O retorno do financiamento coletivo para o mundo dos games

Lançado em 2009, o Kickstarter foi a plataforma de financiamento coletivo que revolucionou a indústria de jogos no início da década passada. Foi através dele que títulos aclamados como Shenmue 3, Bloodstained e Pillars of Eternity conseguiram sair do papel - junto com diversos outros projetos que, apesar de bem-sucedidos nas arrecadações, nunca foram concluídos.

Kickstarter ressurge como opção de financiamento para jogos independentes

Com o surgimento de novas alternativas de financiamento, o Kickstarter perdeu parte de seu brilho nos últimos anos. No entanto, estúdios independentes estão redescobrindo seu potencial em um momento onde as fontes tradicionais de investimento estão escassas.

Uma nova era para o financiamento coletivo

Dados oficiais do Kickstarter revelam que 2024 foi o ano mais bem-sucedido da plataforma para a categoria de jogos, com US$ 26 milhões arrecadados por 441 projetos. A diferença? Grandes campanhas milionárias deram lugar a projetos menores e mais realistas.

Um exemplo é a Summerfall Studios, criadora de Stray Gods, que busca US$ 167.514 para desenvolver Malys, um roguelite de cartas sobre exorcismo. Mas nem sempre as metas mais modestas garantem sucesso - faltando poucas horas para o encerramento, o projeto ainda precisa de mais US$ 30 mil.

Kickstarter ressurge como opção para estúdios independentes

Uma solução temporária em tempos difíceis

Embora o Kickstarter ofereça uma alternativa viável, ele não resolve os problemas estruturais do mercado. Muitos desenvolvedores estão usando a plataforma como uma forma de se manterem ativos enquanto buscam parcerias com publishers - cada vez mais raras e seletivas.

"Nos últimos anos há esse sentimento de que a mudança está chegando, e é só uma questão de - conseguiremos sobreviver até lá?", reflete David Gaider, da Summerfall Studios. "E, no entanto, as coisas não mudaram", completa, com um tom que mistura resignação e preocupação.

Fonte: Bloomberg

Lições aprendidas e estratégias que funcionam

Os desenvolvedores que estão tendo sucesso no Kickstarter atualmente parecem ter aprendido com os erros do passado. Campanhas mais transparentes, com metas claras e orçamentos detalhados, estão se mostrando mais eficazes. A equipe por trás de Malys, por exemplo, divulgou um breakdown completo de como cada dólar será gasto - desde salários até licenças de software.

Outra estratégia que está funcionando é o uso de protótipos jogáveis desde o primeiro dia da campanha. "Antes, as pessoas apoiavam baseadas apenas em conceitos artísticos e promessas", explica a desenvolvedora independente Carla Fernandes. "Hoje, se você não mostrar algo tangível, dificilmente conquista a confiança dos apoiadores."

O papel da comunidade no novo cenário

Enquanto nos anos 2010 o foco estava em arrecadar o máximo possível, hoje a construção de uma comunidade engajada parece ser tão importante quanto o financiamento em si. Estúdios estão usando o Kickstarter como plataforma para validar ideias e criar uma base de fãs antes mesmo do lançamento.

"Não se trata apenas do dinheiro", diz Marco Aurélio, do estúdio brasileiro Aoca Game Lab. "Quando 500 pessoas apoiam seu projeto, você tem 500 testadores potenciais, 500 divulgadores naturais. Isso tem um valor que vai muito além da arrecadação inicial."

Essa abordagem explica por que muitos jogos bem-sucedidos no Kickstarter hoje têm metas de financiamento relativamente baixas - muitas vezes cobrindo apenas uma fração do custo total de desenvolvimento. O objetivo é usar a plataforma como alavanca para atrair outros tipos de investimento.

Os riscos que persistem

Apesar do otimismo renovado, especialistas alertam que o Kickstarter ainda não é uma solução mágica. A taxa de sucesso para projetos de games na plataforma permanece em torno de 30%, segundo dados internos. E mesmo campanhas bem-sucedidas enfrentam desafios para entregar os jogos prometidos.

Um relatório recente da GamesIndustry.biz mostrou que apenas 58% dos jogos financiados entre 2020 e 2022 foram lançados até o final de 2024. Os atrasos são comuns, com muitos desenvolvedores subestimando a complexidade do processo criativo.

"As pessoas esquecem que arrecadar o dinheiro é apenas o primeiro passo", adverte a consultora de desenvolvimento Laura Mendes. "Gerenciar expectativas, cumprir prazos e manter a qualidade prometida é um desafio tão grande quanto a campanha em si."

Com informações do: Adrenaline