A chegada do SUV cupê Avatr 11 ao Brasil representa muito mais do que simplesmente mais um carro elétrico chinês no mercado. A Caoa Changan está implementando uma estratégia de vendas que lembra fortemente as práticas das marcas de luxo europeias, especialmente a Porsche, e isso pode mudar a forma como os consumidores brasileiros encaram os veículos premium.
Personalização como diferencial competitivo
O que realmente diferencia a Avatr de outras marcas chinesas é a abordagem de personalização. Enquanto muitas montadoras oferecem poucas opções de customização, a Avatr está disponibilizando 42 possibilidades diferentes para o cliente configurar seu veículo. "A gente entende que o cliente desse carro especificamente quer ter a oportunidade de customizar o carro, como ele tem em um Porsche, uma Ferrari ou um Rolls-Royce", explica Carlos Philippe Luchesi de Oliveira Andrade, co-presidente do Grupo Caoa.
E não se trata apenas de escolher entre seis cores disponíveis - incluindo tons de cinza e branco foscos e um bege perolizado como a cor mais vibrante. A personalização vai desde o revestimento dos bancos (bege, preto, vermelho ou cinza) até a configuração dos assentos traseiros: três lugares convencionais ou dois assentos individuais separados por um console central. Os bancos, aliás, são ventilados, aquecidos, possuem função de massagem e são revestidos em couro genuíno.

Processo de compra inspirado no luxo europeu
O processo de compra do Avatr 11 começa com um depósito de R$ 9.999 através da Webmotors, mas é o que vem depois que realmente importa. Cada cliente é atendido por um consultor exclusivo que auxilia na personalização do veículo. Após a configuração, o pedido é enviado para a China e o prazo de entrega varia entre 3 e 4 meses - tempo similar ao que clientes da Porsche enfrentam quando personalizam seus veículos na Europa.
Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, co-presidente do Grupo Caoa, detalha: "Tem algumas opções com um motor, tem algumas opções com dois motores. Nós homologamos todas as versões, todas as opções e todos os interiores para que o cliente possa, nos nossos configuradores, configurar seu carro".

Tecnologia e desempenho de ponta
O primeiro lote do Avatr 11, direcionado a amigos e fornecedores, já foi totalmente vendido. Esses veículos seguem uma configuração mecânica específica com dois motores que somam impressionantes 585 cv, capazes de levar o SUV de 2.365 kg de 0 a 100 km/h em apenas 3,9 segundos. A bateria de 116,8 kWh fornecida pela CATL - que é sócia da Avatr - oferece autonomia de 680 km no ciclo NEDC e suporta recarga ultrarrápida de 240 kW.
O design do Avatr 11 é verdadeiramente futurista, digno de carro-conceito. Na dianteira, as luzes de LED se dividem entre um traço fino e um "C" logo abaixo, com os faróis principais posicionados na base do para-choque. O que pode passar despercebido aos olhos menos atentos são os três radares a laser da Huawei montados na base do para-choque e nos para-lamas dianteiros - a Huawei é responsável pela eletrônica e sistemas autônomos dos veículos Avatr.

Na traseira, o Avatr 11 quebra convenções com seu vidro traseiro recuado e tampa quase tão plana quanto a de um sedã. Uma barra de LED cumpre a função de lanterna, criando um visual distintivo. O painel de instrumentos é igualmente incomum, envolvendo motorista e passageiro com a parte central avançada onde fica a tela multimídia que roda o sistema HarmonyOS 4 - o mesmo utilizado nos smartphones Huawei.
O sistema de áudio, fornecido pela Meridian (mesma empresa que equipa os Land Rover), é um conjunto 7.1.4 com 23 alto-falantes e potência de 2.026 W, prometendo uma experiência sonora imersiva.

Posicionamento de preço e expectativas de mercado
Na China, o Avatr 11 varia entre 289.900 e 429.900 yuan, equivalente a R$ 220.000 e R$ 325.500 sem impostos. Considerando que os carros chineses geralmente custam o dobro no Brasil em relação à China, é provável que o Avatr 11 chegue ao mercado brasileiro com preço em torno de R$ 650.000. A configuração prevista para o lançamento no Brasil é próxima da versão mais cara disponível no mercado chinês.

Essa estratégia de posicionamento coloca a Avatr em um segmento premium do mercado de elétricos, competindo não apenas com outras marcas chinesas, mas também com veículos europeus de luxo. A pergunta que fica é: os consumidores brasileiros estarão dispostos a pagar preços de Porsche por um carro chinês, mesmo que ofereça níveis similares de personalização e tecnologia?
Infraestrutura de suporte e experiência de propriedade
Mas será que apenas personalização e tecnologia são suficientes para justificar um preço tão elevado? A Caoa Changan parece ter pensado nisso também. A estratégia inclui uma rede de concessionárias que mais se assemelham a espaços de experiência do que a lojas tradicionais de automóveis. Imagine entrar em um ambiente que lembra mais uma galeria de arte do que uma revenda - é exatamente essa a sensação que a marca quer transmitir.
Os primeiros espaços Avatr no Brasil estarão localizados em regiões de alto poder aquisitivo de São Paulo e Rio de Janeiro, seguindo o mesmo modelo que fez sucesso na China. Cada local terá consultores especializados que funcionam mais como "conselheiros de mobilidade" do que como vendedores tradicionais. Eles recebem treinamento específico não apenas sobre as características técnicas do veículo, mas também sobre o estilo de vida que o produto representa.

O que me surpreendeu ao pesquisar mais sobre a marca foi o sistema de suporte pós-venda. Cada cliente terá acesso a um aplicativo exclusivo que permite agendar serviços, acompanhar o status do pedido personalizado e até mesmo solicitar assistência 24 horas. A marca promete que, em caso de problemas técnicos, um técnico especializado pode ser despachado para o local do cliente - algo que até mesmo algumas marcas europeias de luxo ainda não oferecem consistentemente no Brasil.
Parcerias estratégicas e ecossistema tecnológico
Você já parou para pensar no que acontece quando três gigantes da tecnologia se unem para criar um carro? A Avatr é resultado de uma joint venture entre a Changan Automobile (uma das maiores montadoras chinesas), a宁德时代(CATL - maior fabricante de baterias do mundo) e a Huawei (gigante das telecomunicações). Essa tríade não é por acaso - cada uma traz sua expertise fundamental para o produto final.
A Huawei, em particular, tem um papel que vai muito além do sistema de infotainment. A empresa é responsável pela arquitetura elétrica completa do veículo, incluindo o sistema de direção autônoma de nível 2+ que será oferecido no Brasil. Os três radares a laser (lidars) não são apenas para show - eles permitem que o carro "enxergue" em 360 graus e detecte objetos a até 200 metros de distância, mesmo em condições climáticas adversas.

Mas a integração com o ecossistema Huawei é ainda mais profunda. O sistema HarmonyOS 4 permite que o carro sincronize perfeitamente com smartphones, tablets e até dispositivos domésticos inteligentes da marca. Imagine sair de casa e o carro já saber para onde você está indo porque sincronizou com sua agenda, ou ajustar automaticamente a temperatura interna baseado em suas preferências pessoais. É esse nível de integração que a Avatr promete.
E as novidades não param por aí. A CATL está desenvolvendo uma versão da bateria que permitirá recargas ainda mais rápidas - estamos falando de adicionar 400 km de autonomia em apenas 10 minutos. Embora essa tecnologia ainda não esteja disponível no Brasil, a infraestrutura do Avatr 11 já é compatível, preparando o terreno para futuras atualizações.
Desafios no mercado brasileiro
Agora, vamos ser realistas: introduzir um carro chinês de luxo no Brasil não será fácil. O mercado brasileiro tem suas particularidades - e não estou falando apenas de estradas esburacadas. Os consumidores de veículos premium no país são tradicionalmente conservadores e tendem a valorizar marcas estabelecidas. Como convencer alguém que sempre teve Mercedes, BMW ou Audi a considerar uma marca chinesa?
Carlos Philippe Luchesi de Oliveira Andrade reconhece o desafio: "Temos consciência de que precisamos construir a confiança do consumidor brasileiro. Não estamos aqui para competir apenas no preço, mas na experiência completa de propriedade." A estratégia inclui test drives extensivos e eventos exclusivos para potenciais clientes, onde eles podem experimentar o veículo em condições reais de uso.

Outro ponto crucial é a rede de carregamento. Enquanto na China a Avatr conta com estações de recarga dedicadas, no Brasil a marca precisará depender da infraestrutura existente - que, vamos combinar, ainda está em desenvolvimento. A solução? Parcerias com redes de postos de combustível premium e a instalação de carregadores ultrarrápidos nas concessionárias da marca.
E não podemos esquecer da questão da revenda. Como o mercado receberá um Avatr 11 usado daqui a três ou quatro anos? Esse é um dos maiores medos dos compradores de veículos de marcas novas - o valor de revenda imprevisível. A Caoa Changan está estudando programas de buy-back garantido para tranquilizar os primeiros clientes, mas os detalhes ainda não foram divulgados.
O futuro da mobilidade elétrica premium no Brasil
O que o Avatr 11 representa vai além de um simples lançamento de produto. Ele sinaliza uma mudança fundamental na forma como as montadoras chinesas estão entrando no mercado brasileiro. Se antes competiam principalmente no segmento de entrada e médio, agora estão mirando diretamente o topo da pirâmide.
E isso me faz pensar: será que estamos testemunhando o início de uma nova era para o mercado automotivo brasileiro? Uma era onde a nacionalidade da marca importa menos do que a experiência que ela oferece? As reações dos primeiros clientes - aqueles "amigos e fornecedores" que compraram o lote inicial - serão cruciais para o sucesso da estratégia.

Outro aspecto fascinante é como essa abordagem pode influenciar outras marcas. Se a estratégia da Avatr der certo, é provável que vejamos outras montadoras chinesas seguindo o mesmo caminho - e quem sabe até marcas tradicionais precisando repensar seus modelos de negócio no Brasil. A personalização extensiva, por exemplo, sempre foi tratada como algo exclusivo para supercarros ou veículos ultra-luxuosos.
Mas e aí, o que você acha? Um carro elétrico chinês com preço de Porsche tem chance no mercado brasileiro? A resposta pode definir não apenas o futuro da Avatr no país, mas todo o segmento de veículos premium movidos a eletricidade. Enquanto isso, a Caoa Changan continua trabalhando nos preparativos para o lançamento oficial, com a expectativa de que os primeiros veículos personalizados comecem a chegar aos clientes no segundo semestre.
Com informações do: Quatro Rodas











