O cenário desafiador do Steam para desenvolvedores independentes
Dan Marshall, desenvolvedor veterano no Steam desde 2009, compartilha uma perspectiva realista sobre as dificuldades de se destacar na plataforma hoje. Com a experiência de quem lançou "Time Gentleman, Please!", ele afirma que não existe mais uma fórmula garantida para o sucesso na loja digital mais popular para jogos PC.
O caso de Balatro exemplifica essa imprevisibilidade. Marshall comenta que poderiam ser escritos "um milhão de ensaios" tentando explicar seu sucesso, mas nenhum deles capturaria completamente os fatores aleatórios que contribuíram - incluindo a polêmica temporária sobre seu banimento, que paradoxalmente aumentou sua visibilidade.
Por que os métodos tradicionais não funcionam mais
O desenvolvedor é categórico: as estratégias que funcionavam no passado perderam eficácia. Endossos de figuras influentes, que antes garantiam vendas significativas, já não são suficientes na atual saturação do mercado. A analogia que Marshall usa é reveladora: "É como tentar ser ouvido em um estádio lotado onde todos estão gritando ao mesmo tempo".
Mesmo tentar replicar fenômenos como Vampire Survivors não garante resultados. Marshall é direto: "O clima da época já passou". Essa observação levanta questões importantes sobre como a indústria de jogos independentes pode se sustentar nesse ambiente volátil.
A dura realidade para criadores independentes
Diante desse cenário, o conselho de Marshall parece quase desanimador: faça um bom jogo e torça para dar certo. Ele reconhece que essa não é a abordagem mais profissional para gerir um negócio, mas reflete a realidade atual da plataforma. Com milhares de lançamentos mensais, até mesmo jogos tecnicamente excelentes podem passar despercebidos.
Um dado preocupante mencionado por Marshall: a Steam, apesar de ter aberto espaço para vozes diversas, criou um ambiente onde é extremamente difícil qualquer uma delas ser realmente ouvida. Isso coloca desenvolvedores em um dilema - como investir tempo e recursos sem garantias de retorno?
Estratégias alternativas para ganhar visibilidade
Embora Marshall seja cético sobre fórmulas prontas, ele reconhece que alguns desenvolvedores estão experimentando abordagens não convencionais. Uma delas é o lançamento antecipado em plataformas alternativas antes de chegar ao Steam, criando uma base de fãs orgânicos. Outros estão investindo em comunidades no Discord ou em atualizações constantes que mantêm os jogadores engajados.
"Vejo desenvolvedores que lançam demos extensas no Itch.io", comenta Marshall. "Quando o jogo finalmente chega ao Steam, já tem uma audiência cativa. É arriscado, mas pelo menos tira você daquela avalanche de lançamentos diários."
O papel da sorte e do timing no sucesso
Marshall enfatiza um fator que muitos relutam em admitir: a sorte desempenha um papel enorme. Ele cita o caso de um jogo de puzzle que explodiu após ser mencionado por um streamer coreano desconhecido. "Ninguém poderia prever isso. O desenvolvedor nem sabia que seu jogo estava sendo transmitido até as vendas dispararem."
O timing também é crucial. Jogos que surfam em tendências culturais têm mais chances, mas identificar essas tendências antes que saturem é quase uma arte. "Em 2023, todo mundo queria fazer seu 'Among Us'. Em 2024, eram clones de Palworld. Agora em 2025... bem, ninguém sabe ao certo, e quando descobrirem, provavelmente já será tarde."
O paradoxo da acessibilidade versus saturação
A Steam Direct, que substituiu o Greenlight em 2017, democratizou o acesso à plataforma. Mas Marshall questiona se essa acessibilidade teve um custo. "Antes, o Greenlight pelo menos funcionava como um filtro. Agora, qualquer um pode publicar - o que é ótimo para diversidade, mas terrível para descoberta."
Ele aponta para números impressionantes: em 2024, a Steam recebeu mais de 14.000 novos jogos - quase 40 por dia. "Como você espera que os jogadores encontrem seu trabalho nesse dilúvio? E pior: como espera que a imprensa ou os influenciadores notem você?"
Alguns desenvolvedores estão respondendo a isso com táticas agressivas de marketing, desde bundles controversos até campanhas de desconto constantes. Mas Marshall adverte: "Isso pode gerar vendas iniciais, mas também desvaloriza seu trabalho e cansa sua audiência."
Com informações do: Adrenaline
