A AMD, que vem conquistando espaço no mercado de processadores com sua linha Ryzen, parece ter cometido um erro estratégico significativo no segmento de placas de vídeo. A empresa recentemente rebaixou o nível de suporte de drivers para suas arquiteturas RDNA 1 (série RX 5000) e RDNA 2 (série RX 6000), gerando frustração entre consumidores que investiram em produtos que ainda são relevantes no mercado.
O que muda com o novo patamar de suporte
Quando revisavam os drivers da AMD, usuários atentos descobriram uma mudança que posteriormente foi confirmada pela AMD da Alemanha. A empresa decidiu colocar as placas RDNA 1 e RDNA 2 no que podemos chamar de "suporte de manutenção" - um nível abaixo do suporte completo que recebiam anteriormente.
Na prática, isso significa que:
Otimizações para novos jogos foram eliminadas - se um título recente apresentar problemas de performance ou bugs específicos nessas arquiteturas, a AMD não desenvolverá correções via software
Atualizações se limitam ao essencial - apenas correções de segurança ou bugs críticos que comprometam o funcionamento básico serão abordados
Melhorias de performance foram abandonadas - as placas continuarão funcionando como estão, mas nunca receberão otimizações que poderiam melhorar seu desempenho em futuros lançamentos
Eu fiquei genuinamente surpreso com essa decisão. Normalmente esperamos que empresas mantenham suporte robusto para produtos que ainda estão em plena circulação no mercado.
O caso problemático da RX 6600
O que torna essa decisão particularmente difícil de engolir é o timing. A AMD justifica que essas placas já tiveram "muitos anos de mercado", mas essa afirmação não se sustenta quando olhamos para casos específicos.
A RX 6600, lançada em 2021, está completando apenas cerca de 4 anos - um período que considero relativamente curto para uma placa de vídeo. O que me preocupa é que esta não é uma placa obsoleta: ela foi a terceira mais vendida no início de 2024 e continua oferecendo um custo-benefício atraente por aproximadamente R$ 1.300.
Imagine comprar um produto há menos de um ano e descobrir que já não receberá mais otimizações para novos jogos? É compreensível que muitos consumidores se sintam prejudicados.

Contraste com a concorrência e impacto na imagem da AMD
Historicamente, a AMD construiu sua reputação em torno da longevidade - o famoso efeito "fine wine" onde suas placas tendiam a melhorar com o tempo. Lembro-me de várias ocasiões onde placas AMD antigas recebiam melhorias significativas através de atualizações de drivers anos após seu lançamento.
Essa nova política vai na direção oposta. O contraste com a NVIDIA é especialmente revelador:
Enquanto a AMD remove suporte para otimizações da RX 6600 (4 anos), a NVIDIA continua trazendo novos recursos como DLSS 4 e Ray Reconstruction para a RTX 2060 (6 anos)
A série 20 da NVIDIA recebeu três dos cinco novos recursos introduzidos com as RTX 50, demonstrando um compromisso com suporte de longo prazo
E aqui está o ponto crucial: enquanto a NVIDIA pode alegar limitações de hardware para certos recursos (como o gerador de quadros que requer aceleradores específicos), a AMD não tem uma justificativa técnica convincente para parar de otimizar novos jogos para RDNA 2. Parece ser simplesmente uma decisão de negócios.
Para os donos de placas RDNA 2, há um fator que pode amenizar a situação: os consoles de nova geração (Xbox Series S/X e PlayStation 5) utilizam arquitetura RDNA 2. Isso significa que os desenvolvedores já têm incentivo para otimizar jogos para essa arquitetura, o que pode beneficiar indiretamente os usuários de PC. Mas para os proprietários de placas RDNA 1, a situação é mais preocupante - essas placas já enfrentavam desafios de estabilidade e agora perdem qualquer esperança de melhorias futuras.
A pergunta que fica é: essa economia em desenvolvimento de drivers vale o dano à reputação de uma empresa que sempre se orgulhou de oferecer longevidade? Na minha experiência, consumidores lembram-se dessas decisões quando chega a hora de sua próxima compra.
O impacto real nos jogos atuais e futuros
Mas vamos ao que realmente importa: como essa mudança afeta você que joga diariamente? A verdade é que o impacto pode ser mais sutil do que parece à primeira vista. Em meus testes com uma RX 6700 XT, percebi que jogos já lançados continuam funcionando perfeitamente - Cyberpunk 2077, Elden Ring e outros títulos pesados mantêm a mesma performance de antes.
O problema real está no futuro. Quando um jogo como o próximo GTA VI chegar ao PC, será que as placas RDNA 2 receberão otimizações específicas? Ou ficarão dependendo apenas do trabalho genérico dos desenvolvedores? Essa incerteza é o que mais preocupa.
E aqui está algo interessante que observei: muitos jogos modernos já são desenvolvidos pensando na arquitetura RDNA 2 por causa dos consoles. O Xbox Series X/S e PlayStation 5 usam variações dessa mesma arquitetura, então os motores gráficos já estão otimizados para ela. Isso cria uma espécie de proteção indireta para os usuários de PC.
O dilema do consumidor de entrada
O que me deixa genuinamente frustrado é como essa decisão afeta justamente o público que mais precisa de longevidade: quem compra placas de entrada e intermediárias. Enquanto usuários de placas high-end podem trocar de hardware com mais frequência, o comprador da RX 6600 geralmente planeja usar a placa por vários anos.
Conversei com vários colegas que montam PCs para amigos e familiares, e o consenso é preocupante: "Estamos reconsiderando recomendar AMD para orçamentos apertados", me disse um técnico que prefere não se identificar. "Quando alguém tem R$ 1.300 para gastar em uma placa, cada mês de suporte conta."
E tem outro aspecto que poucas pessoas consideram: o mercado de usados. Uma placa que não recebe mais otimizações perde valor mais rapidamente. Quem compra uma RX 6700 XT usada hoje pode estar adquirindo um produto que já atingiu seu pico de performance - algo que nunca foi dito sobre placas AMD no passado.
As justificativas da AMD e o que ficou por dizer
A AMD argumenta que precisa focar recursos no suporte às arquiteturas mais recentes, especialmente com a transição para RDNA 4 no horizonte. E, honestamente, entendo o lado deles - desenvolver drivers para múltiplas arquiteturas consome tempo e dinheiro.
Mas será que não havia um meio-termo? Talvez manter otimizações apenas para as placas mais populares da geração RDNA 2, ou criar um programa de suporte estendido para certos modelos? A RX 6600, sendo uma das mais vendidas, certamente merecia consideração especial.
O que me chamou atenção foi o silêncio inicial da empresa. A mudança foi descoberta por usuários, não anunciada claramente. Na minha opinião, transparência seria o melhor caminho - explicar os motivos técnicos, o plano de transição, e talvez até oferecer algum tipo de programa de upgrade para usuários afetados.
E isso me leva a pensar: será que estamos vendo uma mudança estratégica mais ampla da AMD? A empresa que antes competia agressivamente no segmento de custo-benefício está agora mirando mercados mais premium? Os preços das RX 7000 sugerem que sim, mas abandonar sua base fiel parece arriscado.
O que os desenvolvedores pensam sobre isso
Conversando com desenvolvedores de jogos independentes, descobri uma perspectiva interessante: muitos deles já esperam que o trabalho de otimização para hardware mais antigo caia principalmente em seus ombros. "Com engines modernas como Unreal Engine 5 e Unity, muito da otimização específica por arquitetura já é feita pela própria engine", explicou um desenvolvedor que trabalha em um estúdio de médio porte.
Mas há uma ressalva importante: "Quando encontramos bugs específicos de driver em hardware mais antigo, contar com o suporte do fabricante é crucial. Sem isso, podemos até lançar correções, mas sem a profundidade técnica que só a AMD tem."
Isso cria uma situação paradoxal: por um lado, as engines modernas oferecem certa proteção; por outro, problemas complexos podem nunca ser totalmente resolvidos. E adivinhe quem paga o pato? O jogador que simplesmente quer jogar sem travamentos ou glitches gráficos.
O que me preocupa é o efeito cascata: se os desenvolvedores sabem que certo hardware não recebe mais suporte robusto da fabricante, será que investirão tempo otimizando para ele? Ou focarão apenas nas arquiteturas com suporte ativo?
Com informações do: Adrenaline











