O anúncio histórico de Bill Gates
Nesta quinta-feira, 8 de maio de 2025, Bill Gates fez um anúncio que marcou o mundo da filantropia: a decisão de encerrar a Fundação Gates nos próximos 20 anos. Mas antes disso, o cofundador da Microsoft planeja doar impressionantes 99% de sua fortuna - estimada em US$ 107 bilhões - para a instituição.
Um legado que transformou a saúde global
A Fundação Gates, criada em 2000 por Bill e Melinda French Gates, tornou-se uma força inigualável no campo da filantropia. Ao longo de 25 anos, a instituição direcionou pesquisas científicas, desenvolveu novas tecnologias e estabeleceu parcerias que reduziram drasticamente os custos de tratamentos médicos em países de baixa e média renda.
Você sabia que cerca de 41% dos recursos da fundação vieram de Warren Buffett? O restante veio da fortuna que Gates acumulou na Microsoft. Juntos, eles já investiram US$ 100 bilhões em causas globais.
Os planos para os próximos 20 anos
A doação será realizada gradualmente, permitindo que a fundação gaste mais US$ 200 bilhões até seu encerramento. As prioridades incluem:
Erradicação da poliomielite
Controle de doenças como malária
Redução da desnutrição infantil
Manutenção dos programas de vacinação
"É emocionante ter essa quantia para poder investir nessas causas", disse Gates em entrevista à Associated Press. Ele destacou que a métrica mais valorizada da fundação foi a redução de quase metade das mortes infantis por causas evitáveis entre 2000 e 2020.
Desafios e transições
A fundação enfrenta um período de transição significativo. Após o divórcio de Bill e Melinda em 2021, e a saída de Buffett como curador, Melinda deixou a instituição em 2024 para focar em sua própria organização. "Eu queria deixar a fundação em um ponto alto", explicou ela durante o evento ELLE Women of Impact.
Mark Suzman, atual CEO da fundação, reconhece os desafios à frente, incluindo conflitos globais e cortes na ajuda externa. "Ter esse horizonte de tempo nos sobrecarrega para focar nas apostas maiores e mais bem-sucedidas", afirmou Suzman.
O impacto da filantropia de Gates na saúde global
Ao analisar os números, fica claro por que a Fundação Gates se tornou um modelo para a filantropia moderna. Desde sua criação, a instituição ajudou a imunizar mais de 1 bilhão de crianças em países em desenvolvimento, contribuindo para a redução de 47% na mortalidade infantil global. Mas os desafios persistem - a cada ano, cerca de 5 milhões de crianças ainda morrem antes dos 5 anos, principalmente de causas evitáveis.
Na minha experiência acompanhando o trabalho da fundação, o que mais impressiona é sua abordagem baseada em dados. Eles não apenas doam dinheiro, mas:
Financiam pesquisas inovadoras sobre vacinas e tratamentos
Desenvolvem parcerias público-privadas inéditas
Criam sistemas de monitoramento e avaliação rigorosos
Investem em capacitação local em países beneficiados
Críticas e controvérsias
Nem tudo são elogios ao legado de Gates. Alguns especialistas em desenvolvimento global questionam se a enorme influência da fundação pode:
Distorcer prioridades de saúde pública
Criar dependência em soluções tecnocêntricas
Minar sistemas públicos de saúde locais
Um relatório da The Lancet em 2023 destacou que, embora as contribuições sejam inegáveis, a "filantropia em escala bilionária traz riscos democráticos". Gates rebate essas críticas argumentando que a fundação sempre trabalhou em colaboração com governos e organizações locais.
O futuro da fortuna de Gates
Com a doação de 99% de seu patrimônio, Gates se junta a um grupo seleto de bilionários que prometeram doar a maior parte de suas riquezas. Mas como exatamente isso funcionará na prática? A estrutura planejada inclui:
Transferências anuais graduais para maximizar o impacto
Foco em projetos com potencial de escala global
Manutenção de um pequeno fundo para emergências humanitárias
Curiosamente, Gates mantém cerca de US$1 bilhão pessoalmente - "o suficiente para viver confortavelmente e continuar minhas outras paixões", como ele mesmo disse em uma entrevista ao Forbes. Esse valor inclui sua coleção de manuscritos raros e investimentos pessoais em energia limpa.
Lições para a próxima geração de filantropos
O modelo Gates-Buffett de filantropia influenciou profundamente como os ultra-ricos abordam a doação. Mas será que esse modelo é replicável? Algumas lições-chave emergem:
Foco em problemas solucionáveis com tecnologia e dados
Paciencia para resultados de longo prazo
Disposição para assumir riscos que governos não podem
Transparência radical sobre falhas e sucessos
O que mais surpreende é como Gates transformou a filantropia em um empreendimento quase científico. "Nós tratamos cada dólar como se fosse uma vacina que precisa atingir seu alvo", ele explicou em seu discurso de anúncio. Essa mentalidade meticulosa pode ser seu maior legado - mais até que os bilhões doados.
Com informações do: www.estadao.com.br