Quase três anos após seu lançamento conturbado, Cyberpunk 2077 finalmente parece estar encontrando seu ritmo. E a maior prova disso é a expansão Phantom Liberty, que não apenas adiciona uma nova área e missão, mas parece representar a realização da promessa original do jogo. Vamos mergulhar no que essa DLC traz para a mesa e por que ela pode ser o ponto de virada definitivo para a experiência em Night City.
O Que É Phantom Liberty?
Em vez de ser apenas um pacote de conteúdo extra, Phantom Liberty se apresenta como uma campanha espionagem de alto risco inserida no mundo principal. A história gira em torno do resgate da Presidente dos Novos Estados Unidos, cujo avião cai no distrito inacabado e perigoso de Dogtown, uma área completamente nova e isolada do resto de Night City. Você, como V, é recrutado pela agente Solomon Reed (vivido por Idris Elba) para uma operação de infiltração que promete recompensas tentadoras, incluindo uma possível cura para o seu problema do Relic.
E aqui está a coisa: a narrativa é descrita como um thriller de espionagem cinematográfico, com escolhas morais complexas e ramificações que podem alterar significativamente o destino do seu V. A sensação é que a CD Projekt Red aprendeu com os erros iniciais e está aplicando toda a sua expertise em narrativa, aquela que consagrou The Witcher 3, neste novo capítulo.
Além da História: Um Jogo Renascido
Mas Phantom Liberty não vem sozinho. Ela é a cereja do bolo de uma reformulação massiva do jogo base, batizada de Atualização 2.0. E essa atualização é gratuita para todos os jogadores, independentemente de possuírem a DLC. As mudanças são profundas. O sistema de progressão e perks foi completamente redesenhado, oferecendo mais liberdade e sinergia entre os estilos de jogo. A inteligência artificial dos inimigos e da polícia foi drasticamente melhorada, tornando os combates mais dinâmicos e desafiadores.
O sistema de tráfego e crowds ganhou vida nova, e os veículos agora têm combate armado integrado. É quase como se estivéssemos recebendo o jogo que foi prometido em 2020. Para quem abandonou o jogo após o lançamento, essa combinação de atualização gratuita e expansão premium cria um argumento irresistível para dar uma segunda chance a Night City.
Vale o Investimento?
Essa é a pergunta que muitos fãs e céticos estão se fazendo. Phantom Liberty é uma DLC premium, então o valor precisa ser justificado. Pelo que foi mostrado, a resposta parece ser um sonoro "sim" para quem já gostava do núcleo do jogo. A campanha principal da expansão tem uma duração estimada em cerca de 15-20 horas, mas, como é típico da CDPR, as missões secundárias, encontros aleatórios e a exploração de Dogtown podem facilmente dobrar esse tempo.
Além disso, a expansão introduz novos equipamentos, cyberware e até um sistema de relic skills que dá poderes únicos baseados na tecnologia do chip Relic. Para os jogadores de PC e das novas gerações de consoles (PS5 e Xbox Series X/S), os visuais e o desempenho também atingem novos patamares, com suporte a tecnologias como Ray Tracing: Overdrive Mode. Mas e aí, você está disposto a voltar para Night City depois de tudo que aconteceu? Acredito que a CD Projekt Red está fazendo um esforço monumental não apenas para corrigir erros, mas para conquistar a confiança dos jogadores de volta.
O lançamento de Phantom Liberty e da Atualização 2.0 marca um capítulo fascinante na indústria dos games. É raro vermos um título receber tanto suporte pós-lançamento e uma reformulação tão corajosa. Se o jogo base era um diamante bruto cheio de falhas, essa expansão parece ser o polimento final que revela seu verdadeiro brilho. Resta saber se os jogadores estarão dispostos a perdoar e esquecer os problemas do passado para embarcar nessa nova missão. A revolução em Night City pode, finalmente, estar começando de verdade.
E falando em Dogtown, vale a pena explorar o que essa nova área realmente representa. Não se trata apenas de mais um bairro de Night City com uma skin diferente. É um microcosmo da filosofia de sobrevivência no mundo cyberpunk. Enquanto o resto da cidade é controlado por megacorporações e gangues organizadas, Dogtown é um território de ninguém, governado por um senhor da guerra chamado Kurt Hansen. A sensação de perigo aqui é palpável, constante. Você nunca sabe se aquele vendedor de rua está apenas tentando ganhar alguns eddies ou se é uma armadilha para turistas incautos.
O design de nível, aliás, é algo que merece elogios. Os desenvolvedores criaram uma verticalidade impressionante, com favelas empilhadas precariamente sobre estruturas antigas, túneis secretos e passagens escondidas. Explorar Dogtown exige atenção – e muitas vezes, um bom impulso duplo. Encontrei mais de uma vez um caminho alternativo para um objetivo simplesmente por ter olhado para cima, para aquelas passarelas enferrujadas que ninguém parecia notar. É esse tipo de detalhe que transforma uma área de missão em um lugar que você quer conhecer, mesmo depois de concluir a história principal.
As Novas Mecânicas e a Recompensa do Jogador
Você mencionou as relic skills, mas vamos falar sobre como elas realmente mudam o fluxo do combate. Não são apenas buffs passivos. A habilidade de desacelerar o tempo ao mirar, por exemplo, ou aquele ataque com fio de monopólio que permite hackear múltiplos inimigos de uma vez... elas incentivam uma abordagem mais agressiva e criativa. De repente, entrar em uma sala cheia de 'gonks' se torna um quebra-cabeça de violência. Qual a ordem ideal? Devo usar o fio primeiro para desabilitar as câmeras e depois atacar, ou iniciar com um salto cronometrado para um ataque aéreo silencioso?
E isso se conecta diretamente com o redesign do sistema de perks. Antes, você basicamente escolhia uma árvore e seguia por ela. Agora, a sensação é de que estou montando um personagem verdadeiramente único. Posso pegar um perk de corpo que aumenta minha regeneração de vida ao usar armas corpo a corpo e combiná-lo com um perk de reflexos que aumenta a velocidade de ataque após uma esquiva. As sinergias são inúmeras. Já perdi uma boa meia-hora apenas lendo as descrições e imaginando combinações. É um sistema que respeita a inteligência do jogador e recompensa a experimentação.
Mas e a IA melhorada? Na prática, a diferença é gritante. Lembro de, no lançamento, os inimigos parecerem bonecos de treino que às vezes se escondiam. Agora, eles flanqueiam. Eles usam granadas de fumaça para cobrir o avanço. Se você está em uma posição elevada, eles não ficam apenas parados atrás de uma caixa – tentam subir ou procurar um ângulo melhor. A polícia, que antes surgia magicamente atrás de você, agora patrulha, responde a chamados e persegue de veículo. Não é perfeito, mas dá uma sensação de mundo vivo que antes simplesmente não existia.
O Peso das Escolhas e o Fantasma da Liberdade
O título da expansão, Phantom Liberty, é mais do que um nome bonito. Ele permeia toda a narrativa. Você está sendo recrutado para uma missão que promete liberdade – da sua condição mortal, das amarras do seu passado. Mas em Dogtown, a liberdade é uma ilusão. Todo mundo é um fantoche de alguém: de Hansen, das corporações, do governo dos NUSA. E você, V, acaba se tornando mais um.
As escolhas aqui são menos sobre "bom vs. mal" e mais sobre "pragmático vs. idealista" ou "sobrevivência vs. lealdade". Em uma missão, tive que decidir entre entregar um informante para o Barghest (a milícia de Hansen) para ganhar acesso a uma área restrita, ou ajudá-lo a escapar e perder essa vantagem tática. Não havia uma opção claramente correta. Salvei o informante, mas me arrependi mais tarde quando precisei invadir aquele complexo fortificado e perdi um membro da minha equipe de apoio no processo. A escrita não te poupa.
E isso me leva a Idris Elba como Solomon Reed. A performance é contida, carregada de um cansaço de guerra fria. Ele não é um herói. É um burocrata da espionagem, um homem que já sacrificou tantos princípios que mal se lembra por que começou. Suas interações com a V são carregadas de subtexto – cada oferta de ajuda vem com uma dívida, cada gesto de camaradagem pode ser uma manipulação. É um personagem que você quer confiar, mas o jogo constantemente te lembra que, em seu mundo, confiança é a mercadoria mais cara e perecível que existe.
E aí surge uma questão interessante: como essa expansão se conecta com os finais originais do jogo? Sem spoilers, mas Phantom Liberty não é apenas uma side story. Ela se entrelaça com a narrativa principal e oferece um novo final totalmente inédito para a jornada de V. Isso é significativo. Não é um epílogo ou uma cena extra. É uma conclusão alternativa que surge diretamente das escolhas feitas em Dogtown. Para quem já zerou o jogo várias vezes, isso representa uma razão totalmente nova para rejogar. É a CD Projekt Red dizendo: "Aqui está uma possibilidade que vocês nunca consideraram".
No fim das contas, o que mais me impressiona é o tom da expansão. O jogo base, apesar de seu cenário distópico, tinha um certo otimismo punk, uma sensação de que um único mercenário poderia fazer a diferença. Phantom Liberty é mais cínica, mais adulta. Ela entende que em um sistema corrupto até a medula, a vitória raramente é sobre derrubar o sistema, mas sobre encontrar uma brecha para respirar dentro dele. Sua liberdade é sempre fantasmagórica – você pode vê-la, persegui-la, mas nunca realmente segurá-la. E talvez seja essa maturidade narrativa, mais do que qualquer atualização técnica, o maior sinal de que Cyberpunk 2077 finalmente cresceu e encontrou sua própria voz.
Com informações do: IGN Brasil











