NVIDIA busca alternativas para manter presença no mercado chinês

A NVIDIA está sendo forçada a abandonar sua arquitetura de ponta para continuar fornecendo aceleradores de IA para a China, conforme revelado pelo próprio CEO da empresa. Jensen Huang, fundador e líder da NVIDIA, confirmou recentemente que a sucessora do chip H20 para o mercado chinês não será baseada na arquitetura Hopper. A informação, inicialmente divulgada pela TV taiwanesa, foi reportada pela Reuters e mostra a determinação da empresa em não abandonar o estratégico mercado chinês.

NVIDIA

Para entender o contexto atual, vale recapitular a trajetória das restrições americanas aos produtos NVIDIA na China. Os modelos H100 e H200, principais representantes da arquitetura Hopper, foram rapidamente barrados para exportação. Em resposta, a NVIDIA desenvolveu a versão H800 em março de 2023, adaptada para cumprir as sanções dos EUA. Mas o jogo de gato e rato continuou: quando essas soluções alternativas também foram proibidas, surgiu a H20 - uma versão ainda mais limitada do chip Hopper que, mesmo assim, encontrou demanda significativa no mercado chinês.

O fim da linha para a arquitetura Hopper na China

Com o recente bloqueio das H20 pelo governo americano, a NVIDIA parece ter chegado ao limite do que pode extrair da arquitetura Hopper. "Não será Hopper, porque é impossível modificar a Hopper ainda mais", afirmou Huang, segundo os relatos. Essa declaração marca um ponto de virada na estratégia da empresa para o mercado chinês.

O que poucos esperavam é que as restrições poderiam levar a NVIDIA a repensar até mesmo o uso de memórias HBM (High Bandwidth Memory) em seus próximos produtos para a China. As autoridades americanas mencionaram especificamente a banda de memória das H20 como parte da justificativa para o bloqueio, o que sugere que a empresa pode optar por tecnologias alternativas como a GDDR7 em futuros desenvolvimentos.

Essa mudança faria sentido técnico, já que a arquitetura Hopper foi projetada especificamente para trabalhar com memórias HBM. Ao adotar uma abordagem diferente, a NVIDIA teria mais flexibilidade para contornar as restrições sem comprometer totalmente o desempenho dos chips.

As opções que restam para a NVIDIA

Diante desse cenário, a NVIDIA se vê diante de um dilema técnico e comercial. A arquitetura mais recente, Blackwell, é voltada principalmente para GPUs domésticas e aplicações profissionais menos avançadas. Já a geração Ada Lovelace, anterior à Hopper, emerge como uma opção viável - especialmente por seu suporte a NVLink, tecnologia crucial para o uso escalável de múltiplas GPUs em aplicações de IA.

Enquanto a NVIDIA busca soluções, a concorrência não para. A Huawei, por exemplo, já apresentou seu chip Ascend 920, claramente posicionado para preencher o vácuo deixado pelas restrições às soluções NVIDIA. E antes das sanções, empresas chinesas já haviam feito encomendas bilionárias dos chips H20, mostrando a dimensão do mercado em jogo.

Impacto nas estratégias de desenvolvimento da NVIDIA

A necessidade de criar chips específicos para a China está forçando a NVIDIA a repensar sua estratégia de desenvolvimento de produtos. Tradicionalmente, a empresa desenvolvia arquiteturas unificadas para todos os mercados, com pequenas variações regionais. Agora, parece estar caminhando para um modelo de desenvolvimento paralelo - uma linha principal para mercados globais e outra adaptada especificamente para as restrições chinesas.

Fontes próximas à empresa sugerem que a equipe de engenharia já estaria trabalhando em uma arquitetura derivada, possivelmente baseada em Ada Lovelace, mas com modificações profundas para atender tanto às limitações impostas pelo governo americano quanto às demandas do mercado chinês. Essa abordagem, embora mais cara, pode se tornar necessária para manter a relevância no segundo maior mercado de IA do mundo.

Reação do mercado chinês às restrições

Enquanto isso, na China, as empresas de tecnologia estão adotando estratégias diversas para lidar com a escassez de chips NVIDIA. Algumas, como a Alibaba e a Tencent, estão acelerando investimentos em soluções alternativas, incluindo:

  • Desenvolvimento de chips próprios baseados em arquiteturas RISC-V

  • Parcerias com fabricantes locais como a Huawei e a Biren

  • Adaptação de algoritmos de IA para rodar em hardware menos potente

Curiosamente, essa situação pode estar criando um efeito colateral inesperado: o surgimento de um ecossistema de IA mais diversificado na China. Com menos acesso às soluções padronizadas da NVIDIA, empresas chinesas estão sendo forçadas a inovar, o que pode levar a avanços em áreas como compressão de modelos e eficiência computacional.

O papel crucial do software na disputa por hardware

Um aspecto frequentemente negligenciado nessa disputa é o ecossistema de software da NVIDIA. Mesmo que a empresa consiga desenvolver chips alternativos para a China, o CUDA e outras tecnologias proprietárias continuam sendo diferenciais importantes. A pergunta que muitos estão fazendo é: até que ponto as restrições americanas podem afetar também o acesso a essas plataformas de software?

Alguns analistas acreditam que a NVIDIA pode tentar manter sua vantagem competitiva na China através de:

  • Versões modificadas de suas bibliotecas de software

  • Parcerias com universidades e centros de pesquisa chineses

  • Investimentos em ferramentas de conversão que facilitem a migração para suas novas arquiteturas

Enquanto isso, a Huawei vem promovendo agressivamente seu ecossistema MindSpore como alternativa ao CUDA, embora ainda enfrente desafios significativos em termos de adoção e compatibilidade.

O futuro incerto das exportações de tecnologia

A situação da NVIDIA na China reflete uma tendência mais ampla de fragmentação do mercado global de tecnologia. Com as tensões geopolíticas mostrando poucos sinais de diminuição, muitas empresas estão sendo forçadas a desenvolver estratégias duplas - uma para mercados ocidentais e outra para a China. Isso representa um desafio logístico e financeiro significativo, especialmente para empresas como a NVIDIA que tradicionalmente dependiam de economias de escala.

Especialistas em comércio internacional alertam que o caso NVIDIA pode ser apenas o primeiro de muitos. Setores como computação quântica, biotecnologia e energia limpa podem enfrentar desafios semelhantes nos próximos anos, criando um cenário onde a inovação tecnológica se torna cada vez mais vinculada a considerações geopolíticas.

Com informações do: Adrenaline