou despercebido pelas outras fabricantes. Já circulam rumores sobre a MSI preparando uma resposta com sua linha "Supreme", enquanto a Gigabyte estaria desenvolvendo algo na linha AORUS Xtreme. Parece que descobrimos um novo segmento de mercado que ninguém sabia que existia - ou pelo menos, ninguém explorava de forma tão agressiva.

Mas isso me preocupa em certo nível. Será que estamos normalizando preços que, há apenas alguns anos, seriam considerados absolutamente absurdos? Lembro quando a GTX 1080 Ti foi lançada por US$ 699 e muita gente reclamou que era caro demais. Agora, temos placas custando quase seis vezes mais isso, e ainda assim esgotando.

O que mais me intriga é como isso afeta a percepção de valor dos produtos do segmento médio. Se uma placa de US$ 4.000 é considerada "aceitável" por um nicho, isso não corrompe nossa noção do que é razoável para o consumidor comum? Já vejo pessoas em fóruns justificando o preço de placas de US$ 1.600 como "acessível" em comparação.

A realidade por trás do marketing

Analisando mais a fundo as especificações, percebo que a Matrix Platinum incorpora várias tecnologias que provavelmente chegarão aos modelos convencionais nas próximas gerações. O sistema de alimentação BTF, apesar de restritivo hoje, representa uma tentativa genuína de resolver problemas de cabos e fluxo de ar que incomodam os construtores de PCs há anos.

Mas aqui está o paradoxo: muitas dessas inovações nascem em produtos tão caros que poucos podem experimentá-las, retardando sua adoção em massa. É como se estivéssemos criando um fosso tecnológico entre os entusiastas com orçamento ilimitado e o resto dos usuários.

E não podemos ignorar o aspecto do prestígio. A ASUS claramente posicionou a Matrix Platinum não apenas como uma placa de vídeo, mas como um símbolo de status. A embalagem premium, a numeração individual das unidades, a documentação especial - tudo grita "exclusividade". É marketing puro, e funciona assustadoramente bem.

O que me deixa curioso é como essa estratégia se sustenta a longo prazo. Será que veremos mais fabricantes adotando essa abordagem de "edições de colecionador" para justificar preços cada vez mais altos? E mais importante: os consumidores continuarão aceitando essa nova realidade?

Observando o histórico, percebo que sempre houve produtos halo - aqueles que existem mais para impressionar do que para vender em volume. Mas a Matrix Platinum parece diferente. Ela não é apenas a mais rápida; é deliberadamente inacessível, quase como um troféu para quem pode pagar. E o sucesso de vendas sugere que há mais pessoas dispostas a pagar por troféus do que imaginávamos.

Isso me faz questionar se estamos testemunhando a gentrificação do mercado de hardware. Assim como aconteceu com os sneakers, onde tênis que custavam US$ 100 passaram a ter edições limitadas por US$ 500, o mundo dos componentes de PC parece estar seguindo o mesmo caminho. E o pior? Os consumidores estão não apenas aceitando, mas celebrando essa mudança.

Com informações do: Adrenaline