A Nintendo encerrou 2025 com um pé na CCXP, mas deixou uma pergunta no ar para os fãs brasileiros: quando os preços vão ficar mais acessíveis? Em uma conversa exclusiva com o IGN Brasil, Pilar Pueblita, gerente de relações públicas e eventos da empresa, reforçou o compromisso da marca com o mercado local, especialmente para 2026. No entanto, quando o assunto foi o custo elevado de jogos e consoles no país, a resposta foi um silêncio estratégico que diz muito.

Presença na CCXP e a promessa para 2026

A participação da Nintendo na CCXP 2025, que aconteceu entre os dias 4 e 7 de dezembro em São Paulo, não foi apenas mais uma aparição em evento. Foi um palco para a empresa reafirmar, mais uma vez, seu interesse no Brasil. Pilar Pueblita falou sobre o ano que estava terminando e, é claro, gerou expectativa para o que vem por aí. A mensagem foi clara: 2026 é um ano importante no radar da Big N para os brasileiros.

Mas o que isso significa na prática? A empresa tem planos de trazer mais eventos físicos? Haverá um investimento maior em marketing localizado? Essas são perguntas que ficaram pairando. A sensação que fica é a de um compromisso genuíno, mas ainda um tanto vago. É como se dissessem "estamos aqui", sem detalhar exatamente o que vão fazer.

O elefante na sala: o preço dos jogos e consoles

Aqui está o ponto que mais interessa (e preocupa) o consumidor brasileiro. Enquanto Pueblita falava sobre o futuro e a presença da marca, uma questão crucial foi levantada: e os preços? A conversa, conforme relatada, não trouxe nenhuma novidade ou perspectiva de mudança sobre o custo de aquisição de um Nintendo Switch ou de seus jogos no Brasil.

É um tema espinhoso. Todos sabemos que o real desvalorizado, os impostos altíssimos e a complexa estrutura de distribuição formam uma tempestade perfeita para preços proibitivos. A Nintendo, como muitas outras empresas, opera dentro desse ecossistema. No entanto, a falta de qualquer menção a estudos, programas de preços regionais ou iniciativas para baratear o acesso soa como uma confirmação tácita de que a situação não mudará tão cedo.

Isto coloca o fã em uma encruzilhada. Por um lado, há o afeto pela marca e seus personagens icônicos. Por outro, a matemática simples do orçamento mensal. Como justificar pagar o equivalente a um jogo triple-A por um título que já tem anos de lançamento, apenas porque está no catálogo da Nintendo?

O que esperar do "compromisso"?

Sem detalhes concretos, fica a pergunta: no que se traduzirá esse compromisso reforçado para 2026? A experiência nos últimos anos sugere algumas possibilidades, nem todas igualmente animadoras.

  • Mais eventos e experiências: A presença na CCXP é um indício. Podemos esperar mais espaços para jogar, competições ou encontros com desenvolvedores. É o lado "experiência" do compromisso.

  • Marketing e comunicação: Talvez vejamos mais anúncios em português, campanhas nas redes sociais com influenciadores locais e um site mais adaptado. É importante, mas não resolve o problema de fundo.

  • O grande vazio: O que realmente faria a diferença – uma revisão da política de preços, a criação de uma linha de produtos mais acessível (um Switch Lite com um preço mais agressivo, quem sabe?), ou programas de financiamento – permanece na sombra.

No fim das contas, a mensagem da Nintendo parece ser de afeto, mas não de ação transformadora no que mais dói no bolso do consumidor. E você, o que acha? Vale a pena manter a esperança por uma mudança, ou esse é simplesmente o preço de ser um fã da Nintendo no Brasil?

E essa sensação de estar em um relacionamento complicado com a marca não é nova, né? Lembro de conversas com amigos há anos, sempre com aquele misto de admiração pelos jogos e frustração com a realidade financeira. A Nintendo tem uma história de altos e baixos no Brasil que parece um jogo de plataforma cheio de obstáculos. A saída do mercado na era Wii U, o retorno triunfal com o Switch, e agora essa fase de consolidação que, para o consumidor, se traduz em preços que parecem congelados no tempo.

Mas vamos pensar um pouco além do óbvio. O que realmente impede a Nintendo de ser mais agressiva nos preços aqui? Será apenas uma questão de impostos e câmbio, ou existe uma estratégia de marca por trás disso? Em alguns mercados, a empresa é conhecida por raramente fazer promoções profundas, mantendo o valor percebido de suas franquias no longo prazo. No Brasil, essa filosofia colide com uma realidade econômica muito diferente da dos Estados Unidos ou Europa.

O exemplo de outras regiões e o caso do Real Brasileiro

É instrutivo olhar para como a Nintendo lida com mercados emergentes ou com moedas mais fracas. Na Turquia, por exemplo, a empresa chegou a ajustar os preços da eShop local após uma desvalorização brutal da lira. Na América Latina como um todo, porém, a política parece mais fragmentada. Enquanto o México tem preços relativamente mais baixos (ainda que altos para a realidade local), o Brasil e a Argentina frequentemente lideram as listas de regiões mais caras para se comprar jogos digitais.

O real brasileiro é um personagem central nessa história. Nos últimos cinco anos, sua valorização frente ao dólar foi, digamos, errática. Para uma empresa que precisa planejar com meses de antecedência, definir um preço que seja justo e sustentável é um desafio logístico e financeiro enorme. Reduzir os preços hoje pode significar prejuízo amanhã se o câmbio piorar. É uma equação complexa, mas que outras empresas do setor parecem enfrentar com um pouco mais de flexibilidade.

E aí entra uma pergunta que poucos fazem: será que o modelo de negócios da Nintendo, tão dependente da venda de jogos first-party a preço premium, é compatível com o poder de compra médio do brasileiro? Enquanto a Xbox investe pesado no Game Pass e a Sony tem uma gama maior de descontos frequentes na PSN, a Nintendo segue um caminho mais tradicional. Isso cria uma barreira de entrada que vai além do preço do console.

O mercado paralelo e a nostalgia como moeda

Você já parou para pensar no quanto o mercado de usados e importados movimenta o ecossistema Nintendo no Brasil? É quase uma economia paralela. Lojas especializadas, grupos de Facebook, marketplaces – todos cheios de Switches com preços mais atraentes (muitas vezes de outras regiões) e cartuchos físicos que circulam de mão em mão. Essa é uma resposta orgânica do mercado à política de preços oficiais.

Curiosamente, essa situação fortalece um aspecto peculiar: o valor de revenda dos jogos Nintendo. Um título first-party raramente perde muito valor no mercado secundário. Para quem consegue comprar, é quase um investimento. Mas isso, claro, beneficia apenas uma parcela dos fãs – aqueles que podem dar o passo inicial de aquisição.

E não podemos ignorar o poder da nostalgia. Mario, Zelda, Pokémon – essas franquias têm um apelo emocional que transcende gerações. Para muitos, pagar um preço alto por um novo Zelda não é apenas uma compra, é um evento, um reencontro com a infância. A Nintendo domina essa arte como ninguém. Mas até quando essa moeda emocional aguentará a pressão da realidade econômica? A cada novo lançamento, vejo mais pessoas hesitando, calculando, esperando por uma promoção que talvez nunca venha.

Aliás, falando em lançamentos, como será a estratégia para o sucessor do Switch? Os rumores já começam a circular, e com eles vem a ansiedade sobre o preço de chegada ao Brasil. Se o padrão se mantiver, podemos estar olhando para um console que chegará aqui com um preço inicial equivalente a dois ou três salários mínimos. Essa perspectiva é desanimadora, para dizer o mínimo.

O papel das mídias físicas e a pressão digital

Há um detalhe técnico que muitas vezes passa despercebido nessa discussão: a Nintendo ainda depende bastante das mídias físicas. Diferente da Xbox e da PlayStation, que têm versões digitais sem leitor de mídia, todos os modelos do Switch possuem o slot para cartuchos. Isso tem implicações no custo de produção e, consequentemente, no preço final.

No Brasil, onde a distribuição física envolve importação, armazenagem e uma cadeia de intermediários, esse custo é amplificado. Cada cartucho que chega às prateleiras já acumulou uma série de encargos que são repassados ao consumidor. A pergunta que fica é: a transição para um modelo mais digital, quando vier, poderia ajudar a reduzir preços? Teoricamente sim, mas aí esbarramos em outro problema – o preço na eShop brasileira, que frequentemente não reflete a economia de não produzir e distribuir uma mídia física.

E tem outro aspecto: a regionalização. Muitos jogos físicos vendidos aqui são importados das versões norte-americanas ou europeias. Isso significa que, além de pagar pelo jogo, estamos pagando pelo frete internacional e pelos impostos de importação duas vezes – uma quando a Nintendo traz o lote, e outra nos impostos embutidos no preço final. É uma camada de complexidade que poucas indústrias de entretenimento enfrentam nessa magnitude.

No meio disso tudo, o consumidor brasileiro desenvolveu uma resiliência impressionante. Aprendemos a caçar promoções raras, a comprar créditos em outras regiões (quando possível), a participar de grupos de compartilhamento de contas familiares – sempre nos limites dos termos de serviço, é claro. Criamos nossos próprios caminhos para acessar o que amamos. Mas não deveria ser tão difícil, concorda?

A postura da Nintendo, portanto, me parece ser a de uma empresa que observa esse comportamento adaptativo e decide que, por enquanto, não precisa mudar sua estratégia. O mercado, apesar dos pesares, continua consumindo. As filas nos estandes da CCXP, a empolgação com cada Direct, o sucesso de vendas mesmo com preços altos – tudo isso sinaliza para a empresa que a fórmula, embora imperfeita, ainda funciona.

Mas e o futuro? À medida que novas gerações de jogadores crescem em um ambiente dominado por serviços de assinatura e preços mais flexíveis em outras plataformas, será que a fidelidade à Nintendo resistirá? Ou chegaremos a um ponto de ruptura onde mesmo o apelo nostálgico não será suficiente para justificar o investimento? A resposta para essa pergunta talvez determine o verdadeiro significado do "compromisso" que a empresa tanto menciona.

Com informações do: IGN Brasil