GWM Poer: estratégia dual no mercado brasileiro
A GWM está prestes a diversificar sua oferta no Brasil com a chegada da picape média Poer ainda em 2025. Em uma jogada estratégica, a montadora chinesa decidiu oferecer duas versões distintas: uma com motor turbodiesel e outra híbrida plug-in. Essa dualidade reflete uma compreensão aguçada do mercado brasileiro, onde picapes a diesel ainda dominam as vendas, enquanto veículos eletrificados ganham espaço gradualmente.

Durante testes realizados na China após o Salão de Xangai, ficou evidente que cada configuração atende a públicos distintos. As versões diesel, equipadas com um novo motor 2.4 turbodiesel que entrega 184 cv e 48,9 kgfm (valores que podem ser ajustados para o mercado brasileiro), são voltadas para quem busca robustez e tradição no segmento. Já as híbridas plug-in combinam um motor 2.0 turbo a gasolina com dois motores elétricos, somando impressionantes 408 cv e 76,5 kgfm - números que colocam a Poer em posição de destaque no segmento.
Diferenças que vão além da mecânica
As duas versões da Poer não se diferenciam apenas sob o capô. Visualmente, as diesel apresentam faróis menores, grade mais estreita e lanternas mais discretas, enquanto as híbridas seguem um design mais ousado, com grandes faróis quadrados e capô reto, herdando características das Poer Sahar vendidas em outros mercados.

O interior também reflete essa divisão. Nas versões diesel, o acabamento é mais simples, com painel de instrumentos de 10 polegadas e central multimídia de 12,3 polegadas. Já as híbridas oferecem um painel digital mais sofisticado, head-up display e central multimídia de 14,6 polegadas, além de acabamentos premium como imitação de madeira e bancos elétricos com múltiplos ajustes.
Versão diesel: foco em robustez e capacidade de carga (mais de 1.000 kg)
Versão híbrida: tecnologia e conforto, com capacidade de carga reduzida (cerca de 750 kg)
Design diferenciado entre as versões
Interiores com níveis distintos de acabamento e tecnologia
Produção nacional e estratégia de mercado
A GWM ainda não definiu qual versão chegará primeiro ao mercado brasileiro. As primeiras unidades serão importadas da China, com produção local começando em 2026 na fábrica de Iracemápolis (SP), mesma unidade que produz o Haval H6. A expectativa é que a Poer ocupe a faixa de preço entre R$ 270 mil e R$ 340 mil, posicionando-se como alternativa às tradicionais picapes médias do mercado.

Curiosamente, enquanto a versão diesel foi avistada em testes no Brasil recentemente, a híbrida pode chegar primeiro para pavimentar o caminho da marca no segmento. Essa estratégia reflete o duplo desafio da GWM: conquistar os tradicionalistas do diesel enquanto se posiciona como inovadora no campo da eletrificação.
Desempenho e tecnologia: o que esperar de cada versão
Os testes preliminares realizados na China revelaram características marcantes em cada configuração da Poer. A versão diesel, com seu torque generoso disponível em baixas rotações, mostrou-se ideal para quem precisa de tração constante em terrenos acidentados ou para rebocar cargas. O motor 2.4 turbodiesel apresenta uma curva de torque plana entre 1.500 e 2.500 rpm, garantindo resposta imediata mesmo quando carregada.

Já a versão híbrida plug-in, batizada de Hi4T, impressiona com sua aceleração de 0 a 100 km/h em cerca de 6 segundos - desempenho incomum para uma picape média. O sistema híbrido permite cerca de 100 km de autonomia apenas com a bateria, ideal para deslocamentos urbanos, enquanto o modo híbrido garante até 800 km de alcance total. A transmissão automática de 9 velocidades nas versões diesel contrasta com o câmbio automático de dupla embreagem nas híbridas, oferecendo experiências de condução distintas.
Capacidade off-road e diferenciais competitivos
A GWM equipou a Poer com sistemas que prometem competir de igual para igual com rivais estabelecidas. Ambas as versões trazem tração 4x4 com redução, bloqueio do diferencial traseiro e sete modos de condução (incluindo areia, lama e rochas). A suspensão dianteira independente e a traseira com eixo rígido garantem equilíbrio entre conforto e capacidade de carga.
Ângulos de ataque (31°), saída (25°) e transposição (22°) competitivos no segmento
Altura do solo de 224 mm na versão diesel e 214 mm na híbrida
Sistema de monitoramento off-road com câmera de 360 graus
Controle de descida em rampas e assistente para subidas íngremes
Curiosamente, a versão híbrida traz um diferencial tecnológico único: o modo "tank turn" (giro no próprio eixo), possível graças ao controle independente dos motores elétricos traseiros. Esse recurso, até então visto apenas em veículos premium como o Hummer EV, pode ser um trunfo de marketing importante para a GWM no Brasil.
Posicionamento no mercado brasileiro
Analistas apontam que a estratégia de preços da Poer pode desestabilizar o segmento de picapes médias. Com valores projetados entre R$ 270 mil e R$ 340 mil, ela se posiciona abaixo das principais concorrentes, como Toyota Hilux e Ford Ranger, mas com equipamentos de série que essas só oferecem nas versões topo de linha. A GWM parece apostar no conceito de "mais por menos", combinando tecnologia e acabamento premium com preços competitivos.
O desafio logístico também é significativo. Enquanto a produção não começar em Iracemápolis, a GWM precisará gerenciar os prazos de entrega e a disponibilidade de peças para manutenção. Fontes da montadora indicam que já estão sendo treinados técnicos especializados nas unidades híbridas, tecnologia ainda pouco difundida nas oficinas brasileiras. A rede de concessionários, que hoje conta com cerca de 60 pontos, deve expandir para 100 até o lançamento da Poer.
Outro ponto estratégico é a garantia. A GWM estuda oferecer 5 anos ou 150 mil km de cobertura, superando a maioria das concorrentes. Para as baterias da versão híbrida, a expectativa é de 8 anos ou 200 mil km, alinhando-se aos padrões globais para veículos eletrificados. Essa política pode ser decisiva para conquistar consumidores ainda céticos sobre a durabilidade dos produtos chineses no Brasil.
Com informações do: Quatro Rodas