
Uma proposta ambiciosa que não entrega totalmente
Desde seu anúncio, The Precinct chamou atenção por colocar os jogadores no papel de um policial em um mundo aberto que lembra os GTAs clássicos. Mas será que o jogo entrega na experiência prometida?
Como alguém que acompanhou o desenvolvimento com expectativa, posso dizer que The Precinct tem momentos de brilho, mas sofre com problemas significativos que comprometem a experiência. A sensação é de um jogo que tentou abraçar muitas ideias ao mesmo tempo e não conseguiu executar nenhuma delas com excelência.
Narrativa superficial em um mundo que prometia mais
Você assume o papel de Nick Cordell Jr., um novato na polícia de Averno que busca desvendar o assassinato do pai, também policial. O cenário dos anos 80 tem seu charme, com referências à cultura da época, mas a história se desenvolve de maneira estranhamente desequilibrada.

Os primeiras horas apresentam a trama principal, que depois praticamente desaparece até reaparecer abruptamente no final. No meio disso, temos missões secundárias envolvendo gangues que pouco acrescentam à narrativa. Personagens como o parceiro Kelly têm potencial, mas a maioria dos colegas de delegacia são completamente esquecíveis.
O que mais frustra é que o jogo se vende como um sandbox narrativo, mas a história parece ter sido cortada ou desenvolvida às pressas. Você fica com a sensação de que há muito mais por trás daquele mundo, mas o jogo nunca te permite explorar essas possibilidades.
Sistema de progressão: o ponto alto entre os problemas
As atividades policiais variam de patrulhas a pé a perseguições de carro e helicóptero. No papel, soa diversificado, mas na prática fica repetitivo rápido. A abordagem a suspeitos é um dos melhores sistemas - você pode pedir documentos, revistar, aplicar teste do bafômetro e decidir entre multar ou prender.



O sistema de provas é talvez o mais problemático. Para avançar na história, você precisa coletar evidências que muitas vezes aparecem de forma aleatória. Chega a ser frustrante quando você passa horas atendendo chamados sem progresso, para depois descobrir que revistar civis aleatórios é o caminho mais eficiente.

Por outro lado, o sistema de progressão do personagem é um dos melhores elementos. Conforme sobe de nível, você desbloqueia novas habilidades, armas e veículos. A árvore de habilidades é bem pensada e oferece melhorias significativas. É uma pena que esse cuidado não tenha se estendido a outros aspectos do jogo.

Jogabilidade: quando os controles e a IA viram inimigos
Dirigir em The Precinct pode ser divertido - cada veículo tem características distintas. Mas as perseguições frequentemente se tornam frustrantes quando os carros inimigos atingem velocidades irreais. A pé, a situação piora: tentar abordar múltiplos suspeitos é um pesadelo porque seu parceiro raramente ajuda efetivamente.

A inteligência artificial é provavelmente o maior problema técnico. NPCs policiais frequentemente ficam presos em obstáculos, escolhem rotas ilógicas ou simplesmente param de reagir. Em uma missão de helicóptero, cheguei a perder cinco suspeitos porque as unidades terrestres não conseguiam alcançá-los - mesmo estando cercados.

O combate é outro ponto fraco. Enquanto as lutas corpo a corpo são apenas medianas, os tiroteios são francamente ruins. A função de cobertura falha frequentemente, a mira é difícil de enxergar em momentos de ação intensa e a regeneração de vida é absurdamente lenta.

Os desenvolvedores prometem correções para alguns desses problemas em atualizações futuras, mas é difícil acreditar que consertarão tudo. Muitas das falhas parecem estar enraizadas no design básico do jogo, não sendo simplesmente bugs que podem ser corrigidos com patches.
Mundo aberto: um cenário promissor com pouca vida
Averno, a cidade fictícia onde se passa The Precinct, tem uma arquitetura interessante que mistura elementos de Nova York e Los Angeles dos anos 80. Os bairros variam de áreas industriais decadentes a distritos comerciais movimentados, mas falta a sensação de um ecossistema vivo. Os NPCs seguem rotinas extremamente básicas e raramente reagem de forma convincente às ações do jogador.

O trânsito é particularmente decepcionante. Enquanto você esperaria um fluxo dinâmico de veículos em diferentes horários, o que encontramos são padrões repetitivos que quebram a imersão. Durante perseguições, é comum ver carros simplesmente desaparecerem ao virar esquinas ou surgirem do nada para bloquear seu caminho de forma artificial.
Detalhes técnicos: quando o desempenho atrapalha a experiência
Mesmo em hardware potente, The Precinct sofre com quedas de frame rate em situações de muita ação. As texturas demoram para carregar frequentemente, criando um efeito de 'pop-in' visível durante direções em alta velocidade. O jogo também apresenta bugs visuais recorrentes, como sombras que piscam ou objetos flutuantes.
O sistema de física é outro ponto problemático. Colisões entre veículos frequentemente resultam em comportamentos estranhos, com carros girando ou sendo lançados no ar de forma pouco realista. Em uma ocasião, testemunhei um caminhão ficar preso em um poste e começar a tremer violentamente até explodir sem motivo aparente.
Elementos promissores que mereciam mais desenvolvimento
O sistema de reputação da delegacia tinha potencial para ser um diferencial. Suas ações afetam como os colegas te tratam e quais missões ficam disponíveis, mas as consequências são superficiais. Seria fascinante se decisões difíceis - como aceitar suborno ou usar força excessiva - tivessem impactos mais profundos na narrativa.
As estações de rádio policial são uma adição interessante, com comunicados que te alertam sobre crimes em andamento. No entanto, depois de algumas horas, você começa a notar a repetição exaustiva das mesmas situações. A falta de variedade nas ocorrências aleatórias torna o patrulhamento monótono mais rápido do que deveria.
O sistema de personalização do personagem também fica aquém do esperado. Enquanto você pode trocar uniformes e acessórios, as opções são limitadas e não afetam a jogabilidade. Em um jogo que se propõe a simular a vida policial, seria natural esperar mais profundidade nesse aspecto.
Comparações inevitáveis: como The Precinct se sai contra outros jogos do gênero?
É impossível não comparar The Precinct com franquias estabelecidas como GTA ou Red Dead Redemption 2. Enquanto esses títulos oferecem mundos ricos e sistemas interconectados, o jogo da Fallen Tree parece ter focado em muitas mecânicas sem desenvolver nenhuma delas adequadamente.
Até mesmo This Is the Police, um jogo com orçamento muito menor, consegue transmitir melhor a complexidade moral do trabalho policial. The Precinct parece ter ficado em um limbo entre simulação realista e ação arcade, sem se comprometer totalmente com nenhum dos dois estilos.
Com informações do: FlowGames