O legado do Civic no mercado brasileiro

O Honda Civic é um dos modelos de maior sucesso global desde seu lançamento em 1972. No Brasil, sua história começou oficialmente em outubro de 1997, quando foi nacionalizado, e seguiu até o fim de 2021 com a décima geração (G10), lançada aqui em agosto de 2016. Atualmente, o Civic retornou ao mercado brasileiro como importado - versão híbrida e:HEV vinda da Tailândia e a esportiva Type R do Japão - mas sem alcançar a mesma popularidade de antes: apenas 478 unidades emplacadas entre janeiro e abril deste ano.

Apesar da idade, seu visual ainda é bonito e chama atenção por onde passaFernando Pires/Quatro Rodas

Versões e características da G10

A linha do Civic G10 oferecia quatro versões principais:

  • Sport: única com opção de câmbio manual de seis marchas e grade preta

  • EX: grade cromada, bancos de couro e faróis com sensor

  • EXL: ar-condicionado automático, painel TFT e multimídia de 7 polegadas

  • Touring: topo de linha com motor 1.5 turbo de 173 cv

As três primeiras versões vinham com o motor R20Z1 2.0 i-VTEC FlexOne de até 155 cv. O porta-malas generoso de 519 litros resolvia uma das principais críticas às gerações anteriores, enquanto a dirigibilidade excelente, robustez e suspensão traseira multibraço continuavam sendo pontos fortes.

No mercado de usados, a versão EXL se revela particularmente interessante - oferece faróis de LED e mais equipamentos por um preço similar ao EX. "No frigir dos ovos", como dizem os especialistas, vale mais a pena investir nela do que na EX.

Problemas comuns e manutenção

Nenhum carro é perfeito, e o Civic G10 tem seus pontos fracos:

  • Travas de pastilhas: podem apresentar folga com o tempo, causando ruídos desagradáveis

  • Bieletas: suscetíveis a folgas precoces na suspensão dianteira

  • Teto solar (nas Touring): mecanismo pode apresentar ruídos

  • Rolamentos traseiros: desgaste prematuro em alguns casos

Interior do Civic

Interior espaçoso, mas com multimídia defasada em versões mais antigasArte/Quatro Rodas

Outras reclamações comuns incluem o câmbio CVT um tanto lento nas respostas, ar-condicionado com desempenho fraco em dias muito quentes e a facilidade com que a traseira raspa no solo quando o carro está carregado. Ainda assim, são problemas pontuais que não comprometem a experiência geral com o veículo.

Custo-benefício no mercado atual

Um dos aspectos mais interessantes do Civic G10 usado é seu valor de revenda. Mesmo anos após seu lançamento, mantém boa liquidez no mercado de seminovos. E o mais surpreendente: modelos usados da G10 podem ser encontrados por preços mais atraentes que um Honda City zero-quilômetro.

Comparativo Civic e concorrentes

O Civic mantém seu apelo mesmo frente a concorrentes mais novosChristian Castanho/Quatro Rodas

Comparação direta com o City e outros concorrentes

Quando colocamos lado a lado o Civic G10 usado e um City novo na faixa dos R$ 120 mil, as diferenças vão além do preço. O Civic oferece:

  • Maior espaço interno: especialmente para passageiros traseiros

  • Porta-malas mais generoso: 519 litros contra 506 do City

  • Dirigibilidade superior: suspensão multibraço traseira que o City não possui

  • Motor mais potente: mesmo o 2.0 aspirado supera o 1.5 turbo do City em resposta

Mas e os concorrentes diretos? Um Corolla da mesma época custa em média 15% a mais, enquanto um Jetta TSI mantém valores similares, porém com manutenção mais cara. O que poucos sabem: o Civic tem um dos menores índices de desvalorização na categoria.

O que observar ao comprar um exemplar usado

Antes de fechar negócio em um Civic G10, alguns detalhes merecem atenção redobrada:

Histórico de manutenção: verifique se as revisões foram feitas em concessionárias ou oficinas especializadas. O motor i-VTEC é robusto, mas exige trocas de óleo regulares com produto de qualidade.

Teste de suspensão: leve o carro em uma via irregular e preste atenção a barulhos na dianteira. As bieletas são itens de desgaste comum, mas fáceis de substituir.

Sistema multimídia: nas versões EXL e Touring, confira se a tela de 7 polegadas funciona perfeitamente. Em alguns casos, pode apresentar lentidão ou falhas no touchscreen.

E o motor turbo da Touring? Apesar dos 173 cv, é menos problemático do que se imagina. "Desde que o dono anterior tenha respeitado os intervalos de troca de óleo e usado combustível de qualidade, dificilmente dará dor de cabeça", explica um mecânico especializado em Honda que prefere não se identificar.

Personalização e upgrades populares

O Civic G10 é um prato cheio para quem gosta de personalizar o carro sem gastar fortunas. Algumas modificações comuns incluem:

  • Rodas: upgrade para aros 18" (mesma medida da Touring)

  • Retrovisores: instalação dos espelhos com seta em LED, como os do Accord

  • Iluminação: troca das lâmpadas internas por LEDs

  • Suspensão: kits de molas esportivas para reduzir o vão da roda

Mas atenção: quem pretende mexer na suspensão deve considerar que o Civic já tem um comportamento esportivo de fábrica. "Muitos clientes arrependem-se de colocar molas muito baixas, pois o carro perde conforto e começa a raspar em quebra-molas", alerta o proprietário de uma loja de acessórios em São Paulo.

Consumo e eficiência energética

Dados oficiais do Inmetro mostram que o Civic 2.0 flex faz:

  • Na cidade: 9,4 km/l (gasolina) e 6,7 km/l (álcool)

  • Na estrada: 13,2 km/l (gasolina) e 9,4 km/l (álcool)

Já a versão 1.5 turbo da Touring apresenta números ligeiramente melhores - cerca de 10% mais econômica em ciclo urbano. Na prática, porém, muito depende do pé do motorista. O câmbio CVT ajuda na eficiência, mas pode frustrar quem espera respostas mais esportivas.

E os híbridos? Apesar de existirem no mercado internacional, o Brasil nunca recebeu essa versão da G10. Quem busca economia extrema precisará esperar pela atual geração importada - que, como mencionado, tem vendas modestas por aqui.

Com informações do: Quatro Rodas