Polêmica da Ubisoft: empresa quer que jogadores destruam cópias físicas

A Ubisoft está causando polêmica com uma cláusula pouco usual em seus termos de serviço. Segundo as novas condições, se a empresa decidir parar de vender determinado jogo, os jogadores que possuem versões físicas deverão destruir suas cópias.

Isso significa que, teoricamente, você poderia receber uma notificação pedindo para desinstalar o jogo do seu console e até mesmo descartar a mídia física. A medida se aplicaria mesmo para títulos comprados em lojas físicas, não apenas em distribuição digital.

O que dizem os termos de serviço?

Nos Termos de Uso atualizados, a Ubisoft afirma que "em caso de término ou revogação de seus direitos de licença, você concorda em parar de usar o conteúdo licenciado e destruir todas as cópias do conteúdo licenciado em sua posse".

Embora seja comum empresas terem controle sobre distribuição digital, a exigência sobre mídias físicas é incomum. Afinal, como a Ubisoft faria para fiscalizar se os jogadores realmente destruíram seus discos? E o que aconteceria com colecionadores que guardam jogos raros?

Reação da comunidade gamer

Os jogadores estão divididos sobre a questão:

  • Alguns argumentam que é um abuso de poder sobre produtos já adquiridos

  • Outros defendem que é apenas uma cláusula padrão de proteção legal

  • Colecionadores expressaram preocupação com o futuro de edições físicas limitadas

Especialistas em direito digital apontam que a exigência pode ser difícil de ser aplicada na prática, mas serve como alerta sobre como as empresas estão tentando manter controle mesmo sobre produtos físicos. Será que estamos caminhando para um futuro onde não teremos mais posse real sobre os jogos que compramos?

Implicações legais e precedentes preocupantes

Esta não é a primeira vez que uma empresa de jogos tenta impor restrições incomuns sobre propriedade física. Em 2010, a EA introduziu o 'Online Pass', que limitava funcionalidades de jogos usados. Porém, a exigência de destruição física é um novo patamar.

Advogados especializados em propriedade intelectual apontam que a cláusula pode violar princípios básicos do direito do consumidor em vários países. "Na Europa, por exemplo, há leis específicas sobre exaustão de direitos autorais que garantem ao comprador a liberdade de revender ou manter sua cópia física", explica o Dr. Carlos Mendes, professor de Direito Digital.

O paradoxo da preservação de jogos

Esta política colide diretamente com os esforços de preservação de jogos como arte e cultura. Museus como o Strong Museum of Play nos EUA mantêm extensas coleções de jogos físicos para documentação histórica. Se todas as empresas adotassem políticas similares, como ficaria a preservação da história dos videogames?

Alguns desenvolvedores independentes já manifestaram preocupação. "Comecei na indústria porque cresci jogando títulos clássicos que hoje são raros", comenta Ricardo Torres, da desenvolvedora brasileira Flux Game Studio. "Se essas cópias tivessem sido destruídas, parte da nossa herança cultural estaria perdida."

O mercado secundário e o valor dos jogos físicos

Lojas de jogos usados e marketplaces como eBay podem ser diretamente impactados. Um vendedor especializado em jogos raros, que preferiu não se identificar, revela: "Tenho clientes que pagam milhares por edições limitadas da Ubisoft. Se essa política for aplicada retroativamente, o valor desses itens pode despencar."

Curiosamente, a própria Ubisoft já lucrou com a escassez de edições físicas. Em 2019, relançaram cópias físicas limitadas de Assassin's Creed III para Nintendo Switch, que se esgotaram rapidamente e hoje valem o dobro do preço original.

Tecnologia versus propriedade: um debate antigo

Este caso reacende discussões sobre o conceito de propriedade na era digital. Quando você compra um jogo físico hoje, muitos títulos já dependem de day-one patches e servidores online para funcionar plenamente. A linha entre "possuir" e "licenciar" um produto nunca foi tão tênue.

Alguns jogadores mais jovens podem nem se importar - afinal, muitos cresceram com serviços de assinatura como Xbox Game Pass. Mas para colecionadores veteranos, a ideia de destruir uma coleção física é quase sacrilégio. "Tenho jogos da Ubisoft desde os tempos do Prince of Persia original em disquete", comenta um membro do fórum ResetEra. "Agora eles querem que eu jogue tudo no lixo?"

Com informações do: IGN Brasil