Em um mercado onde a inovação constante parece ser a regra, a Nintendo segue um caminho diferente - e extremamente bem-sucedido. Um veterano da indústria dos games recentemente destacou que a empresa japonesa não tem pressa em criar novas franquias, preferindo instead reformular e reinventar seus jogos clássicos com novas mecânicas de gameplay. Essa abordagem, longe de ser um sinal de falta de criatividade, revela uma estratégia inteligente que mantém os fãs sempre ansiosos pelo próximo lançamento.

A estratégia da Nintendo com franquias consolidadas

O que muitos podem ver como relutância em inovar, na verdade é uma masterclass em como gerenciar propriedades intelectuais. A Nintendo possui um catálogo tão rico e diversificado que praticamente qualquer gênero de jogo pode ser abordado através de uma de suas franquias existentes. Pense bem: quando a empresa quis criar um shooter competitivo, ela não inventou um novo IP - ela nos deu Splatoon. Quando decidiu explorar o mundo dos jogos de luta, adaptou Super Smash Bros.

E isso não é por acaso. A Nintendo entende melhor do que ninguém o valor emocional que esses personagens carregam. Mario não é apenas um encanador bigodudo - é uma lembrança da infância de milhões de jogadores. Zelda não é apenas uma princesa - é parte da história dos videogames. Essa conexão emocional é algo que leva décadas para construir e que nenhuma franquia nova pode replicar overnight.

O renascimento de títulos esquecidos

Um dos pontos mais interessantes levantados pelo veterano da indústria é sobre os títulos "esquecidos" da Nintendo. Franquias como F-Zero, Advance Wars ou mesmo EarthBound não foram abandonadas - elas simplesmente aguardam o momento certo e a ideia certa para retornarem. A Nintendo tem o luxo de poder esperar até que uma equipe interna tenha uma visão realmente inovadora para trazer de volta essas séries adormecidas.

E quando isso acontece, o resultado costuma ser espetacular. Veja o caso de Metroid Dread - após 19 anos desde o último jogo 2D da série, a volta de Samus em formato sidescrolling foi aclamada pela crítica e pelos fãs. Ou Kid Icarus: Uprising, que ressuscitou uma franquia que estava dormente desde os anos 90. A paciência da Nintendo em esperar pela ideia certa, em vez de forçar sequências desnecessárias, é parte do que mantém a qualidade de seus jogos consistentemente alta.

Inovação dentro do familiar

O que me fascina na abordagem da Nintendo é como eles conseguem balancear familiaridade e inovação. Cada novo The Legend of Zelda traz mecânicas revolucionárias - seja a exploração aérea em Skyward Sword, a transformação do mundo em A Link Between Worlds ou a física sandbox de Breath of the Wild. Mesmo assim, a essência do que faz Zelda ser Zelda permanece intacta.

Super Mario Odyssey é outro exemplo brilhante. A mecânica de possessão com o Chapéu Cappy mudou completamente a forma como interagimos com o mundo, oferecendo possibilidades praticamente infinitas de gameplay. Ainda assim, o jogo mantém a essência dos jogos do bigodudo: plataforma precisa, level design criativo e aquela sensação de pura diversão que define a série desde o NES.

E você? Concorda que a Nintendo não precisa criar novas franquias, ou acha que a empresa deveria arriscar mais em IPs completamente originais?

O valor da nostalgia e da inovação incremental

O que realmente impressiona na estratégia da Nintendo é como eles transformam nostalgia em inovação. Em vez de simplesmente relançar os mesmos jogos com gráficos melhores - algo que outras empresas fazem constantemente - a Nintendo repensa fundamentalmente como essas experiências podem funcionar na era moderna. Take Mario Kart 8 Deluxe, por exemplo. O jogo não é apenas uma coletânea de pistas clássicas; é uma reimaginação completa da física de corrida, com novos elementos como antigravidade que mudam completamente a dinâmica das corridas.

E falando em inovação, como não mencionar a forma como a Nintendo usa seus hardware para inspirar novas jogabilidades? O Nintendo DS nos deu títulos como The Legend of Zelda: Phantom Hourglass, que usava a tela touch de maneira revolucionária para controle e puzzles. O Wii introduziu motion controls que redefiniram como interagimos com jogos através de Wii Sports. Até o modesto Nintendo 3DS trouxe experiências únicas com seu 3D sem óculos. Cada console da empresa serve como laboratório para experimentar novas formas de jogar dentro de franquias estabelecidas.

O Switch talvez seja o exemplo máximo dessa filosofia. Um console que é tanto portátil quanto de mesa, permitindo que jogos como The Legend of Zelda: Breath of the Wild ofereçam experiências épicas em qualquer lugar. A flexibilidade dos Joy-Cons abriu espaço para títulos como 1-2-Switch e Ring Fit Adventure, que mesmo sendo novos, sentem-se completamente alinhados com a identidade da Nintendo de acessibilidade e inovação.

O equilíbrio entre risco e tradição

Algo que muitas pessoas não percebem é que a Nintendo constantemente assume riscos criativos enormes - só que dentro de suas franquias existentes. Pense na coragem que foi lançar The Legend of Zelda: Breath of the Wild, um jogo que basicamente jogou fora três décadas de fórmula Zelda para criar algo completamente novo. Ou Super Mario Galaxy, que levou a plataforma tridimensional a direções literalmente cósmicas. Esses não são movimentos de uma empresa conservadora; são apostas ousadas disfarçadas de sequências familiares.

E quando a Nintendo decide criar algo novo, geralmente é porque identificou uma lacuna em seu catálogo que nenhuma franquia existente poderia preencher adequadamente. Arms não era apenas mais um jogo de luta - era uma exploração específica do motion control que não faria sentido como um capítulo de Super Smash Bros. Da mesma forma, Splatoon preencheu o vazio de shooters coloridos e acessíveis que apelavam para audiências mais jovens, algo que não combinaria com a estética mais séria de Metroid.

Na minha experiência acompanhando a indústria, poucas empresas entendem tão bem seu próprio DNA criativo. A Nintendo sabe exatamente quando inovar radicalmente e quando entregar a experiência clássica que os fãs esperam. É uma dança delicada entre surpreender e satisfazer, e eles são mestres nela.

O papel das equipes internas na evolução das franquias

Parte do sucesso dessa estratégia vem da forma como a Nintendo estrutura seus estúdios internos. Diferente de muitas publishers que terceirizam o desenvolvimento de sequências, a Nintendo mantém um controle criativo rigoroso sobre suas principais franquias. A EPD Tokyo não simplesmente faz jogos do Mario - eles vivem e respiram a evolução da plataforma 3D. A equipe que trabalha em Zelda não está apenas produzindo outro jogo de ação e aventura; estão curando uma experiência que define gerações.

Essa especialização profunda permite que cada equipe entenda intimamente o que torna sua franquia especial, enquanto se mantém aberta a influências externas e novas ideias. O resultado são jogos que sentem-se simultaneamente familiares e revolucionários. É como assistir a uma banda favorita evoluir seu som ao longo dos anos - você ainda reconhece a essência, mas fica maravilhado com as novas direções.

E não podemos ignorar como a Nintendo frequentemente permite que suas equipes menores experimentem dentro de franquias secundárias antes de escalar essas ideias para títulos principais. Muitas mecânicas que vemos em jogos como Super Mario Odyssey ou The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom foram primeiro testadas em títulos portáteis ou spin-offs. É um processo iterativo que garante que apenas as melhores ideias cheguem aos blockbusters.

Você já parou para pensar como seria o mercado de games se mais empresas seguissem essa filosofia em vez de correr atrás de cada nova tendência? Talvez teríamos menos franquias abandonadas e mais evoluções significativas daquelas que já amamos.

Com informações do: IGN Brasil