Intel anuncia fim do Clear Linux após 10 anos
A Intel surpreendeu a comunidade de código aberto ao anunciar o encerramento do Clear Linux, sua distribuição otimizada para processadores x86 e x64. O comunicado foi feito através de um post no fórum oficial, marcando o fim de uma década de desenvolvimento.

"Após anos de inovação e colaboração com a comunidade, estamos encerrando o suporte para o Clear Linux OS", declarou a Intel. "A partir de agora, não forneceremos mais patches de segurança, atualizações ou manutenção, e o repositório no GitHub será arquivado como somente leitura."
Para quem ainda usa o sistema, a recomendação é clara: migrar o quanto antes para outra distribuição ativamente mantida. Afinal, sistemas sem atualizações de segurança se tornam alvos fáceis para vulnerabilidades.
Contexto estratégico: cortes na Intel
O movimento faz parte de uma estratégia maior de redução de custos na Intel, que vem enfrentando demissões em massa e reestruturação. Quando uma empresa precisa enxugar seus projetos, iniciativas de nicho como o Clear Linux costumam ser as primeiras a serem cortadas.

Mas calma, isso não significa que a Intel está abandonando o Linux. Pelo contrário. A empresa foi rápida em ressaltar que continua comprometida com o ecossistema open source, contribuindo para outros projetos e distribuições. "A Intel permanece profundamente investida no ecossistema Linux", afirmaram.
O legado do Clear Linux
Lançado em 2015, o Clear Linux se destacou por seu desempenho otimizado para hardware Intel e por um modelo de atualização contínua único. Ele foi pioneiro em várias tecnologias que depois foram adotadas por outras distribuições.
Embora nunca tenha alcançado a popularidade de distribuições como Ubuntu ou Fedora, tinha seu público fiel - especialmente entre desenvolvedores e usuários que valorizavam performance bruta. Sua arquitetura incomum, com pacotes estáticos em vez de bibliotecas compartilhadas, era tanto sua força quanto sua fraqueza.
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Impacto na comunidade e alternativas para migração
A notícia pegou muitos usuários de surpresa, especialmente aqueles que haviam investido tempo configurando seus ambientes no Clear Linux. Em fóruns especializados, desenvolvedores expressaram frustração com a decisão repentina. "É como se você construísse sua casa em um terreno alugado e o proprietário decidisse demolir sem aviso prévio", comentou um usuário no Reddit.
Para quem precisa migrar, especialistas sugerem algumas alternativas que mantêm o foco em performance e otimização para hardware Intel:
Fedora Workstation: Com suporte oficial da Red Hat e atualizações frequentes, é uma das distribuições mais estáveis para desenvolvedores
Arch Linux: Oferece controle granular sobre o sistema, embora com uma curva de aprendizado mais acentuada
openSUSE Tumbleweed: Sistema de atualização contínua com testes automatizados robustos
Lições para o ecossistema open source
O caso do Clear Linux levanta questões importantes sobre a sustentabilidade de projetos corporativos no mundo do código aberto. Quando uma empresa gigante como a Intel decide descontinuar um projeto, centenas ou milhares de usuários são impactados. Isso cria um dilema: vale a pena adotar soluções patrocinadas por grandes corporações se elas podem ser abandonadas a qualquer momento?
Alguns membros da comunidade argumentam que o Clear Linux nunca deveria ter sido tão dependente da Intel em primeiro lugar. "Projetos verdadeiramente comunitários tendem a ser mais resilientes", observa um mantenedor do Debian em seu blog pessoal. Ele tem um ponto - distribuições como Debian ou Slackware sobreviveram por décadas justamente por não estarem atreladas aos humores de uma única empresa.
Por outro lado, sem o investimento massivo da Intel, o Clear Linux dificilmente teria alcançado o nível de otimização que o tornou único. É o velho dilema entre inovação corporativa e sustentabilidade comunitária. Será que no futuro veremos mais modelos híbridos, onde empresas contribuem sem exercer controle total?
O que acontece com as inovações técnicas?
Uma das maiores preocupações é o destino das tecnologias desenvolvidas para o Clear Linux. Muitas de suas otimizações - especialmente em áreas como gerenciamento de energia e escalamento de threads - eram exclusivas. A boa notícia é que parte desse trabalho já foi upstreamed para o kernel Linux principal.
Projetos como o Intel Linux Graphics e o GitHub da Intel continuarão recebendo contribuições, segundo a empresa. Mas algumas ferramentas específicas do Clear Linux, como seu sistema de atualização atomic e o formatador de disco inteligente, podem desaparecer ou ficar obsoletas sem manutenção.
Curiosamente, esse não é o primeiro projeto Linux que a Intel descontinua. Em 2017, a empresa encerrou o MeeGo, seu sistema para dispositivos móveis. Parte da tecnologia acabou sendo reaproveitada no Sailfish OS e no Tizen. Será que veremos um caminho similar para as inovações do Clear Linux?
Com informações do: Adrenaline