Jogo brasileiro transforma eleições municipais em estratégia por turnos

Imagine um tabuleiro onde cada jogada pode definir seu futuro político, mas eventos inesperados — como um escândalo de corrupção ou uma crise na saúde pública — podem virar o jogo completamente. É assim que funciona Zona Eleitoral – Prefeitura, o game brasileiro que mistura estratégia por turnos com educação política de um jeito que só quem vive no Brasil reconheceria.

Desenvolvido por Victor e Ana Fisch com consultoria em acessibilidade, o jogo acaba de receber sua primeira grande atualização desde o lançamento da versão beta em 2024. E olha, ficou ainda mais imprevisível — assim como as eleições reais.

Novidades que aproximam o jogo da realidade política

A atualização trouxe três elementos cruciais:

  • Linha do tempo da campanha: Agora você visualiza cada fase eleitoral como um tabuleiro, mas cuidado — o improviso ainda reina.
  • Eventos de Sorte ou Revés: Desde um vazamento de áudio comprometedor até uma doação milionária inesperada, o acaso pode virar seu aliado ou pior inimigo.
  • Pesquisas eleitorais dinâmicas: Seu adversário subiu 5 pontos depois de prometer Wi-Fi grátis? Hora de repensar a estratégia.

"É quase uma aula de ciência política disfarçada de jogo", comenta um professor que testou a versão beta com alunos. Mas será que os jovens realmente aprendem sobre democracia enquanto tentam se eleger prefeito da fictícia Tubaúba?

Por que esse jogo importa?

Em um país onde 38% dos jovens entre 16 e 17 anos não tiraram título eleitoral nas últimas eleições, ferramentas como essa podem ser mais eficientes que campanhas tradicionais de conscientização. O jogo não ensina a ganhar eleições — mostra por que perdê-las muitas vezes diz mais sobre o sistema do que sobre os candidatos.

Disponível gratuitamente para Android e iOS, com versão para PC em desenvolvimento, Zona Eleitoral prova que games podem ser mais que entretenimento. São espelhos distorcidos da nossa própria realidade política, onde cada decisão tem consequências — e onde o caos muitas vezes é a única regra certa.

O jogo que ensina política na prática (e sem filtros)

O que mais impressiona em Zona Eleitoral é como ele captura aqueles detalhes sujos da política que os manuais escolares nunca mencionam. Você começa achando que basta ter boas propostas, mas logo descobre que:

  • Alianças incômodas são inevitáveis: Precisa do apoio da bancada ruralista para seu projeto de transporte público? Prepare-se para ceder em outras áreas.
  • O timing é tudo: Lançar sua proposta de educação durante um escândalo de desvio de merenda escolar? Péssima ideia.
  • Até memes podem virar armas: Um vídeo seu cantando desafinado em 2012 ressurgiu? Melhor abraçar a zoeira antes que virem hashtag contra você.

"Fizemos questão de incluir mecânicas que refletem o jogo sujo", explica Victor Fisch em entrevista. "Tem um evento aleatório chamado 'Puxadinho de Lastro' onde você precisa decidir entre aprovar obras irregulares para ganhar apoio de empreiteiras ou manter a ética e arriscar ficar sem verba."

O paradoxo da acessibilidade política

Aqui está a ironia: enquanto o Tribunal Superior Eleitoral gasta milhões com cartilhas que ninguém lê, um jogo indie consegue ensinar sobre:

  • Como funcionam os fundos eleitorais
  • Por que coligações partidárias são armadilhas
  • O verdadeiro custo de promessas populares como redução de impostos

E o faz através de situações como:

  • Ter que escolher entre atender demandas de um bairro rico (que doa mais) ou de uma periferia (que tem mais eleitores)
  • Descobrir que seu assessor está desviando dinheiro da campanha
  • Lidar com a frustração quando seu plano de governo perfeito é ignorado porque o adversário apareceu na Record

"É frustrante quando você perde porque não soube jogar o jogo das redes sociais", diz uma jogadora de 17 anos. "Mas agora entendo por que políticos fazem tanta bobagem no TikTok."

Os bastidores do desenvolvimento

Criar um jogo sobre política brasileira em 2024 foi como navegar por um campo minado. Os desenvolvedores contam que:

  • Tiveram que recalibrar eventos aleatórios toda semana conforme novas polêmicas surgiam na vida real
  • O sistema de corrupção foi testado e retestado para não parecer caricato, mas também não romantizado
  • Incluíram um modo "Santo" onde é possível vencer sem fazer concessões éticas — mas é tão difícil quanto na vida real

Ana Fisch revela: "Quase cortamos o evento 'Laranjal', onde você precisa decidir se aceita doações ilegais para financiar a campanha. Mas aí lembrei que omitir isso seria desonesto com os jogadores."

E assim como na política real, o jogo não oferece respostas fáceis. Aquela promessa de asfaltar todas as ruas? Pode lhe render votos, mas vai drenar seus recursos para outras áreas. Ignorar os evangélicos? Boa sorte quando eles lançarem uma campanha contra você.

Com informações do: IGN Brasil