Papa Leão XIV surpreende ao associar nome papal à inteligência artificial

Em seu primeiro discurso ao Colégio de Cardeais, o recém-eleito Papa Leão XIV causou surpresa ao revelar que a inteligência artificial foi um dos motivos que influenciaram sua escolha de nome papal. A declaração, traduzida oficialmente pelo Vaticano, marca o início de um pontificado que promete dar atenção especial às transformações tecnológicas e seus impactos na sociedade.

Robert Prevost, agora conhecido como Leão XIV, explicou que seu nome homenageia diretamente Leão XIII, o pontífice que abordou as mudanças sociais trazidas pela Revolução Industrial. "Assim como meu predecessor enfrentou os desafios de sua época, hoje a Igreja se depara com uma nova revolução - a tecnológica", afirmou.

A Igreja Católica e os desafios éticos da inteligência artificial

A menção explícita à IA no discurso inaugural não foi casual. Nos últimos anos, o Vaticano vem se posicionando ativamente sobre o tema:

  • Em janeiro de 2025, publicou um documento refletindo sobre os limites éticos da inteligência artificial
  • Papa Francisco já havia alertado sobre os riscos da tecnologia criar "narrativas falsas apresentadas como verdadeiras"
  • O Vaticano mantém um grupo de trabalho dedicado a estudar os impactos sociais das novas tecnologias

"A doutrina social da Igreja tem muito a contribuir nesse debate", destacou Leão XIV, referindo-se a questões como dignidade humana, justiça social e o futuro do trabalho na era da automação.

O que esperar do novo pontificado?

Ao vincular sua identidade papal às transformações tecnológicas, Leão XIV sinaliza que a Igreja pretende participar ativamente das discussões globais sobre:

  • Regulamentação ética da inteligência artificial
  • Proteção de direitos humanos na era digital
  • Responsabilidade no desenvolvimento de algoritmos

Especialistas acreditam que o Vaticano pode se tornar um importante ator nas negociações internacionais sobre o tema, trazendo a perspectiva da doutrina social católica para a mesa de debates. Resta saber como essa abordagem se desenvolverá nos próximos anos.

Um precedente histórico: como a Igreja lidou com revoluções tecnológicas

A comparação com Leão XIII não é mero acaso. Em 1891, a encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII estabeleceu os princípios da doutrina social católica diante dos desafios da industrialização. "Estamos diante de uma Rerum Novarum digital", comentou o teólogo Marco Politi em entrevista ao Vatican News. "A Igreja está tentando fazer o que sempre fez: interpretar os sinais dos tempos à luz do Evangelho".

Historiadores lembram que a relação da Igreja com a tecnologia sempre foi complexa:

  • No século XV, a imprensa de Gutenberg foi inicialmente vista com desconfiança antes de se tornar ferramenta para difusão da fé
  • No século XX, Pio XII abraçou o rádio e a televisão como "dons de Deus" para evangelização
  • João Paulo II criou o primeiro site do Vaticano em 1995, quando menos de 1% da população mundial estava online

As vozes críticas dentro da Igreja

Nem todos os setores da Igreja receberam com entusiasmo a ênfase do novo Papa na inteligência artificial. O cardeal Gerhard Müller, prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, advertiu em artigo no L'Osservatore Romano sobre o risco de "tecnoutopias" que ignoram a natureza humana. "A salvação vem de Cristo, não de algoritmos", escreveu.

Por outro lado, jovens sacerdotes como o padre Carlo Maria Galli, coordenador do Digital Mission Center em Roma, defendem que a Igreja precisa "falar a linguagem do século XXI". "Se São Paulo usou as estradas romanas para espalhar o Evangelho, por que não usar as autoestradas digitais?", questionou em recente conferência.

O que dizem os especialistas em tecnologia?

Fora dos círculos eclesiásticos, a declaração do Papa encontrou eco inesperado. Yoshua Bengio, pioneiro da IA e ganhador do Prêmio Turing, elogiou a iniciativa: "Precisamos de vozes éticas fortes nesse debate. Quem melhor do que uma instituição com dois mil anos de reflexão sobre a condição humana?"

Mas nem todos estão convencidos. A cientista de dados Meredith Broussard, autora de Artificial Unintelligence, expressou ceticismo: "A Igreja tem credenciais morais, mas será que entende os detalhes técnicos? Algumas de suas posições sobre privacidade digital, por exemplo, parecem ingênuas diante da complexidade dos sistemas atuais".

Enquanto isso, no laboratório de ética tecnológica da Universidade Gregoriana, pesquisadores já trabalham em um documento que pretende estabelecer "princípios para uma IA humanocêntrica". O projeto, que conta com a participação de engenheiros, filósofos e teólogos, deve ser apresentado em 2026.

Com informações do: Olhar Digital