
Os veículos elétricos estão conquistando as ruas brasileiras, mas essa popularidade crescente vem com um efeito colateral preocupante: o interesse criminoso por esses modelos. Em São Paulo, os números são alarmantes - roubos e furtos mais que dobraram no primeiro trimestre de 2025 em comparação com 2024.
O mercado negro de peças para veículos elétricos
Segundo dados da Ituran, empresa especializada em rastreamento, foram registrados 34 casos apenas nos três primeiros meses deste ano. Para entender a dimensão, esse número já supera os 33 casos de todo o ano de 2023. Mas o que está por trás desse aumento?

Fernando Correia, gerente de operações da Ituran, aponta para o surgimento de um mercado clandestino de peças: "Ainda não são vendidas em desmanches, mas podem estar sendo comercializadas pela internet. Há relatos de espera pela importação de peças". A escassez de componentes no mercado legal estaria alimentando essa economia paralela.
Os modelos mais visados
O levantamento revela um padrão claro nas preferências dos criminosos:
Toyota Corolla Cross HEV lidera com 25 ocorrências (73,5% do total)
BYD Dolphin EV aparece em segundo lugar com oito casos
Motos elétricas como Voltz EV01 e Mottu-E também são alvos frequentes

Curiosamente, 55,28% dos casos são roubos (com violência) e 44,72% furtos. Essa proporção difere da média geral de veículos, sugerindo que os sistemas de segurança dos elétricos podem estar desafiando os criminosos.
Apesar do crescimento expressivo, vale destacar que esses casos ainda representam menos de 0,3% do total de roubos e furtos de veículos na capital paulista. Mas a tendência ascendente preocupa especialistas e proprietários.
Fatores que tornam os elétricos alvos atraentes
Especialistas em segurança automotiva apontam três razões principais para o aumento de crimes envolvendo veículos elétricos:
Alto valor das baterias: O componente mais caro desses veículos pode valer até 40% do preço total do carro no mercado paralelo
Dificuldade de rastreamento: Muitos sistemas antifurto tradicionais não foram adaptados para a arquitetura elétrica desses veículos
Demanda por peças específicas: A escassez global de semicondutores afeta especialmente o mercado de reposição para elétricos
Carlos Mendes, especialista em segurança veicular, explica: "Os criminosos estão se profissionalizando. Eles sabem que uma bateria de íon-lítio de 60 kWh pode ser revendida por até R$ 80 mil no mercado ilegal". Esse valor representa cerca de 10 vezes o lucro médio com peças de um carro convencional.
Como as montadoras estão reagindo
As fabricantes começam a implementar medidas específicas para proteger seus modelos elétricos:
\\\\\\\\\\\A BYD, por exemplo, anunciou um novo sistema de bloqueio remoto que desativa a bateria completamente em caso de furto. Já a Toyota está testando um dispositivo que injeta tinta indelével nos componentes principais quando detecta acesso não autorizado.
Enquanto isso, seguradoras começam a ajustar suas políticas. Algumas exigem agora a instalação de rastreadores específicos para elétricos, com tecnologia que monitora não só a localização, mas também o estado da bateria e outros componentes críticos.
O perfil dos criminosos está mudando
Dados preliminares sugerem que os roubos de elétricos estão sendo cometidos por quadrilhas mais especializadas, diferente dos criminosos que atuam com veículos convencionais. A delegada Ana Lúcia Ferreira, da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos de São Paulo, revela:
"Estamos identificando grupos com conhecimento técnico específico. Eles sabem como desativar sistemas de segurança avançados e muitas vezes têm compradores internacionais para as peças".
Esse cenário levou a Polícia Civil a criar uma força-tarefa específica para investigar crimes contra veículos elétricos, com agentes treinados em tecnologia automotiva avançada.
GePeTo
Com informações do: Olhar Digital